"Vamos caçá-los e fazê-los pagar", diz Biden após ataques
27 de agosto de 2021
Presidente americano prometeu retaliação após duplo atentado que matou 13 soldados americanos e ao menos 60 civis afegãos em frente ao aeroporto de Cabul. Ramo afegão do "Estado Islâmico" reivindica autoria do ataque.
Anúncio
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu nesta quinta-feira (26/08) caçar os responsáveis pelas duas explosões ocorridas nos arredores do aeroporto de Cabul e disse que pediu ao Pentágono que desenvolva planos de ataque aos militantes islâmicos responsáveis pela ação.
"Não vamos perdoar, não vamos esquecer. Vamos caçá-los e fazê-los pagar", afirmou Biden visivelmente abalado em pronunciamento na Casa Branca.
"Os terroristas não vão vencer", acrescentou o presidente americano.
O Pentágono confirmou que 13 soldados americanos morreram. Os ataques também provocaram a morte de ao menos 60 civis afegãos e deixaram pelo menos 150 feridos, incluindo crianças.
Segundo o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, os ataques foram cometidos por pelo menos dois homens-bomba do "Estado Islâmico". Eles detonaram os explosivos perto da entrada Abbey do aeroporto da capital afegã e nas proximidades do Hotel Baron, na mesma região.
O ramo do grupo terrorista "Estado Islâmico" no Afeganistão, que é inimigo do Talibã, reivindicou a autoria dos atentados. A informação foi divulgada em comunicado pela agência de notícias da organização radical islâmica, "Amaq", em seus canais de propaganda na internet.
O autodenominado "Estado Islâmico Khorasan" afirmou que um de seus integrantes conseguiu cometer o ataque depois de passar despercebido pelos postos de segurança "das forças dos EUA e das milícias talibãs em torno da capital, Cabul".
Biden confirma continuidade da operação
Apesar do ataque, Biden afirmou que os EUA continuarão até 31 de agosto com sua missão de evacuação em Cabul e prometeu que, após a retirada das tropas, seu governo encontrará outros meios de tirar os cidadãos americanos e seus aliados do país asiático.
O chefe do Comando Central dos EUA, general Kenneth McKenzie, disse em entrevista que há atualmente 5 mil pessoas dentro do aeroporto à espera do embarque em algum dos aviões de evacuação. Outras dezenas de milhares se aglomeram do lado de fora dos portões, na esperança de fugir do país em um dos voos.
Até agora, os Estados Unidos e os países aliados já retiraram mais de 100 mil pessoas do Afeganistão, entre cidadãos estrangeiros e afegãos que colaboraram com as tropas americanas nos últimos 20 anos, além de suas famílias.
EUA compartilham informações com o Talibã
Para seguir com a missão de evacuação, as Forças Armadas dos EUA estão compartilhando informações com o Talibã, para evitar que ocorram mais atentados como os dessa quinta-feira.
"Eles [os talibãs] têm uma razão prática para nos quererem fora até 31 de agosto. Eles querem retomar o controle do aeroporto. Também queremos partir até essa data, se for possível. Portanto, compartilhamos um objetivo em comum", justificou McKenzie.
Segundo o general, a colaboração está sendo "útil" e o Talibã tem evitado "alguns ataques" ao aeroporto.
De acordo com McKenzie, ainda existem "várias ameaças ativas" contra o local e o próximo atentado pode vir sob a forma de um ataque com foguetes ou um carro-bomba.
Por essa razão, as forças americanas pediram que os talibãs fechem algumas ruas perto do aeroporto, a fim de impedir a aproximação de veículos que poderiam transportar uma bomba.
Anúncio
Vítimas em estado crítico
Muitas das vítimas dos atentados da tarde desta quinta-feira faziam parte da multidão que tenta embarcar nos voos para fugir do domínio do Talibã, que assumiu o poder no país em meados de agosto.
Grande parte dos feridos que recebem atendimento médico após o ataque estão em estado crítico, de modo que o número de mortos pode aumentar. O total de vítimas permanece incerto, com novos pacientes e corpos ainda sendo transferidos para hospitais em Cabul.
A ONG italiana Emergency, que tem um hospital em Cabul, informou via Twitter logo após o atentado que tinha recebido pelo menos 60 pessoas feridas.
"As pessoas que chegaram não conseguiam falar, muitos estavam aterrorizados, seus olhos totalmente perdidos no vazio, seu olhar em branco. Raramente vimos tal situação", descreveu a ONG nas mídias sociais.
Na véspera, Estados Unidos e aliados haviamapelado para que cidadãos saíssem do aeroporto de Cabul devido a ameaças de ataque do "Estado Islâmico".
Avisos quase idênticos foram emitidos por Reino Unido, Alemanha, Austrália e Nova Zelândia sobre "ameaças de segurança".
Muitos países europeus, como a Alemanha, anunciaram nesta quinta-feira suas últimas operações de evacuação saindo de Cabul, devido à deterioração da segurança no aeroporto, com o medo de ataques iminentes como fator determinante.
le (reuters, efe, afp, ap, ots)
A intervenção dos EUA no Afeganistão
Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
Foto: picture-alliance/DoD/Newscom/US Army Photo
Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
Foto: picture alliance/Photoshot
Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
Foto: AP
Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
Foto: Reuters
Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
Foto: Getty Images/AFP
"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.