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Usuários de site de leilão tentam lucrar com "Charlie Hebdo"

16 de janeiro de 2015

Edição pós-atentado chega a ser oferecida por 15 mil euros. Autor de slogan "Je suis Charlie" quer impedir exploração comercial da frase, que já estampa produtos que vão desde canecas e camisetas a isqueiros.

Foto: Charlet/AFP/Getty Images

Exemplares da última edição do semanário satírico Charlie Hebdo, que se esgotou em poucas horas em toda a França na quarta-feira, estão sendo oferecidos no eBay por milhares de euros. O autor da frase "Je suis Charlie" também afirmou na quinta-feira (16/01) que vai patentear a expressão, para evitar que ela seja usada comercialmente.

O site de vendas e leilões teve um vendedor oferecendo a nova edição do Charlie Hebdo por 15 mil euros para compra imediata, em comparação com o preço de capa de apenas 3 euros.

Não se sabe se a oferta é séria, e se o vendedor realmente possui o jornal. Muitos vendedores no eBay estão oferecendo a edição pós-atentado do semanário a preços de cerca de 100 euros. A edição do dia do atentado, 7 de janeiro, pode ser encontrada no Ebay por preço em torno de 800 euros.

"Indecente"

A ONG Repórteres Sem Fronteiras, baseada em Paris, expressou indignação ante a aparente onda de oportunismo. "O que está acontecendo no eBay é absolutamente indecente", disse o diretor da entidade, Christophe Deloire. "As pessoas no exterior têm tentado patentear a frase 'Je suis Charlie'. Há uma espécie de comércio paralelo sendo organizado, que é totalmente condenável, lamentável, indecente", acrescentou.

Mais tarde, o eBay anunciou que estava proibindo cópias digitalizadas e digitais do Charlie Hebdo, acrescentando que também iria doar as comissões recebidas sobre as vendas da edição e de outros itens vendidos em seu site francês.

As primeiras 700 mil cópias do que foi apelidada de "edição dos sobreviventes" do Charlie Hebdo se esgotaram em toda a França em apenas algumas horas na quarta-feira. A tiragem inicialmente prevista para três milhões foi aumentada para cinco milhões, para atender a enorme demanda. Exemplares devem também para ser colocados à venda em outros países ao redor do mundo ainda esta semana.

Chamada "edição dos sobreviventes" pode ser encontrada por cerca de 100 euros na internetFoto: picture-alliance/dpa/B. Roessler

"Je suis Charlie"

O autor da frase "Je suis Charlie" ("Eu sou Charlie"), o designer Joachim Roncin, quer acabar com exploração comercial do seu slogan e está estudando meios legais para isso, afirmou sua advogada.

"Joachim Roncin vai se basear nos seus direitos de autor para tentar controlar a difusão e preservar a mensagem inicial intacta", declarou Myriam Witukiewicz-Sebban, citada pela agência de notícias francesa AFP.

O slogan correu mundo após o atentado terrorista contra a redação do jornal satíricoCharlie Hebdo, que deixou 12 mortos na semana passada em Paris.

A advogada acrescentou que o designer de 39 anos, da revista de moda Stylist Magazine, não pretende obter qualquer tipo de lucro com o slogan que cunhou, embora este tenha sido adotado globalmente, como símbolo da defesa da liberdade de expressão.

Galinha dos ovos de ouro

Roncin, que tinha 400 seguidores no Twitter antes dos ataques ao Charlie Hebdo, viu seu slogan de tornar um fenômeno de mídia. De acordo com o perfil oficial francês do Twitter, a hashtag #JeSuisCharlie apareceu 6.631.017 vezes entre 7 de janeiro e 12 de janeiro. Roncin agora tem 7.056 seguidores no Twitter.

A frase se tornou uma galinha dos ovos de ouro para os oportunistas, que logo a reproduziram – com letras brancas e cinzentas em fundo preto – em artigos que vão desde camisetas e isqueiros, passando por bótons, bolsas e canecas.

O escritório de patentes francês afirmou que, das 120 aplicações da frase que já recusou, duas se destinavam a ajudar a vender armas de fogo.

MD/afp/dpa/lusa

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