Vídeo do "Estado Islâmico" mostra refém britânico como "repórter"
28 de outubro de 2014
Jornalista, que é mantido refém desde o final de 2012, afirma que relatos da mídia ocidental seriam falsos e que extremistas teriam o controle quase completo de Kobane.
Anúncio
O grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) divulgou nesta segunda-feira (27/10) um vídeo de propaganda que simula uma reportagem. O vídeo mostra o jornalista britânico John Cantlie, que é refém dos jihadistas, aparentemente na cidade síria de Kobane. Falando à câmera, ele afirma que a localidade fronteiriça, devastada, está quase completamente nas mãos dos militantes do EI.
O jornalista, de 43 anos, diz ainda que os relatos sobre combates pesados na cidade e perdas por parte do EI são falsos. Cantlie afirma que a mídia ocidental se baseia apenas em informações de comandantes curdos e da Casa Branca, que não estariam interessados na verdade.
Os ataques aéreos dos EUA teriam apenas impedido os combatentes do EI de usar armas pesadas, diz. Assim, eles iriam ocupar Kobane por meio de guerra urbana, afirma.
O vídeo de pouco mais de 5 minutos, divulgado na internet, parece mais profissional do que outros produzidos pelos extremistas. Ele começa mostrando imagens aéreas de Kobane, que teriam sido registradas por um drone do Exército do EI.
Não há indicação de quando o vídeo – o sexto que mostra Cantlie – foi gravado, mas ele se refere a um declaração militar dos EUA de 16 de outubro e a uma notícia veiculada pela BBC em 17 de outubro.
Cantlie foi raptado em novembro de 2012, quando fazia a cobertura da guerra civil na Síria. Quatro reféns – dois americanos e dois britânicos – já foram executados pelo EI.
Desde 17 de outubro, a data mais antiga em que o vídeo poderia ter sido gravado, os conflitos continuaram em Kobane. Combatentes curdos vêm tentando defender a cidade dos jihadistas, apoiados por ataques da coalizão internacional liderada pelos EUA.
Nesta segunda-feira, o Comando Central dos EUA disse que ataques aéreos haviam destruído veículos do EI e um prédio ocupado pelos militantes em Kobane. Em seus últimos comunicados, oficiais americanos afirmaram que os ataques haviam "desacelerado os avanços do EI".
Também nesta segunda-feira, o porta-voz dos curdos, Idriss Nassan, disse que eles teriam conseguido barrar um ataque dos extremistas. Ao mesmo tempo, os defensores da cidade estariam aguardando reforço de forças peshmerga vindas do norte do Iraque. Cerca de 150 combatentes com novas armas fornecidas pelos EUA devem apoiar os combatentes em Kobane.
LPF/afp/dpa
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.