Ex-secretário-geral da Fifa é punido com afastamento e multa de mais de 91 mil euros pelo comitê de ética da entidade. Acusações incluem envolvimento em venda ilegal de ingressos e direitos de transmissão de Mundiais.
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O comitê de ética da Fifa anunciou nesta sexta-feira (12/02) a suspensão, por 12 anos, do ex-secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke, que foi braço-direito de Joseph Blatter durante quase uma década.
Por violar o código de ética da organização que comanda o futebol mundial, Valcke ficará afastado de todas as atividades ligadas ao futebol durante esse período. Além disso, ele deve pagar uma multa de cerca de 100 mil francos suíços (mais de 91 mil euros).
As investigações contra Valcke começaram após acusações de envolvimento na venda ilegal de ingressos para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil. No decorrer do inquérito, teriam sido descobertos indícios de outras irregularidades.
O comitê de ética da Fifa comunicou que o francês, de 55 anos, tolerou e incentivou a venda ilegal de ingressos para a Copa de 2014, fez viagens particulares por conta da Fifa e tentou vender os direitos de televisão da Copa do Mundo na Rússia de 2018 e do Catar de 2022 para a região do Caribe, "por um preço muito abaixo do valor de mercado". Além disso, ainda segundo o comitê, quando o dirigente soube que estava sendo investigado, destruiu provas e arquivos para obstruir a investigação.
"Valcke atuou contra os interesses da Fifa e causou consideráveis danos econômicos. Além disso, o envolvimento de seus interesses pessoais o impediu de exercer adequadamente suas funções como secretário-geral da Fifa", afirmou o comitê.
Segundo o órgão da Fifa, Valcke infringiu os artigos 13 (regras gerais de conduta), 15 (lealdade), 16 (confidencialidade), 18 (obrigação de informar, cooperar e prestar contas), 19 (conflito de interesses), 20 (aceitar e oferecer presentes e outros benefícios) e 41 (obrigação de cooperar com as partes) do código de ética da entidade.
Valcke foi secretário-geral da Fifa de 2007 a setembro de 2015, quando foi suspenso provisoriamente por suposto envolvimento em escândalos de corrupção que afetaram a entidade.
O francês foi demitido da Fifa em 13 de janeiro deste ano, semanas após Blatter, presidente do órgão desde 1998, ser punido com oito anos de suspensão.
MD/efe/dpa
O escândalo de corrupção na Fifa
A entidade máxima do futebol vive a maior crise de sua história, pressionada por investigações nos Estados Unidos e na Suíça sobre corrupção envolvendo seus membros. Entenda o caso.
A Fifa começou a viver, um dia antes da abertura de seu congresso anual em Zurique, a maior crise de sua história. A Justiça americana indiciou por corrupção e lavagem de dinheiro 14 pessoas ligadas à entidade, sete delas foram presas pela polícia suíça. Entre os detidos, o ex-presidente da CBF José Maria Martin. Joseph Blatter não foi indiciado, mas o escândalo o colocou sob pressão.
Foto: Reuters/A. Wiegmann
Os detidos
Sete cartolas foram presos, seis deles funcionários diretamente ligados à Fifa. Os de maior destaque são: José Maria Marin, ex-presidente da CBF, e os vice-presidentes da Fifa Eugenio Figueredo e Jeffrey Webb. Também foram detidos os dirigentes esportivos Eduardo Li (Costa Rica), Julio Rocha (Nicarágua), Rafael Esquivel (Venezuela) e Costas Takkas (Reino Unido).
Foto: picture-alliance/epa
O esquema
Cartolas, sobretudo de federações da América Latina, vendiam direitos de propaganda e transmissão de competições a empresas de marketing esportivo, que conseguiam o apoio deles com propina. Essas empresas, depois, revendiam o direito de transmissão a emissoras. O esquema, segundo a Justiça americana, teria movimentado mais de 150 milhões de dólares em dinheiro sujo ao longo de 24 anos.
Foto: Getty Images/AFP/D. Emmert
O modelo de negócios da Fifa
Como associação de utilidade pública sem fins não lucrativos, a Fifa se compromete a reinvestir no futebol todos os seus lucros. Seu modelo comercial é simples: ela lucra com a exploração, sobretudo, da Copa do Mundo – o país-sede lhe garante isenção de impostos. A fatia mais gorda das rendas da Fifa são os direitos de transmissão televisiva e os patrocínios oficiais ao Mundial.
Foto: Reuters/R. Sprich
Jurisdição sobre o caso
Os Estados Unidos têm jurisdição sobre o caso porque boa parte da propina foi paga ou recebida usando instituições americanas, como os bancos Delta, JP Morgan Chase, Citibank e Bank of America. Além disso, o dinheiro sujo teria sido movimentado em filiais nos EUA de instituições estrangeiras, como os brasileiros Itaú e Banco do Brasil. Na foto, investigadores apresentam caso à imprensa.
Foto: picture-alliance/epa/J. Lane
Brasileiros na mira
O Brasil tem dois envolvidos além de Marin (foto): o dono da empresa de marketing Traffic, José Hawilla, e o intermediário José Margulies (argentino naturalizado brasileiro). A Copa do Brasil e o contrato da CBF com a Nike estão sob investigação. Marin, que presidiu a CBF entre 2012 e 2015, aparece em dois dos 12 esquemas listados. Ele teria recebido, só da Traffic, 2 milhões de reais por ano.
Foto: dapd
A investigação
O FBI (a polícia federal americana) começou a investigação sobre a Fifa há três anos. O processo teve início devido à escolha de Rússia e Catar como países-sede das Copas de 2018 e 2022, mas acabou expandida para analisar os acordos da entidade nos últimos 20 anos. Os Mundiais, então, acabaram sendo deixados de lado na investigação.
Foto: picture-alliance/dpa/P. B. Kraemer
Copas da Rússia e do Catar
O Ministério Público da Suíça anunciou ter aberto uma investigação criminal sobre um possível esquema de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo as escolhas das sedes das Copas de 2018 e 2022, que ocorrerão na Rússia e no Catar (foto). A investigação corre paralelamente ao processo judicial aberto nos Estados Unidos. Os nomes dos investigados não foram divulgados.