Em coletiva de imprensa, diretora afirma que materiais tóxicos foram detectados no rio após rompimento de barragens da Samarco, mas diz que substâncias já estavam lá antes do desastre em Mariana.
Anúncio
Arsênio e outros materiais tóxicos foram encontrados nas águas do rio Doce dias após o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Mariana, Minas Gerias, no início deste mês, confirmou Vania Somavilla, diretora de Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale nesta sexta-feira (27/11).
Em coletiva de imprensa no rio de Janeiro, Somavilla confirmou informações apontadas num relatório do Instituto de Gestão das Águas de Minas Gerais (Igam), afirmando que arsênio, chumbo, níquel e cromo foram detectados em alguns pontos do rio Doce.
No entanto, segundo a diretora, os materiais não foram levados ao rio pela onda de lama desencadeada pelo rompimento das barragens, que deixou 13 mortos. "Eles já estavam nas margens ou no leito do rio" e foram remexidos pela enxurrada, disse. "A boa notícia é que esses materiais não se dissolveram na água" e agora estão diminuindo, afirmou.
A anglo-australiana BHP Billiton, dona da Samarco junto à Vale, também nega que a enxurrada de lama tenha contaminado o rio.
A posição das empresas contraria um comunicado emitido nesta quarta-feira pela ONU, pedindo ao governo brasileiro e às empresas envolvidas na catástrofe que tomem "medidas imediatas para proteger o meio ambiente e a saúde das comunidades em risco".
Segundo o comunicado, uma "nova evidência" mostra que o rompimento da barragem lançou no rio Doce um total de 50 milhões de toneladas de resíduos de minério de ferro, "contendo altos níveis de metais pesados e outros produtos químicos tóxicos".
"A escala do dano ambiental é o equivalente a 20 mil piscinas olímpicas de resíduos de lama tóxica contaminando solo, rios e o sistema de água numa área de mais de 850 quilômetros", alertou John Knox, relator especial das Nações Unidas sobre direitos humanos e meio ambiente.
Fundo
Na coletiva desta sexta-feira, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, anunciou a criação de um fundo para a recuperação do rio Doce e seus afluentes. Ferreira não especificou quanto dinheiro será envolvido, mas disse que o fundo será de longo prazo e aberto a revisões internacionais por órgãos governamentais e não governamentais.
Criticado por ativistas ambientais por uma resposta lenta e uma tentativa de se distanciar da tragédia em Mariana, Ferreira disse que "o desastre foi extremamente doloroso" para ele e outro executivos.
"Estamos preocupados com o fato de haver 5.200 pessoas que não sabem o que o futuro lhes reserva", disse, referindo-se aos afetados pela catástrofe.
No entanto, o presidente da Vale ressaltou novamente que a Vale é apenas uma acionista da Samarco e que ajuda estava sendo oferecida por "solidariedade". "Em quatro anos nunca estive nos escritórios da Samarco em Mariana", disse.
BV/LPF/rtr/afp
Tragédia em Mariana
Enxurrada que atingiu Mariana após rompimento de barragem do Fundão, em 5 de novembro, deixou rastro de destruição. Cidade ainda está enterrada na lama.
Foto: DW/N. Pontes
Dificuldades para chegar aos locais atingidos
A reportagem da DW Brasil acompanhou a primeira visita da Defesa Civil de Mariana ao distrito de Paracatu, que fica a 35 quilômetros do centro e foi arrasado pela tragédia. Foi preciso vencer muitas dificuldades na estrada para chegar ao local. Devido ao risco, barreiras de terra foram construídas pela empresa para evitar que ex-moradores trafegassem pelo local.
Foto: DW/N. Pontes
Tentativa de recuperação
Máquinas e homens da Samarco, mineradora responsável pela barragem que se rompeu, trabalham diariamente tentando recuperar as estradas destruídas. Todos os corpos d'água que cruzavam a região ganharam um tom vermelho escuro por causa da presença de minérios. Com as chuvas, o terreno fica ainda mais instável.
Foto: DW/N. Pontes
Lama perigosa
Caminhar pela lama é perigoso. O material despejado sobre o solo endurece quando o sol bate, mas praticamente se liquefaz quando entra em contato com a água. Segundo especialistas, o rejeito de mineração é um material inerte e que não pode ser usado em nenhum setor, como na construção civil. Moradores reviram os escombros sem luva ou qualquer outro equipamento de proteção.
Foto: DW/N. Pontes
Campo de futebol
No antigo campo de futebol, hoje tomado pelos rejeitos, o helicóptero da empresa Samarco pousou para avisar os moradores que eles tinham cinco minutos para fugir antes que a enxurrada de lama chegasse. Vizinhos deixaram tudo para trás e correram pela vizinhança para ajudar crianças e idosos a chegarem ao ponto mais alto do vilarejo.
Foto: DW/N. Pontes
Igreja havia sido reformada
A igreja do vilarejo de Paracatu, construída há mais de 100 anos, havia sido reformada há pouco tempo. Uma cratera ocupa hoje a antiga praça, onde moradores se reuniam todas as noites. Cerca de 70 famílias moravam em Paracatu. Expulsas pela lama, elas estão hospedadas em hotéis de Mariana e querem que o distrito seja reconstruído em outro local.
Foto: DW/N. Pontes
Santos perdidos
Marca na parede do interior da igreja mostra onde a altura que a enxurrada de lama atingiu. De volta ao vilarejo pela primeira vez após a catástrofe, antigos moradores lamentam a destruição e tentam recuperar imagens de santos escondidas na lama. É preciso se equilibrar sobre os assentos que restaram para não afundar.
Foto: DW/N. Pontes
À espera dos donos
Animais de estimação de antigos moradores perambulam pelos escombros das casas, à espera da volta dos donos. Sem água ou comida, eles reviram a lama em busca do que comer. Veterinários de São Paulo fizeram uma campanha e arrecadaram três toneladas de suprimentos para tratar dos animais que estão sendo resgatados.
Foto: DW/N. Pontes
"Eu não sei se esse barro um dia irá sair"
Antigos moradores buscam objetos pessoais enterrados na lama. Depois de uma manhã revirando os escombros, uma moradora mostra o que encontrou: talheres, um aparelho de celular, livros, fotos e até dinheiro. "Eu não sei se esse barro um dia irá sair", diz Uliane Marcelino Tete, que fazia a busca com a ajuda de uma enxada.
Foto: DW/N. Pontes
Centros de doações lotados
Voluntários trabalham no ginásio da cidade para separar roupas e outros objetos destinados aos desabrigados. Em Mariana, os dois centros recebem doações já estão lotados. Mas apesar da grande quantidade de gêneros alimentícios, é provável que o estoque se esgote em trinta dias. Segundo a prefeitura, cidade precisa de mais voluntários para ajudar na separação dos itens.
Foto: DW/N. Pontes
Cidade debaixo da lama
Casas do distrito de Paracatu ainda estão debaixo da lama. A enxurrada atingiu o vilarejo no começo da noite do dia 5 de novembro. Moradores contaram que ouviram um barulho forte se aproximando, mas não conseguiam ver a destruição que ele causava porque já começava a escurecer. Todos os residentes do distrito conseguiram escapar com vida.