Cenas gravadas em várias cidades do país mostram suposto uso excessivo da força e lembram, em parte, ações controversas praticadas por agentes americanos. Imagens provocam debate sobre violência policial na Alemanha.
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O vídeo, divulgado no Twitter, é de apenas 15 segundos. Ele mostra um policial colocando o joelho sobre o pescoço de um suspeito para contê-lo. No fundo, pessoas gritam, exigindo que ele pare.
A operação policial ocorreu em meados de agosto em Düsseldorf, no oeste da Alemanha, e lembra o episódio que levou à morte do afro-americano George Floyd em Minneapolis, EUA, no final de maio.
Em Düsseldorf, o jovem de 15 anos saiu ileso. Segundo a agência de notícias alemã dpa, há várias acusações contra ele.
O policial que o deteve também está sendo investigado, informou a Promotoria alemã. De acordo com sua defesa, porém, ele apenas fixou a cabeça do rapaz com sua canela. "Isto é o que é ensinado", disse o advogado Christoph Arnold. Ele afirmou ainda que a situação era perigosa para os oficiais, pois o suspeito podia se levantar ou puxar uma arma, por exemplo.
As imagens provocaram um debate sobre violência policial na Alemanha e os limites do uso da força pelos agentes.
O vídeo de Düsseldorf não é o único que viralizou recentemente nas redes sociais mostrando supostas operações policiais desproporcionais. O registro de outra ação em Frankfurt, no estado de Hessen, também circula na internet. O episódio foi filmado e divulgado por Blaise Francis, um advogado que atua de forma voluntária em casos de racismo.
A gravação mostra vários policiais imobilizando um homem no chão. Pouco depois, um agente chuta várias vezes o detido. Outro policial, que, segundo um comunicado da assessoria de imprensa da polícia de Frankfurt, seria o chefe da operação, intervém e afasta o agente. Ele teria ainda comunicado internamente o incidente. A Promotoria de Frankfurt teria conhecimento do caso.
O comunicado da polícia de Frankfurt fala em "uso indevido da força" e confirmou medidas disciplinares contra o policial.
Também surgiram vídeos de ações semelhantes em Hannover e Hamburgo, no norte da Alemanha. As imagens mostram pessoas imobilizadas por agentes ou transeuntes são repelidos por policiais com mais força do que o aparentemente necessário.
Debate na política
Apesar de terem surgido há poucos dias, os vídeos já entraram para o debate político. "Não há justificativa para chutar uma pessoa que está detida no chão", afirmou Hermann Schaus, porta-voz de política interna do partido A Esquerda na Assembleia Legislativa de Hessen.
Ao comentar a operação em Düsseldorf, o secretário do Interior da Renânia do Norte-Vestfália, Herbert Reul, também se disse, num primeiro momento, chocado com as imagens do incidente. Mas alertou contra tirar conclusões precipitadas.
"Não quero justificar a operação de forma alguma, mas também não quero julgá-la prematuramente", disse Reul, acrescentando que a violência física cometida por policiais não seria ilegal em si e que, em algumas situações, ela seria apropriada, permissível e obrigatória.
A porta-voz de política interna dos Verdes no Parlamento alemão, Irene Mihalic, concorda parcialmente com Reul. "Uma intervenção dura e o uso da força podem ser necessários se a situação assim o exigir, mas só assim", pondera. As gravações da operação policial em Düsseldorf, segundo ela, mostraram, no entanto, o uso de um método "que põe em perigo a saúde e a vida do detido por razões que não consigo ver". Mihalic defende que o incidente seja investigado.
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.