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Uruguai vai para segundo turno da eleição presidencial

27 de outubro de 2014

Sem maioria absoluta, líder Tabaré Vázquez, da coalizão de governo Frente Ampla, terá que enfrentar conservador Luis Lacalle Pou. Segundo colocado tem chances se convencer o eleitorado das demais legendas.

Tabaré Vázquez representa continuidade política no UruguaiFoto: picture-alliance/dpa

Os uruguaios terão que esperar até 30 de novembro próximo para decidir quem será seu novo chefe de Estado. Embora tenha vencido o escrutínio deste domingo (26/10), o socialista Tabaré Vázquez não alcançou a maioria absoluta exigida, tornando necessário um segundo turno na eleição presidencial.

Segundo dados oficiais preliminares, o político de 74 anos, que já foi presidente de 2005 a 2010, obteve 47,8% dos votos, com a apuração de cerca de 98% do total. Ele é o candidato da coalizão governamental Frente Ampla. Integrada por socialistas, marxistas, social-democratas, cristãos e cidadãos sem partido, ela se impôs em 11 dos 19 departamentos em que se divide o país.

Após o anúncio dos primeiros resultados, milhares de adeptos de Vázquez se reuniram no centro da capital Montevidéu, agitando bandeiras e ao som de buzinas. A Constituição uruguaia não permite que o atual presidente, José Mujica, muito apreciado pela população, concorresse a mais um mandato.

Chance para o Partido Nacional

Vázquez enfrentará no segundo turno o conservador Luis Lacalle Pou, de 41 anos. Seu Partido Nacional alcançou 31,1% dos votos, vencendo, em princípio, em cinco departamentos – antes de que se dispusessem dos dados detalhados dos dois principais distritos eleitorais, Montevidéu e Canelones, assim como dos de Salto.

O terceiro lugar coube a Pedro Bordaberry, do Partido Colorado, também de tendência conservadora, com 13% das urnas – uma significativa queda em relação ao pleito de 2009, do qual saiu com 17,2%.

Luis Lacalle Pou tem esperança em alianças com outros partidos minoritáriosFoto: picture-alliance/dpa/landov

A única chance para o Partido Nacional no segundo turno será conquistar para si o eleitorado de Bordaberry. Este já prometeu apoiar Lacalle Pou, ainda no domingo, diante dos primeiros resultados. O filho do ex-presidente Luis Alberto Lacalle disse que "continua havendo esperança" e que vai falar com todos. Lacalle Pou disse ainda apostar nos eleitores de outras facções.

Cânabis ameaçada

O comparecimento às urnas é obrigatório no Uruguai: de seus 3,3 milhões de habitantes, 2,6 milhões estavam convocados para as atuais eleições. No domingo também transcorreu o pleito legislativo. Prognósticos apontam que a coalizão de esquerda deverá perder sua atual maioria.

Isso poderá colocar novamente em xeque a . Em dezembro de 2013, o país se afirmou como pioneiro mundial, ao liberar tanto o cultivo doméstico da cânabis quanto sua venda em farmácias e outros locais. A intenção do governo Mujica era criar um mercado regulamentado e assim desarticular ao menos parte do narcotráfico uruguaio.

Nesta terça-feira se inicia o escrutínio definitivo que definirá a composição do novo congresso bicameral de 31 senadores – inclusive o vice-presidente do país – e 99 deputados.

Mudança de agenda?

Segundo o analista Carlos Castillos, da agência de notícias DPA, com o ingresso na Câmara dos Deputados de legendas localizadas à esquerda da coalizão governamental, deverão retornar à agenda política temas como dúvida externa, soberania estatal e ecologia – ignorados nos últimos anos.

Liberalização da maconha foi conquista de governo MujicaFoto: picture-alliance/dpa

A Assembleia Popular (AP) e o Partido Ecologista, Radical e Intransigente (Peri) passarão a ocupar entre dois e três assentos na Câmara. Composta por dissidentes da Frente Ampla, a AP se autodenomina "a verdadeira esquerda". Segundo seu ex-candidato presidencial, Gonzalo Abella, ambas as facções aproveitarão "para falar dessas coisas e mitigar algo dos impactos mais terríveis do que está por vir".

O Peri é liderado pelo engenheiro agrônomo César Vega, também saído da Frente Ampla, como Abella. O ativista considera "prioritária" a defesa do meio ambiente e da natureza diante das atuais agressões. Por isso, fará "finca-pé fundamental nessas premissas", prometeu.

Ambas as legendas têm denunciado reiteradamente o progressivo envenenamento da água, que, segundo o jornalista Castillos, é uma das principais riquezas do país.

A esquerda emergente uruguaia tem igualmente entre seus postulados a renegociação da dívida externa, a qual, nas palavras de Abella, "também vaza água por todos os lados", tendo triplicado nos anos de governo da Frente Ampla.

Castillos, da DPA, complementa: "Estes temas estiveram ausentes na recente campanha eleitoral do Uruguai, empobrecida quanto a propostas renovadoras concretas e quase sem confrontação ideológica, por ter se instalado no país uma espécie de acordo não escrito entre os partidos majoritários para manter o atual estado de coisas."

AV/afp/dpa/epd/rtr

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