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Venda de armas, bom negócio para Alemanha

mw17 de dezembro de 2003

Fim de negócio com Coréia do Sul reduz soma das exportações de armas, mas vendas aumentaram para outras regiões, segundo Igrejas Católica e Luterana. Brasil comprou 24 milhões de euros em armamentos da Alemanha em 2002.

Armamentos, comércio pouco transparenteFoto: AP

A Alemanha exportou armamentos em 2002 no valor de 3,2 bilhões de euros, ou seja, 440 milhões ou quase 12% a menos que no ano anterior, segundo relatório da Conferência Unificada Igreja e Desenvolvimento (GKKE), que reúne representantes católicos e protestantes. Desde 1997, a GKKE divulga anualmente um balanço das exportações alemãs de armas, em comparação com a política de ajuda ao desenvolvimento.

A retração nas vendas ao exterior pode ser atribuída sobretudo à redução de quase 850 milhões de euros nos negócios com a Coréia do Sul, que em 2001 havia importado peças de submarinos de alto valor. Portanto, para os demais países em geral houve aumento nas exportações, principalmente para a Índia. De acordo com a GKKE, a Alemanha caiu para o segundo maior fornecedor europeu de armas, atrás da França, e figura entre os cinco maiores do mundo, com uma fatia de mercado de 4,5%.

Fora da Europa e da América do Norte, os principais compradores de armamentos alemães em 2002 foram Israel, Índia, Cingapura, Coréia do Sul, Emirados Árabes e Arábia Saudita. O Brasil veio em seguida, com 24 milhões de euros, quase a metade dos 56 milhões exportados para a América do Sul, que aumentou suas compras da Alemanha em 21 milhões. A Conferência Unificada critica que as exportações para países em desenvolvimento ainda representem 25% do total de licenças para venda de armas emitidas pelo governo alemão.

Jogo duplo em Berlim

– A GKKE acusa a coalizão social-democrata e verde de fazer jogo duplo. Berlim prega a paz como o melhor instrumento para o desenvolvimento, mas o volume de venda de armas para regiões em conflitos (Oriente Médio e Índia) contradiz o discurso, advertem as Igrejas Católica e Luterana.

Sauditas estão interessados na compra de blindados FuchsFoto: AP

O relatório ataca a possibilidade de a Alemanha exportar blindados Fuchs para a Arábia Saudita e, principalmente, as declarações do chanceler federal Gerhard Schröder na China, a favor da suspensão do embargo de armas da União Européia ao país oriental, assim como pela exportação de uma fábrica de plutônio. Além disso, a GKKE reivindica ainda o fim da garantia estatal (seguro Hermes) às exportações de armas.

A ministra da Cooperação Econômica e Desenvolvimento rechaçou as críticas da organização religiosa. Heidemarie Wieczorek-Zeul disse que a avaliação das Igrejas está equivocada. As exportações de armamentos para o Terceiro Mundo teriam caído 45% em 2002, sendo que as de armas de guerra para os países mais pobres estariam interrompidas.

Armas pequenas

– Preocupante é também o comércio de armas pequenas, consideradas pela Conferência Unificada Igreja e Desenvolvimento como "as armas de extermínio em massa do século 21". Coordenador da comissão de exportação de armas da GKKE, Bernhard Moltmann aponta o Iraque como possível fonte de expansão delas no Oriente Médio. A comemoração da captura de Saddam Hussein com tiros para o alto pela população mostra a quantidade existente deste tipo de armas.

Moltmann até elogiou o empenho de Berlim na União Européia e nas Nações Unidas para o desarmamento, desmobilização e destruição de armas pequenas no cenário internacional. Entretanto, ele afirma que internamente pouco foi feito neste sentido na Alemanha. A legislação nacional sobre armas seria obsoleta e só sofre mudanças quando ocorre alguma tragédia, como o massacre de estudantes em Erfurt em 2002.

Apoio à proposta de Lula

– Em seu relatório, a GKKE lembra e ressalta a proposta do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva ao G-8, em junho, em Evian, de se criar um imposto sobre o comércio de armas. Calcula-se que se fixado em 1% o imposto poderia gerar mais de 300 milhões de dólares ao ano. Os recursos iriam para um fundo internacional de combate à fome. No entanto, a sugestão teria merecido pouca atenção da imprensa, da opinião pública e dos líderes dos países industrializados, responsáveis por 85% dos negócios armamentistas. Somente o presidente francês Jacques Chirac teria assumido o compromisso de examinar a aplicabilidade da proposta.

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