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Vídeos inéditos têm cenas dramáticas do ataque ao Capitólio

11 de fevereiro de 2021

No processo de impeachment, democratas reconstroem em detalhes como congressistas e o vice-presidente estiverem muito perto de serem alcançados pelos invasores. Para eles, não há dúvidas: Trump foi o "incitador-chefe".

Pence foge com a família momentos antes de os invasores chegarem ao plenário
Pence foge com a família momentos antes de os invasores chegarem ao plenárioFoto: Senate Television/AP/picture alliance

No segundo dia do julgamento do atual processo de impeachment contra o ex-presidente dos EUA Donald Trump no Senado, democratas exibiram nesta quarta-feira (11/02) imagens, em parte inéditas, da violenta invasão do Capitólio por apoiadores do ex-mandatário. Ele é acusado de "incitação à insurreição" devido ao ataque, ocorrido em 6 de janeiro.

As cenas foram capturadas por câmeras de segurança do Capitólio, a sede do Congresso em Washington, e exibidas aos senadores. Elas mostram como uma multidão de apoiadores de Trump invadiu o prédio, entrou em confronto com a polícia e esteve a poucos metros de chegar aos congressistas e ao então vice-presidente Mike Pence. É possível ver também as forças de segurança pedindo reforços, e os manifestantes, com tacos de beisebol e gás lacrimogêneo, pedindo a morte de Pence.

Cenas da invasão do Capitólio já vinham circulando desde o dia do incidente, mas a compilação exibida aos senadores nesta quarta reconstruiu os fatos momento a momento, oferecendo novos detalhes sobre os invasores, ações heroicas da polícia e de desespero de congressistas.

A poucos metros de Pence

Os vídeos inéditos mostram políticos sendo retirados às pressas do plenário durante a sessão que certificava a vitória eleitoral de Joe Biden. A invasão deixou cinco mortos, incluindo uma manifestante morta pela polícia e um policial morto pela multidão.

As imagens exibidas do Senado revelaram ainda cenas de invasores procurando e ameaçando a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi, e o vice-presidente, aos gritos de "Enforquem Mike Pence".

Pence – que presidia a sessão de certificação eleitoral, desafiando as alegações sem provas de Trump de que houve fraude nas urnas – foi conduzido às pressas para um escritório onde se refugiou com a família, a cerca de 30 metros de onde se encontravam os invasores.

Pelosi também foi escoltada por forças de segurança. Os escritórios da democrata, alvo frequente da retórica violenta de Trump, foram invadidos, enquanto manifestantes gritavam: "Nancy, onde você está?"

"Sabemos dos próprios manifestantes que se tivessem encontrado a presidente [da Câmara] Pelosi, eles a teriam matado", afirmou Stacey Plaskett, integrante da acusação democrata contra Trump.

"Incitador-chefe"

A acusação democrata argumenta que é clara a ligação entre Trump, suas mentiras sobre fraude eleitoral, a violência e a inação do presidente enquanto a invasão ocorria. Nesta terça, já haviam sido exibidos no Senado trechos do comício de Trump que precedeu o ataque ao Capitólio, quando o ex-presidente reiterou a uma multidão de apoiadores alegações de fraude e proferiu uma frase que a acusação considera uma prova de incitação à violência que se seguiu: "Vamos nos dirigir ao Capitólio".

"O vice-presidente e a presidente da Câmara foram colocados em perigo porque o presidente Trump colocou seus próprios desejos, sua própria necessidade de poder, sobre seu dever para com a Constituição e nosso processo democrático", disse Plaskett. "O presidente Trump colocou um alvo nas costas deles [Pence e Pelosi], e sua turba invadiu o Capitólio para caçá-los."

"Donald Trump abdicou de seu papel de comandante em chefe e se tornou o incitador-chefe de uma perigosa insurreição", afirmou o deputado democrata Jamie Raskin, que atua como promotor no julgamento contra o ex-presidente.     

Apesar de a maioria dos senadores republicanos ter indicado que votará contra o impeachment de Trump, vários se mostraram abalados pelas imagens exibidas pela acusação democrata.

No primeiro dia do processo do Senado, apenas seis republicanos se juntaram aos democratas para aprovar a constitucionalidade e a continuidade do julgamento, bem menos do que os 17 necessários para uma condenação. Isso porque a Casa é dividida entre 50 republicanos e 50 democratas e, para que o impeachment de Trump se concretize, é necessária uma maioria de dois ou seja, 67 votos.

Próximos passos

Espera-se que o julgamento transcorra rapidamente, com um possível fim na próxima semana. Nesta quinta-feira, a acusação apresentará seus argumentos finais, e a defesa de Trump se pronunciará, então, na sexta e no sábado.

A Câmara dos Representantes aprovou o impeachment em 13 de janeiro.  Mesmo sem uma condenação no Senado, o julgamento entrará para a história de duas maneiras: por fazer de Trump o primeiro presidente americano a enfrentar dois processos de impeachment e por nunca antes um presidente já fora do poder ter sido submetido a um impeachment.

O primeiro impeachment de Trump foi aprovado pela Câmara em dezembro de 2019, por abuso de poder e obstrução do Congresso ao pressionar ao pressionar a Ucrânia a lançar uma investigação contra Biden e seu filho Hunter. O Senado acabou inocentando Trump em fevereiro do ano passado.

Desta vez, além de ter como objetivo cassar os direitos políticos de Trump, os democratas apostam no esforço de fazer os republicanos assumirem responsabilidade publicamente pela invasão do Capitólio, "um ataque à democracia", segundo afirmou Michael Cornfield, professor de ciências políticas na Universidade George Washington, à DW.

Uma votação separada decidiria sobre a cassação dos direitos políticos do ex-presidente caso ele seja condenado no Senado. Para essa segunda sentença, bastaria uma maioria simples dos senadores. Os democratas estão apostando que haja republicanos ressentidos com Trump e que queiram de todo modo impedir seu retorno no próximo pleito presidencial.

lf/rpr (AFP, AP)

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