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Vacina de Oxford tem eficácia média de 70%, diz estudo

8 de dezembro de 2020

Imunizante desenvolvido com a AstraZeneca é o primeiro a ter seus resultados de fase 3 publicados em revista científica. Artigo na "Lancet" confirma segurança e diz que eficácia pode chegar a 90%, dependendo da dose.

Mão aplica vacina em braço
Estudo se baseia em testes com quase 24.000 voluntários no Reino Unido, Brasil e África do SulFoto: picture-alliance/empics/D. Cheskin

A vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca é segura e tem eficácia média de 70% para proteger contra infecções. O resultado da fase 3 de testes clínicos é o primeiro a ser publicado em uma revista científica entre os imunizantes em desenvolvimento.

O estudo teve seus dados revisados por outros cientistas da área (peer reviewed) e foi publicado nesta terça-feira (08/12) no prestigiado periódico britânico The Lancet, confirmando números que as fabricantes haviam antecipado em novembro.

Os testes em larga escala envolveram quase 24.000 voluntários no Reino Unido, no Brasil e na África do Sul. Os resultados publicados no artigo são referentes aos participantes com idades entre 18 e 55 anos, que correspondem a cerca de 80% dos voluntários. Os testes em idosos serão incluídos em outra fase da pesquisa.

O estudo mostrou que a vacina é segura, uma vez que apenas três dos 24.000 participantes desenvolveram efeitos colaterais graves ao longo de três meses e meio de acompanhamento – embora ainda não esteja claro se os sintomas estão realmente ligados ao imunizante.

A eficácia, por sua vez, variou dependendo do regime de aplicação da vacina. Quando ministrado em duas aplicações, com intervalo de pelo menos um mês entre ambas, sendo meia dose na primeira aplicação e uma dose completa na segunda, o imunizante apresentou 90% de eficácia.

Já quando ministrado em duas doses completas, com intervalo de pelo menos um mês entre elas, a eficácia foi menor, de 62%. A análise combinada dos dois métodos de dosagem indica uma eficácia média de 70,4%, afirmou o artigo na Lancet.

Os cientistas, porém, ainda não puderam confirmar por quanto tempo a vacina, batizada de AZD1222, garantirá imunidade contra o coronavírus.

A vacina da AstraZeneca e de Oxford teve sua confiança abalada nas últimas semanas, depois que se soube que o uso de apenas meia dose na primeira aplicação em alguns voluntários foi resultado de um erro no processo de fabricação.

Antes de iniciar um estudo, os cientistas expõem os passos que pretendem seguir e como vão analisar os resultados. Desvios desse protocolo podem colocar os resultados em questão.

A intenção era aplicar duas doses completas, e não meia dose, como reconheceu mais tarde o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da AstraZeneca, Mene Pangalos.

No fim de novembro, Pangalos disse à agência de notícias Reuters que a aplicação de uma meia dose foi mero acaso. "Sim, foi um erro", reconheceu, mas qualificou o ocorrido de serendipity, ou um acaso feliz, por a eficácia nesse grupo ter sido maior.

Nesta terça-feira, os autores do artigo afirmaram que forneceram aos revisores da Lancet um estudo adicional validando os resultados apresentados no fim de novembro.

A AstraZeneca acrescentou que caberá aos reguladores de cada país decidir com base nos dados se as pessoas receberão duas doses completas ou meia dose seguida de uma dose completa.

Os cientistas disseram ainda que mais pesquisas serão necessárias para esclarecer os dados encontrados no estudo. "Acho que é justo dizer que é preciso investigar mais para explicar o resultado intrigante", afirmou Andrew Pollard, diretor do Grupo de Vacinas de Oxford e investigador-chefe dos testes.

A publicação do estudo surge em meio a outros desenvolvimentos positivos que aumentaram a esperança de que o lançamento de vacinas possa ajudar a conter uma pandemia que já matou mais de 1,5 milhão de pessoas no mundo todo.

Nesta terça-feira, o Reino Unido se tornou o primeiro país do Ocidente a iniciar a aplicação em massa de um imunizante contra a covid-19, desenvolvido pela farmacêutica Pfizer em parceria com a empresa alemã Biontech.

As primeiras doses da vacina estão sendo aplicadas em pessoas com mais de 80 anos, funcionários de casas de repouso e profissionais da saúde e assistentes sociais que atuam na linha de frente.

Escolha do governo brasileiro

A vacina da AstraZeneca foi a primeira escolhida pelo governo brasileiro para receber recursos públicos para ensaios clínicos, transferência de tecnologia e compra antecipada.

Em 6 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória abrindo crédito de R$ 1,9 bilhão para adquirir a tecnologia e oferecer 100 milhões de doses desse imunizante para brasileiros até meados de 2021, distribuídas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A iniciativa do governo federal também inclui um investimento de R$ 522 milhões na Fundação Oswaldo Cruz, instituição pública sediada no Rio de Janeiro, para modernizar instalações e comprar equipamentos para produzir, envasar e fazer o controle de qualidade da vacina.

A eficácia apresentada pela vacina da AstraZeneca/Oxford está acima da mínima estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para aprovar a aplicação de um imunizante. Por outro lado, fica bem abaixo dos resultados apresentados por outras vacinas em desenvolvimento, como a da Moderna e a da Pfizer/Biontech, que comunicaram eficácia superior a 90%.

As grandes vantagens da vacina da AstraZeneca, na comparação com as duas concorrentes, são seu baixo custo de produção e sua facilidade de armazenamento.

EK/afp/dpa/lusa/rtr/ots

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