Usina nuclear que gerou pânico nos EUA será reativada
21 de setembro de 2024
Microsoft sela acordo para adquirir energia da usina Three Mile Island, palco do pior acidente nuclear já ocorrido em solo americano. Objetivo da empresa é avançar rumo à meta de se tornar negativa em carbono até 2030.
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A usina Three Mile Island, palco do pior acidente nuclear da história americana, voltará a funcionar após seus administradores selarem um acordo para fornecer energia à gigante da tecnologia Microsoft, informou nesta sexta-feira (20/09) a empresa proprietária do local, a Constellation Energy.
O acordo válido por 20 anos envolve a reativação do reator da Unidade 1 da usina que, segundo a empresa, "vinha operando em níveis de liderança no setor em termos de segurança e confiabilidade há décadas, antes de ser fechado por razões econômicas a exatamente cinco anos".
A Microsoft deseja abastecer seus centros de dados com energias livres de carbono, de modo a atingir sua meta de se tornar negativa em carbono até 2030.
A usina, localizada em uma ilha do rio Susquehanna, próxima a Harrisburg, na Pensilvânia, sofreu o acidente nuclear mais grave ocorrido já em solo americano. O reator da Unidade 2 sofreu um derretimento nuclear parcial e ficou destruído.
O reator da Unidade 1 não estava envolvido no acidente. O local fornecerá energia para abastecer as instalações de inteligência artificial da Microsoft, um setor que se desenvolve com rapidez e exige grandes quantidades de energia.
A Constellation Energy informou que o reator deve voltar a funcionar em 2028, e que, para a reforma da usina serão necessários "investimentos significativos".
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Meta climática ambiciosa
O acordo com a Microsoft surge em meio aos esforços do governo americano para que os estados e as empresas reconsiderem a utilização da energia nuclear, no intuito de reduzir os efeitos das mudanças climáticas gerados pelos combustíveis fósseis e limitar as emissões de gases causadores do efeito estufa no setor energético.
"Esse acordo é um marco importante nos esforços da Microsoft para descarbonizar a rede e apoiar nosso compromisso de nos tornarmos negativos em carbono", afirmou o presidente da gigante do setor tecnológico, Bobby Hollis. A expressão negativo em carbono se refere à meta de não apenas controlar a emissão de dióxido de carbono, mas remover mais o CO2 do que se emite.
O incidente com a Three Mile Island, no dia 28 de março de 1979, deixou os Estados Unidos em pânico com o derretimento parcial do reator da unidade 2.
Antes do fechamento em 2019, a Unidade 1 tinha capacidade de gerar 830 megawatts, o que é suficiente para abastecer mais de 800.000 residências.
A Unidade 2 foi selada após o acidente. Suas duas torres de resfriamento ainda permanecem no local. O núcleo do reator foi removido e transportado para o Laboratório Nacional do Departamento de Energia de Idaho. O que restou dentro do edifício de contenção ainda é altamente radioativo, embora esteja encapsulado em concreto.
A Comissão Regulatória Nuclear dos EUA descreve o ocorrido como "o acidente mais grave na história operacional das usinas nucleares comerciais americanas, apesar de não terem sido detectados efeitos na saúde dos funcionários da usina em razão dos pequenos vazamentos de radiação".
rc (AFP, DPA)
Quatro décadas de movimento antinuclear alemão
Protestos contra a energia atômica deram origem ao Partido Verde mais forte do mundo. Eles obtiveram muitas vitórias desde os anos 70, mas também registraram reveses.
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Nasce um movimento
O movimento antinuclear despontou na Alemanha já no início dos anos 1970, com os protestos contra os planos para a construção de uma usina nuclear em Wyhl, perto da fronteira com a França. A polícia foi acusada de empregar força excessiva para conter os manifestantes. Mas, no fim, estes venceram, e o projeto nuclear foi arquivado em 1975.
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Desobediência civil
Animados pelo sucesso em Wyhl, no fim da década de 70 protestos semelhantes de desobediência civil se realizaram em Brokdorf e Kalkar. Embora não tenham conseguido evitar a instalação dos reatores, eles provaram que o movimento antinuclear ganhava força no país.
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Não ao lixo radioativo
A cidade de Gorleben tornou-se palco de protestos veementes contra a indústria nuclear desde que, em 1977, foram anunciados planos de usar uma mina de sal desativada como depósito para resíduos atômicos. Apesar de a área próxima à fronteira da extinta Alemanha Oriental ser pouco populosa, seus habitantes logo deixaram claro que não aceitariam sem luta ter material radioativo perto de seus lares.
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Um passo para a bomba?
Desde o início, o movimento antinuclear alemão reuniu organizações religiosas, agricultores e moradores apreensivos, lado a lado com ativistas estudantis, acadêmicos e pacifistas, que viam uma conexão entre energia nuclear e a bomba atômica. Como país ao longo da fronteira da Guerra Fria, o medo de um conflito nuclear pairava na mente de muitos alemães.
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Ingresso na política partidária
No fim dos anos 70, ativistas antinucleares se juntaram a outros defensores do meio ambiente e da justiça social para formar o Partido Verde. Tendo conquistado seus primeiros assentos no parlamento federal em 1983, hoje ele é uma força política estabelecida na Alemanha, e possivelmente o Partido Verde mais forte do mundo.
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Os piores medos se tornam realidade
Em 1986, o derretimento nuclear de um reator a centenas de quilômetros, em Tchernobil, na Ucrânia, espalhou partículas radioativas pela Europa e fortaleceu a resistência à energia nuclear entre a opinião pública da Alemanha. O Partido Verde estava no poder em Hessen, mas o secretário do Meio Ambiente, Joschka Fischer, disse que não seria possível fechar de imediato as usinas do estado.
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Lei sela fim da energia atômica
Em 1998, os verdes passaram a integrar o governo federal da Alemanha, como parceiro minoritário do Partido Social-Democrata. Em 2002, essa coalizão "rubro-verde" aprovou uma lei proibindo novas usinas nucleares e reduzindo a vida útil das existentes, de modo que as últimas fossem desativadas em 2022.
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Mantendo a pressão
Mesmo com o fim da energia atômica à vista, o movimento antinuclear ainda tinha muito contra o que protestar. Numerosos ativistas, inclusive do Partido Verde – cujos então líderes Jürgen Trittin e Claudia Roth são vistos nesta foto de 2009 – exigiam um fim bem mais rápido dos reatores, dentro de uma onda antinuclear global.
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Parem este trem!
Continuava em aberto a questão de o que fazer com os resíduos radioativos dos reatores da Alemanha. Em 1995, os bastões irradiados eram reprocessados no exterior e depois trazidos de volta em trens para o depósito em Gorleben. Anos a fio, os assim chamados "transportes Castor" foram recebidos com protestos de ativistas, que sentavam sobre os trilhos dos trens até serem removidos pela polícia.
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Merkel reverte decisão dos verdes
A União Democrata Cristã (CDU), da chanceler federal Angela Merkel, sempre se opusera à lei limitando a vida útil das usinas nucleares. Assim, em 2009, ao formar uma coalizão com os liberais, o partido anulou a medida, num duro golpe para o movimento antinuclear.
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Fukushima força Merkel a rever a própria decisão
Em 2011, o derretimento nuclear de três reatores em Fukushima, no Japão, forçou o governo de Merkel a voltar atrás rapidamente. Poucos dias após o desastre, Berlim aprovava uma lei estabelecendo o fechamento da última usina nuclear da Alemanha em 2022. O processo de desativação gradual foi retomado, com oito reatores sendo desligados já em 2011.