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Aids

1 de dezembro de 2011

Quando pesquisadores identificaram, há 27 anos, o vírus HIV, eles tinham certeza de que a vacina contra o mesmo seria apenas uma questão de tempo. Hoje sabe-se que tal suposição foi um erro evidente.

O vírus HIV: busca de solução
O vírus HIV: busca de soluçãoFoto: picture alliance/Bildagentur-online

Tudo poderia ser simples assim: bastaria aplicar o vírus HIV inativo ou injetar fragmentos dele no paciente. Seu sistema imunológico combateria o corpo estranho, registraria suas características típicas e se armaria para um combate futuro contra o vírus de verdade. Assim funciona maravilhosamente com outras doenças causadas por vírus, como a hepatite A, a raiva ou a paralisia infantil. Mas não com o HIV.

Pois o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, na sigla em inglês) tem uma altíssima capacidade de mutação. "Não lidamos com um único vírus, mas sim com uma enorme quantidade dele, que, além de tudo, sofre mutações constantes", explica Klaus Überla, virologista da Universidade do Ruhr, em Bochum, que pesquisa há 15 anos as possibilidades de desenvolvimento de uma vacina contra o HIV. Em outras palavras, a evolução do vírus HIV se dá muito rapidamente, fazendo com que a forma da membrana viral se modifique de maneira rapidíssima de uma geração para a outra.

Essa membrana é composta por uma proteína, que envolve o genoma do vírus, servindo, desta forma, de ponto de ataque para o sistema imunológico. Se essa membrana se encontra, contudo, em constante mutação, o sistema imunológico não consegue reconhecer o vírus na próxima vez que vier a se deparar com ele. Ou seja, o vírus praticamente muda de cara em curtos espaços de tempo. Além disso, ele desenvolve estratégias para enganar o sistema imunológico, que por sua vez não registra o vírus como agente causador da doença e não o ataca, portanto.

Vacinas clássicas não surtem efeito

Os pequisadores já sabem há muito tempo que o método comprovadamente eficiente de injeção do vírus inativo não funciona no caso do HIV. Cientistas já fabricaram a membrana do vírus em laboratório e injetaram em pacientes, entre estes pessoas que pertencem ao grupo de risco dos viciados em drogas, usuários das mesmas agulhas, que podem infectar uns aos outros.

Os pesquisadores deram explicações aos envolvidos sobre as fontes de contágio do HIV e avaliaram regularmente quais deles se infectaram com o vírus e quais não. Resultado: esse tipo de vacina não protege contra a infecção. "E isso mesmo considerando que os vacinados desenvolveram anticorpos contra o vírus. Estes anticorpos, contudo, não puderam evitar que o vírus adentrasse as células", diz Überla. Eles são aglutinados, embora isso não surta efeito algum.

Ou seja, fica de antemão muito difícil avaliar que tipo de vacina poderia ser realmente eficaz. Recentemente, pesquisadores espanhóis relataram acerca de uma substância, que fez com que 95% dos pacientes envolvidos na pesquisa criassem anticorpos contra o HIV. Se essa substância realmente protege contra o vírus ninguém sabe, sendo algo a ser provado apenas em uma pesquisa clínica – um procedimento demorado, caro e que necessita de uma série de participantes voluntários.

Jürgen Rockstroh, imunologista e especialista em aids da Universidade de Bonn, aconselha maiores investimentos na pesquisa fundamental, a fim de que sejam encontrados candidatos mais apropriados para as pesquisas. "A chave está nos pacientes que mantêm o vírus sob controle", diz ele. Há pessoas infectadas com o HIV, que parecem continuar resistindo ao agente causador da doença e nos quais a enfermidade não se desenvolve. "Precisamos copiar o que o sistema imunológico dessas pessoas faz", completa Rockstroh.

Célula infectada pelo HIVFoto: AP

Em meados deste ano, cientistas norte-americanos isolaram 17 novos anticorpos eficazes contra diversos tipos do vírus HIV. "Tais anticorpos nos ajudam a encontrar a proteína da membrana do vírus, contra a qual vale a pena desenvolver uma vacina", diz Klaus Überla.

Perigo de efeitos adversos

Diante do fato de que uma vacina feita com o vírus inativado não funciona, os pesquisadores cogitaram rapidamente uma nova estratégia: a vacina genética, composta não pela proteína do vírus, mas somente pelo genoma da proteína. Tudo como se fosse um vírus da gripe, modificado geneticamente pelos pesquisadores, de forma a se tornar inócuo para o ser humano.

A ideia por trás dessa estratégia é a de que o vírus da gripe transporta o gene da proteína até a célula do vacinado. As células produzem elas próprias essa proteína e o sistema imunológico humano lida melhor com a proteína estranha. Uma estratégia como essa não faz parte de nenhuma vacina até hoje liberada no mercado.

Os cientistas haviam depositado grandes esperanças em uma pesquisa clínica, na qual o grupo farmacêutico Merck experimentou uma vacina do gênero em pacientes. Mas para decepção geral, o tiro saiu pela culatra: em um subgrupo de envolvidos, os vacinados ficaram até mesmo mais suscetíveis à infecção, tendo se infectado mais com o HIV do que os não vacinados. A empresa Merck interrompeu a pesquisa.

O ponto crucial do vírus HIV é que ele se reproduz nas células do sistema imunológico. Por meio da vacina, as células em questão estavam perfeitamente preparadas para uma infecção e o vírus pôde se reproduzir especialmente bem. "O resultado nos alertou a ter precaução. O fato de que os vacinados se infectaram mais do que os não vacinados alerta para a necessidade de cautela em outras pesquisas clínicas", diz Überla.

Pouco de esperança

Apesar disso, pesquisadores de HIV levantaram mais esperanças há dois anos, ao testar, na Tailândia, duas vacinas combinadas, conseguindo diminuir, com isso, em 30% a probabilidade de infecção com o HIV. "Não parece muito, mas, pelo menos foi possível observar algum efeito", diz Rockstroh. Os cientistas tentam agora descobrir por que e através de qual mecanismo essas vacinas protegem contra o HIV, a fim de aperfeiçoar a estratégia de vacinação.

Infectados na África: nem todos têm acesso à terapiaFoto: picture alliance/imagestate/Impact Photos

Mas mesmo diante deste pequeno progresso, "ainda nos encontramos no início do desenvolvimento de uma vacina", fala Jürgen Rockstroh: "Não devemos confiar em uma vacina, pois isso ainda pode levar cem anos". Segundo ele, é preciso desenvolver alternativas, como as substâncias químicas, que deixam o vírus inativo, sendo utilizadas, por exemplo, em um gel vaginal.

Outra possibilidade é possibilitar aos infectados com o HIV o acesso mais cedo aos medicamentos antirretrovirais, que detém a doença e evitam a transmissão do vírus. "De qualquer forma, nunca é uma boa ideia apostar em um só cavalo na corrida", alerta Rockstroh.

Autora: Brigitte Osterath (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque

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