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Uruguai demite cúpula militar por omitir crime da ditadura

1 de abril de 2019

Ex-oficial confessou ter jogado corpo de ativista no rio durante a ditadura militar, mas não foi condenado. Presidente demite ministro da Defesa, chefe do Exército e outras autoridades acusadas de ignorar confissão.

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez
Presidente do Uruguai estaria muito chateado por não ter sido avisado do conteúdo da confissãoFoto: Rojo/AFP/Getty Images

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, decidiu demitir nesta segunda-feira (01/04) seu ministro da Defesa, Jorge Menéndez, e autoridades da cúpula militar do país acusadas de terem se omitido diante da confissão de um ex-oficial sobre crimes cometidos durante a ditadura militar.

O escândalo foi revelado neste fim de semana pelo jornal uruguaio El Observador. Segundo o diário, o ex-militar José Nino Gavazzo confessou ao Tribunal de Honra do Exército ter jogado em um rio, em 1973, o corpo do guerrilheiro Roberto Gomensoro. O ativista é considerado o primeiro desaparecido político da ditadura uruguaia, que se estendeu de 1973 a 1985.

A confissão, feita no ano passado, foi ignorada, e o tribunal concluiu que os atos de Gavazzo "não representaram uma afronta à honra" do Exército. A decisão foi homologada pelo Poder Executivo.

Segundo o Observador, o presidente uruguaio teria ficado muito chateado por não ter sido informado da confissão de Gavazzo, incluída nas atas do Tribunal de Honra. A assinatura de Vázquez aparece na homologação da decisão da corte ao lado da do vice-ministro da Defesa, Daniel Montiel, que assumia a pasta interinamente enquanto Menéndez estava de licença médica.

Além de Menéndez, Montiel também foi destituído do cargo nesta segunda-feira. O escândalo levou ainda à demissão do recém-nomeado chefe do Exército, José González, e dos generais Gustavo Fajardo e Alfredo Erramún. Esses três militares são os integrantes do Tribunal de Honra que assinaram a decisão sobre Gavazzo.

Uma fonte do alto escalão do Ministério da Defesa disse ao Observador que não sabia sobre a confissão de Gavazzo, sugerindo que o assunto não era algo difundido na cúpula da pasta.

Montiel, por sua vez, disse ao jornal uruguaio que não teve tempo de ler a reportagem que revelou a confissão do ex-militar, e se recusou a responder se ele e o ministro Menéndez já tinham conhecimento sobre os depoimentos de Gavazzo.

Nesta segunda-feira, o Ministério Público uruguaio nomeou um oficial para investigar a possível omissão por parte das autoridades do país em relação à confissão de Gavazzo.

José Gavazzo foi um reconhecido torturador durante a ditadura militar no Uruguai, tendo sido condenado por 28 homicídios. Em depoimento ao tribunal militar no ano passado, ele confessou ter sido o encarregado de desaparecer com o corpo de Roberto Gomensoro, além de reconhecer que mentiu à Justiça sobre o caso anteriormente.

Ao mesmo Tribunal de Honra, o ex-militar Jorge "Pajarito" Silveira foi além: disse que Gavazzo não só jogou o corpo de Gomensoro no rio, mas também foi quem matou o ativista. Gomensoro foi preso pelas forças militares em 12 de março de 1973, e seu corpo foi encontrado seis dias depois nas águas do rio Negro, na região central do país.

Segundo Silveira, Gavazzo teria sido também responsável pela morte de outro militante detido, bem como pelo desaparecimento de María Claudia García de Gelman. O ex-militar acusou Gavazzo de não ter "masculinidade suficiente" para assumir seus atos.

Apesar dos depoimentos, o Tribunal de Honra não puniu os acusados pelos crimes, apenas os repreendeu por terem permitido que o coronel Juan Carlos Gómez ficasse três anos preso pelo assassinato de Gomensoro, mesmo sabendo que ele era inocente.

Após o escândalo, vários políticos da Frente Ampla, partido esquerdista de Vázquez, pressionaram durante o fim de semana pela renúncia de González do comando do Exército.

González havia sido nomeado chefe do Exército pelo presidente em 12 de março, assumindo o cargo alguns dias depois. O comandante anterior, Guido Manini Ríos, foi destituído por Vázquez após ter feito críticas à Justiça do país. Em 2018, Ríos chegou a ser punido pelo governo com uma prisão de 30 dias, tendo esse sido o primeiro embate entre o presidente e os militares.

EK/afp/efe/ots

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