Vale prevê custo de US$ 443 milhões com tragédia em Mariana
2 de dezembro de 2015
Mineradora divulga previsões para 2016, que estimam, além de valor de impacto de desastre ambiental no Brasil, corte de investimentos e queda em produção. Empresa é processada para reparar danos da tragédia.
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A mineradora Vale anunciou nesta terça-feira (01/12) que a tragédia causada pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco em Mariana terá um impacto financeiro de 443 milhões de dólares para a empresa em 2016.
A Samarco é controlada em parceria pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton, que estão entre as maiores do mundo no setor. O anúncio foi feito durante a apresentação das metas da mineradora para os próximos anos.
No mesmo evento, a Vale divulgou que irá cortar investimentos no próximo ano, com recursos previstos de 6,2 bilhões de dólares. A previsão foi reduzida dos 8 bilhões estimados em agosto. Os cortes são necessários para que a empresa alcance um fluxo de caixa positivo em 2017.
"Estamos preparados para enfrentar os desafios de 2016 que foram causados pela incerteza da demanda e pela volatilidade dos preços das commodities. Esperamos ter um fluxo de caixa positivo em 2017, e reduzir gradualmente nossa dívida e aumentar os dividendos", afirmou o presidente da mineradora, Murilo Ferreira.
A produção da Vale em 2016 também ficará abaixo das previsões iniciais de 376 milhões de toneladas. A empresa planeja produzir no próximo ano entre 340 milhões e 350 milhões de toneladas.
Ação contra Samarco, Vale e BHP Billiton
A Vale divulgou suas estimativas para os próximos anos um dia após a União e os estados de Minas Gerais e Espírito Santo ajuizarem uma ação de 20 bilhões de reais contra a Samarco e suas empresas controladoras para reparar os danos socioambientais causados pela tragédia.
O rompimentos das barragens deixou 13 mortos e resultou no despejo 34 milhões de metros cúbicos de lama ao longo de 850 quilômetros do rio Doce nos dois estados. Nove pessoas ainda estão desaparecidas.
Segundo um laudo preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), divulgado nesta terça-feira pelo jornal Estado de São Paulo, o desastre atingiu 1,5 mil hectares de terra e mais de 650 quilômetros de rios, incluindo áreas de preservação permanente.
CN/rtr/dpa/ots
Tragédia em Mariana
Enxurrada que atingiu Mariana após rompimento de barragem do Fundão, em 5 de novembro, deixou rastro de destruição. Cidade ainda está enterrada na lama.
Foto: DW/N. Pontes
Dificuldades para chegar aos locais atingidos
A reportagem da DW Brasil acompanhou a primeira visita da Defesa Civil de Mariana ao distrito de Paracatu, que fica a 35 quilômetros do centro e foi arrasado pela tragédia. Foi preciso vencer muitas dificuldades na estrada para chegar ao local. Devido ao risco, barreiras de terra foram construídas pela empresa para evitar que ex-moradores trafegassem pelo local.
Foto: DW/N. Pontes
Tentativa de recuperação
Máquinas e homens da Samarco, mineradora responsável pela barragem que se rompeu, trabalham diariamente tentando recuperar as estradas destruídas. Todos os corpos d'água que cruzavam a região ganharam um tom vermelho escuro por causa da presença de minérios. Com as chuvas, o terreno fica ainda mais instável.
Foto: DW/N. Pontes
Lama perigosa
Caminhar pela lama é perigoso. O material despejado sobre o solo endurece quando o sol bate, mas praticamente se liquefaz quando entra em contato com a água. Segundo especialistas, o rejeito de mineração é um material inerte e que não pode ser usado em nenhum setor, como na construção civil. Moradores reviram os escombros sem luva ou qualquer outro equipamento de proteção.
Foto: DW/N. Pontes
Campo de futebol
No antigo campo de futebol, hoje tomado pelos rejeitos, o helicóptero da empresa Samarco pousou para avisar os moradores que eles tinham cinco minutos para fugir antes que a enxurrada de lama chegasse. Vizinhos deixaram tudo para trás e correram pela vizinhança para ajudar crianças e idosos a chegarem ao ponto mais alto do vilarejo.
Foto: DW/N. Pontes
Igreja havia sido reformada
A igreja do vilarejo de Paracatu, construída há mais de 100 anos, havia sido reformada há pouco tempo. Uma cratera ocupa hoje a antiga praça, onde moradores se reuniam todas as noites. Cerca de 70 famílias moravam em Paracatu. Expulsas pela lama, elas estão hospedadas em hotéis de Mariana e querem que o distrito seja reconstruído em outro local.
Foto: DW/N. Pontes
Santos perdidos
Marca na parede do interior da igreja mostra onde a altura que a enxurrada de lama atingiu. De volta ao vilarejo pela primeira vez após a catástrofe, antigos moradores lamentam a destruição e tentam recuperar imagens de santos escondidas na lama. É preciso se equilibrar sobre os assentos que restaram para não afundar.
Foto: DW/N. Pontes
À espera dos donos
Animais de estimação de antigos moradores perambulam pelos escombros das casas, à espera da volta dos donos. Sem água ou comida, eles reviram a lama em busca do que comer. Veterinários de São Paulo fizeram uma campanha e arrecadaram três toneladas de suprimentos para tratar dos animais que estão sendo resgatados.
Foto: DW/N. Pontes
"Eu não sei se esse barro um dia irá sair"
Antigos moradores buscam objetos pessoais enterrados na lama. Depois de uma manhã revirando os escombros, uma moradora mostra o que encontrou: talheres, um aparelho de celular, livros, fotos e até dinheiro. "Eu não sei se esse barro um dia irá sair", diz Uliane Marcelino Tete, que fazia a busca com a ajuda de uma enxada.
Foto: DW/N. Pontes
Centros de doações lotados
Voluntários trabalham no ginásio da cidade para separar roupas e outros objetos destinados aos desabrigados. Em Mariana, os dois centros recebem doações já estão lotados. Mas apesar da grande quantidade de gêneros alimentícios, é provável que o estoque se esgote em trinta dias. Segundo a prefeitura, cidade precisa de mais voluntários para ajudar na separação dos itens.
Foto: DW/N. Pontes
Cidade debaixo da lama
Casas do distrito de Paracatu ainda estão debaixo da lama. A enxurrada atingiu o vilarejo no começo da noite do dia 5 de novembro. Moradores contaram que ouviram um barulho forte se aproximando, mas não conseguiam ver a destruição que ele causava porque já começava a escurecer. Todos os residentes do distrito conseguiram escapar com vida.