Vaca louca em estábulo de luxo
28 de janeiro de 2003O experimento terá duração de quatro anos, informou Thomas C. Mettenleiter, diretor do Instituto Federal de Pesquisa das Doenças Viróticas Animais (BFAV). O órgão é o responsável pelo ambicioso projeto, que objetiva acompanhar toda a história da infecção nos bezerros e permitir a criação de um teste seguro para o diagnóstico precoce de contaminação pela encefalopatia espongiforme bovina (BSE).
A pesquisa na ilha de Riems, no mar Báltico, visa esclarecer o caminho – até agora desconhecido – que o príon responsável pela infecção percorre desde a contaminação intestinal até seu alojamento no cérebro dos animais. Para tal, serão feitos exames periódicos de sangue, urina e líquido da medula espinhal. Além disto, serão sacrificados a cada quatro meses entre dois e cinco animais para análises detalhadas de cerca de 80 diferentes tipos distintos de tecidos, em busca de eventual contaminação pelo príon.
A pesquisa poderá contribuir também para uma melhor compreensão do risco de contaminação dos seres humanos, através do consumo de carne bovina. Sob este aspecto, o estudo financiado com milhões de euros dos cofres públicos destina-se, em última análise, à proteção do consumidor.
Vacas caixa-preta
A ilha báltica permanecerá isolada do continente durante toda a duração da pesquisa. Somente as pessoas ligadas ao projeto terão acesso às instalações do instituto e aos 56 bovinos contaminados. Eles já receberam do semanário Der Spiegel o título irônico de "vacas caixa-preta". Pois, à semelhança do equipamento utilizado nos aviões, suas vidas estão dedicadas exclusivamente ao registro de todos os estágios da doença.
Antes da sua morte, os animais terão uma vida de luxo: em estábulo de segurança, com baias individuais e mantas macias no chão, escovas próprias para limpeza do pelo e até fundo musical.
Números regressivos
Na Grã-Bretanha, o país mais afetado pela epidemia, o ponto culminante da crise foi atingido em 1992, com a constatação de 37.280 casos. Desde então, as drásticas medidas tomadas pelas autoridades surtiram efeito, trazendo uma rápida redução das contaminações. De janeiro a setembro do ano passado, haviam sido comprovados 755 casos.
Na Alemanha, o primeiro caso confirmado de vaca louca foi constatado em novembro de 2000. Desde então, foram testados 5,5 milhões de animais e comprovados 238 casos. Um número muito menor do que temiam os pesquisadores. "Os prognósticos pessimistas não tiveram confirmação", afirma Mettenleiter. E continua diminuindo o número de reses contaminadas também na Alemanha.
Mas os especialistas não vêem motivo para afrouxar as medidas sanitárias adotadas. Ao contrário, torna-se cada vez mais necessário o desenvolvimento de testes seguros para constatar a doença sem a necessidade de abater o animal. Os chamados "testes rápidos" desenvolvidos até agora não oferecem a necessária segurança nos resultados.