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"Usina em Mariupol foi palco de massacre a sangue frio"

Roman Goncharenko
17 de maio de 2022

A DW conversou com esposas de soldados ucranianos retidos na siderúrgica Azovstal. Em missão de resgate pela Europa, elas afirmam que batalha pela usina na cidade sitiada por russos mostrou resistência da Ucrânia.

Ruínas da siderúrgica Azovstal em Mariupol
A siderúrgica Azovstal de Mariupol em 11 de maio de 2022Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS

Sitiados durante semanas por tropas russas, os combatentes ucranianos na siderúrgica Asovstal, em Mariupol, enfrentaram uma situação desesperadora, mas não perderam a coragem. Várias vezes, se manifestaram por meio de vídeos ao mundo exterior. Ao mesmo tempo, suas esposas se engajaram em uma espécie de missão de resgate na Europa.

Autoridades da Ucrânia disseram nesta terça-feira (17/05) estarem trabalhando para resgatar os combatentes restantes na siderúrgica, último foco da resistência na cidade sitiada de Mariupol, depois de mais de 260 soldados ucranianos serem removidos do local na segunda e levados a áreas sob controle russo. O governo ucraniano espera que eles sejam em breve trocados por prisioneiros de guerra.

Antes disso, a DW conversou em Colônia, na Alemanha, com esposas de combatentes retidos na usina.

"Em Azovstal não se conduz uma guerra, as pessoas são massacradas a sangue frio", disse Julia Fedosyuk, cujo marido, Arsen, esteve entre as centenas de combatentes escondidos nos bunkers da Azovstal. "Há ataques aéreos e bombardeios constantes, que também atingem locais onde há feridos", ressaltou, apontando que fontes de água também eram visadas, embora nem se tratasse de água potável.

"No limite"

O marido de Julia está ferido. No momento da entrevista à DW, não estava claro se ele conseguiria deixar a siderúrgica sitiada. Não está claro quantos combatentes ainda estão na Asovstal. Nos últimos dias, civis já haviam sido evacuados da usina, após várias tentativas de mediação. No entanto, há desconfiança do lado ucraniano. "Só ficaram os que têm medo de serem levados para a Rússia e mortos", disse a esposa do combatente ucraniano.

Julia está viajando com Katerina Prokopenko. Seu marido, Denys, tenente-coronel da Guarda Nacional da Ucrânia e do Batalhão Azov, é bem conhecido no país e recebeu o título de "Herói da Ucrânia" do presidente Volodimir Zelenski em março. Katerina contou que teve contato diário com o marido, mas as conversas sempre foram curtas e secas. A mensagem transmitida foi: "É muito difícil, mas aguentamos firmes."

"A situação é crítica. Posso sentir em suas mensagens de áudio que as forças estão no limite. Isso acontece quando você só come e bebe uma vez por dia", diz Katerina.

As duas mulheres têm por volta de 30 anos de idade. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no final de fevereiro, elas estavam em Kiev, se voluntariando para ajudar o Exército ucraniano e coletando doações para equipamentos. Uma viagem ao exterior não estava planejada.

Elas dizem que, se fosse possível, desistiriam da segurança e visitariam seus maridos na siderúrgica Azov. Mas elas acreditam que têm uma missão: "Anunciar o problema a altos brados, pedir ajuda e dizer a verdade."

Quem é o culpado pelo cerco a Mariupol?

Para elas, o problema inclui a questão de como os combatentes ucranianos foram cercados pelo Exército russo em Mariupol.

"A culpa é de comandantes das cidades vizinhas, que os abandonaram e possibilitaram um cerco rápido", diz Julia.

As mulheres não culpam o presidente. No entanto, seu apelo a Zelenski era que ele "falasse mais sobre isso, negocie mais, exija mais".

O maior sucesso das duas mulheres até agora foi um encontro com o papa Francisco no Vaticano no início de maio. Os contatos pessoais ajudaram, diz Julia. Ela é funcionária do escritório de um parlamentar ucraniano cujo pai é o embaixador da Ucrânia no Vaticano. A ideia de escrever uma carta ao papa pedindo ajuda acabou se transformando em um encontro.

Katerina Prokopenko (centro) e Julia Fedosiuk (com celular) no Vaticano Foto: Gregorio Borgia/AP Photo/picture alliance

"Nosso objetivo mais importante é libertar nossos maridos e todos na siderúrgica Azov", diz ela.

Houve muitos exemplos de cidades e lugares sitiados no mundo na história recente. No entanto, as esposas dos combatentes de Mariupol não acreditam em comparações históricas. A batalha por Azovstal é duplamente simbólica, de acordo com Julia. Ela mostrou a impotência do Ocidente, mas também a resistência da Ucrânia.

"Não importa como termine, a Ucrânia já venceu, pelo menos moralmente", diz ela, que espera que agora o Ocidente supere sua impotência.

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