Vencedores do concurso de ativismo online The Bobs recebem prêmio
19 de junho de 2013![](https://static.dw.com/image/16893010_800.webp)
Li Chengpeng está acostumado ao público. Como se fosse pela centésima vez, ele segurou seu prêmio em direção às câmeras, posando e tomando cuidado para que suas mãos não encobrissem nenhuma das letras estampadas sobre o troféu, um bloco cinza com letreiros escuros. Mas o que ele disse em seu discurso de agradecimento não soou rotineiro, porém algo bem pessoal.
A última vez que ele ganhou alguma coisa foi no quarto ano da escola, relatou o blogueiro chinês, arrancando sorrisos do público. Naquela época, ele foi agraciado pela escola por ter entregado a um policial uma moeda de 1 yuan que encontrou na rua. Na verdade, ele a havia roubado da mãe. "Minha pequena história mostra que, na China, não recebemos nenhum prêmio por dizer a verdade", brincou o blogueiro.
Coragem de falar
O autor e colunista chinês é a figura de proa na luta contra a censura estatal na China. Principalmente os chineses mais jovens, que anseiam por mais liberdade, veneram-no como a uma estrela pop. Milhões desses jovens leem as postagens de Li Chengpeng nas mídias sociais e em sua página de internet.
Li e outros cinco vencedores receberam os prêmios do Bobs nesta terça-feira (18/06), no Global Media Forum, conferência internacional da Deutsche Welle. Os prêmios se destinam a projetos corajosos e inovadores, que lutam pela liberdade, abertura e intercâmbio na rede. "Eles levantam a voz e empregam criatividade, ideias e tempo, para que sejam escutados. Assim, encorajam outras pessoas a ser fortes e a lutar por seus direitos", afirmou a editora-chefe da DW, Ute Schaeffer, ao parabenizar os candidatos.
Um júri internacional de especialistas em internet, entre eles, ativistas, blogueiros e cientistas, escolheu os seis ganhadores dos Prêmios do Júri entre mais de 4.200 candidatos de todo o mundo.
Luta contra a opressão das mulheres
O vencedor da categoria Melhor Ativismo Social foi a iniciativa jovem marroquina 475. O grupo documentou num filme o destino de Amina, uma jovem de 16 anos que se suicidou em 2012, após um juiz marroquino tê-la casado com seu estuprador. O prêmio foi recebido por Houda Lamqaddam, membro do grupo e narradora do documentário. "Este prêmio vai para todos os ativistas que lutam pelos direitos de mulheres e homens de decidir sobre seu próprio corpo", disse Lamqaddam.
Na categoria Melhor Inovação, o ganhador foi o website chinês Freeweibo.com. Os organizadores do site disponibilizam um acesso sem censura ao SinaWeibo.com, a rede social mais usada na China. No FreeWeibo, os usuários podem buscar e compreender termos sensíveis, cujos conteúdos foram apagados pelas autoridades. "Ao tornar visível a censura, mostramos às pessoas o que está acontecendo em seu país. Somente assim, elas podem exercer pressão sobre o governo e mudar algo", explicou Carl Lee, do FreeWeibo, sobre o objetivo do projeto.
Silêncio quebrado
O Prêmio Repórteres Sem Fronteiras foi para a jovem blogueira e ativista de direitos humanos Fabbi Kouassi, da República do Togo, na África Ocidental. Com palavras claras, ela denuncia a brutalidade policial contra jornalistas no país de regime autoritário. Como Kouassi recentemente deu à luz uma criança, ela não pôde estar presente na premiação. O irmão dela, que vive na Alemanha, recebeu o prêmio em seu lugar. "Fabbi tem uma vida arriscada como jornalista no Togo", disse. "Nós nos preocupamos diariamente, mas estamos muito orgulhosos dela."
Mahfuza Akter recebeu o Prêmio Global Media Forum. A jovem faz parte do projeto social revolucionário Info Lady. Trata-se de jovens mulheres bengalis com formação, que viajam centenas de quilômetros de bicicleta, para prover vilarejos remotos dos serviços urgentemente necessários. Equipada com um laptop solar e um smartphobe, Akter disse que pode ajudar "em quase todos os problemas diários dos moradores", seja na área de saúde, seja em fazer uma ligação pelo Skype. O Global Media Forum dá destaque este ano aos desafios da economia global.
Navegando com segurança pela internet
O júri do The Bobs ficou impressionado com a inventividade do projeto Me and My Shadow, que ganhou a categoria Mais Criativo e Original. Nesse site, os usuários são levados, de forma lúdica, a navegar com segurança pela internet. Em países onde existem a censura e o controle da rede, os dados deixados por ativistas na rede podem ter graves consequências – em alguns casos, pode-se tratar de vida ou morte.
Por trás de Me and My Shadow está o Tactical Technology Collective, um grupo internacional que treina ativistas de direitos humanos a lidar com a internet. A gestora Stephanie Hankey recebeu o prêmio em nome do projeto.
O perigo para as pessoas que, em países "não livres", lutam pela liberdade de expressão e democracia, refletiu-se no discurso de quase todos os vencedores. Também o próprio Li Chengpeng disse não se ver como uma pessoa corajosa. Ele afirmou que vive, constantemente, com o medo de represálias e acresceu: "Para mim, a única forma de derrotar esse medo é escrever."