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Os vencedores e os perdedores da pandemia de covid-19

Lone Grotheer | Insa Wrede
31 de dezembro de 2020

A covid-19 atingiu duramente a economia alemã em 2020. Enquanto alguns setores tiveram que lutar pela própria existência, outros registraram crescimento sem precedentes.

Pacotes em esteira prontos para entrega em filial dos correios alemães.
Pacotes em esteira prontos para entrega em filial dos correios alemãesFoto: picture-alliance/dpa/D. Karmann

Este foi um ano sem precedentes em muitos aspectos. Em tempos em que somos incentivados a reduzir nossos contatos, os serviços de entrega prosperam. Isso fez das plataformas de comércio eletrônico as principais vencedoras da pandemia do coronavírus. E, neste pódio, a Amazon fica no topo.

Mesmo antes da pandemia, a multinacional americana já havia obtido lucros recordes. Mas um resultado como o de 2020 é novo até para a Amazon. Só no terceiro trimestre, a empresa teve receita de quase 100 bilhões de dólares (cerca de R$ 520 bilhões). E a expectativa é de ainda mais no quarto trimestre, já que o mais recente lockdown na Alemanha, aliado à temporada movimentada de Natal, provavelmente levará a um crescimento ainda maior.

A Deutsche Post, empresa de correios alemã, também deve estar satisfeita com o número crescente de pacotes que estão sendo enviados no momento, e Frank Appel, CEO da companhia, espera lucros recordes para o ano.

Mas enquanto as compras online estão em alta, as vendas em lojas físicas sofrem. Evitar contatos muitas vezes também significa deixar de sair às compras – o que causou graves perdas de receita para o comércio nas ruas.

Para 2020, a fabricante de suprimentos médicos Dräger espera um crescimento nas vendas de 14 a 22%Foto: picture-alliance/dpa/C. Rehder

Já no setor de saúde, quem prosperou foram os fornecedores dos tão requisitados medicamentos e equipamentos médicos. Entre eles estão a Biontech, cuja vacina foi a primeira a ser oficialmente licenciada na União Europeia, e a Drägerwerk, que produz ventiladores e máscaras faciais.

Prejuízos para a gastronomia, ganhos para os serviços de entrega

Desde março, os restaurantes tiveram que permanecer fechados ou só puderam operar sob estritas restrições. Para aqueles cujos dotes culinários não eram dos melhores, mandar entregá-la em casa era muitas vezes a única opção disponível.

Isso representou um verdadeiro golpe de sorte para a Delivery Hero. O serviço de entrega foi até capaz de figurar no DAX, o mais importante índice de ações alemão. Em 2020, o valor das ações da empresa com sede na Alemanha mais do que dobrou.

Os restaurantes, por outro lado, não se beneficiaram, pois mesmo com suas ofertas de delivery ou take-away, eles não conseguiram compensar as perdas de clientes que consumiam no local.

Atualmente, não é permitido comer em restaurantes na AlemanhaFoto: Sebastian Kahnert/dpa/picture alliance

Mudanças na comunicação de escritório

As videochamadas já existiam muito antes de 2020. Mas trabalhar em equipe apenas por meio de videoconferências? Antes da pandemia, isso dificilmente era considerado uma alternativa. Agora, porém, as videochamadas fazem parte do dia a dia de muitos funcionários, sobretudo de escritórios. Elas simplesmente passaram a ser o nosso "novo normal" daqui para frente.

Uma empresa que se beneficiou imensamente com isso foi a Zoom. Em seus momentos mais agitados, a companhia americana chegou a registrar mais de 300 milhões de usuários participando de reuniões virtuais, e o número de clientes pagantes mais do que triplicou. Isso também se reflete em seus lucros, que quase dobraram para mais de 622 milhões de dólares (cerca de R$ 3,2 bilhões).

Aviação e turismo entre os mais afetados

Nunca viajamos tanto de avião quanto antes do início da pandemia, com o ano de 2019 trazendo enormes ganhos para a indústria da aviação. A eclosão da pandemia, porém, mudou a situação drasticamente, pois as viagens internacionais não eram mais possíveis ou tinham severas restrições.

O resultado foram perdas financeiras na casa dos bilhões para as companhias aéreas do mundo todo. Um pacote de ajuda bilionário foi inclusive destinado à Lufthansa, com o intuito de ajudar a companhia aérea alemã a sair da crise sem ter que declarar falência.

As restrições também trouxeram dificuldades para operadores aeroportuários e outros prestadores de serviços envolvidos no setor.

Alertas e cancelamentos de viagens fizeram de 2020 um ano repleto de horrores para toda a indústria do turismo. Agências de viagens, hotéis e operadoras de turismo – todos no setor foram afetados de maneira negativa.

No futuro, voos de longa distância só serão possíveis com atestado de vacina ou teste negativo de coronavírus Foto: Sven Hoppe/dpa/picture alliance

Feiras empresariais se tornam digitais

Muitas grandes feiras comerciais tiveram de ser canceladas neste ano. Isso não atingiu apenas os organizadores, mas também os empreiteiros e outros prestadores de serviços que atuam nessas feiras.

A Messe Frankfurt, por exemplo, uma das grandes feiras comerciais alemãs. Apesar da covid-19, a organizadora de eventos conseguiu realizar mais de 150 eventos em todo o mundo em 2020. Isso não a livrou, porém, de perdas imensas em faturamento e receita. Na China, os negócios já se recuperaram em quase 80%, mas outros eventos ainda acontecem apenas online.

Na Europa, enquanto isso, as feiras ainda sofrem fortes restrições. A Paris Air Show, por exemplo, que é a maior feira internacional de aviação do mundo, já foi cancelada para 2021. A International Green Week, semana de agricultura de Berlim, acontecerá inteiramente online em janeiro próximo, assim como a Hannover Messe, que também está programada para ser conduzida de forma virtual.

Impacto na indústria de automóveis

Mesmo antes do coronavírus, a indústria automobilística já enfrentava dificuldades, sobretudo devido às rápidas mudanças na tecnologia. Mas durante a pandemia, a indústria mais importante da Alemanha teve que enfrentar também um forte declínio na demanda.

Em todo o mundo, foram construídos menos carros durante o ano. Muitos fabricantes e fornecedores tentaram minimizar as consequências de suas paralisações na produção e cortes de empregos com programas de jornada parcial de trabalho para seus funcionários.

Mesmo assim, o apelo da indústria por uma ajuda financeira não obteve a resposta esperada. Houve, sim, um apoio do governo, mas apenas para veículos elétricos ou híbridos.

Para fabricantes como a Tesla, que dependem exclusivamente de motores elétricos, as vendas foram boas. Isso fez os investidores acreditarem num futuro melhor – e a empresa de Elon Musk se tornou a maior fabricante de carros elétricos do mundo, com uma capitalização de mercado de mais de 500 bilhões de dólares (cerca de R$ 2,6 trilhões).

Atividades de lazer somente online

Durante meses, os grandes eventos não foram possíveis ou enfrentaram duras restrições, uma medida que atingiu artistas, músicos, atletas e organizadores em geral.

Entre janeiro e setembro, a empresa alemã de venda de tickets Eventim registrou uma queda de quase 80% nas vendas em comparação com o ano passado. Além do mais, tanto os artistas no palco, como os técnicos dos bastidores – passando por todos os fornecedores de serviços envolvidos –, tiveram pouca ou nenhuma chance de trabalhar neste ano.

Os clubes esportivos também foram duramente atingidos. Como treinar em grupos se tornou impossível ou severamente limitado, muitos clubes estão hoje lutando pela própria sobrevivência.

E como não podemos nos reunir para aproveitar nosso tempo livre, muitos recorreram ao mundo virtual em busca de entretenimento. Operadores de games e de jogos de azar online e ganharam muitos clientes novos.

Ao mesmo tempo, ofertas educacionais para formação contínua à distância também se tornaram mais populares. Serviços de streaming como Netflix, Amazon Prime ou Disney+ também se beneficiaram com a pandemia e com os constantes apelos para que a população ficasse em casa. De fato, foi um ano como nenhum outro.

 

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