Imóvel modernista no oeste de Los Angeles está sendo oferecido por 15 milhões de dólares, mas sem qualquer menção ao escritor alemão, que viveu ali após fugir do regime nazista. Destino deve ser demolição.
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Vende-se casa com cinco quartos e quatro banheiros a cerca de quatro quilômetros da praia. Bônus: morar na casa construída pelo escritor alemão Thomas Mann. Tudo isso por cerca de 15 milhões de dólares.
Esse é o preço que uma imobiliária de Los Angeles está pedindo pela casa localizada na rua San Remo, 1550, em Pacific Palisades, no oeste da cidade. Foi nela que Mann completou algumas obras como Doutor Fausto e a última parte de José e seus irmãos. Ele viveu na propriedade entre 1941 e 1952 com a esposa e a filha.
No alto de uma colina, a casa foi levantada a pedido do próprio Mann, durante seus anos de exílio nos EUA, quando fugiu do regime nazista. Esse fato em si já seria uma curiosidade, já que a maioria dos exilados alemães que viviam na região preferia alugar imóveis mais antigos.
Mann não só mandou construir a casa, como chamou um arquiteto modernista berlinense para projetá-la: Julius Ralph Davidson. Segundo o jornalSüddeutsche Zeitung, a decisão de Mann foi provavelmente motivada pelo seu gosto pela região. Ao contrário de outros exilados como Bertolt Brecht, Mann gostava das paisagens e do clima da Califórnia. Em 1952, ele vendeu o imóvel e voltou à Alemanha. O jornal classificou a casa como uma parte da herança cultural alemã.
Temor de demolição
Só que nos anúncios, a casa está sendo oferecida como uma propriedade de luxo qualquer. Neles constam descrições sobre o tamanho e o ano da construção, mas não há nenhuma indicação sobre o ex-morador famoso ou sobre o arquiteto. Segundo o SZ, isso tem levado a especulações sobre a possibilidade de a casa ser demolida por eventuais novos proprietários.
O jornal aponta que o preço pedido é elevado para uma casa da década de 40 e que não apresenta luxos comparáveis ao de mansões mais modernas. A propriedade também está em uma região valorizada de Los Angeles e, portanto, pode ser interessante para o novo proprietário dividir o terreno e construir mais unidades.
A demolição não seria uma situação inédita, a comunidade literária de Los Angeles já ficou consternada no ano passado quando um empreendedor demoliu a casa em que o escritor Ray Bradbury morou e trabalhou durante cinco décadas.
De acordo com o jornal, Lilian Pfaff, uma pesquisadora da história da arquitetura que mora região, está tentando chamar a atenção das autoridades alemãs e de preservação do patrimônio histórico de Los Angeles para a casa. No final dos anos 80, uma ONG alemã comprou a casa do dramaturgo Lion Feuchtwanger, que também fica em Pacific Palisades. Hoje o local abriga o Instituto Cultural Alemão Villa Aurora.
A pesquisadora, que está justamente elaborando um trabalho sobre o arquiteto Davidson, também contou que os corretores têm vetado visitas à casa. Somente interessados que comprovem ter 15 milhões podem admirar a propriedade em que Mann passou mais de uma década da sua vida.
Thomas Mann e as artes plásticas
Escritor alemão foi um apaixonado pelas artes plásticas. Exposição dupla em Lübeck mostra esse lado do autor, que mais tarde se tornou, ele mesmo, um objeto artístico.
Foto: Wien Museum
Escritor e amante da arte
Ele é um dos mais conhecidos escritores alemães do século passado: o Prêmio Nobel de Literatura Thomas Mann (1875-1955). Ele era também um amante da arte, que gostava de ir a exposições e era amigo de artistas e conhecedores de arte. As artes plásticas o inspiraram e influenciaram sua obra literária. Max Oppenheimer o retratou em 1926.
Foto: Wien Museum
Admirador da arte moderna
Thomas Mann era entusiasmado principalmente pela arte moderna. Ele acompanhava atentamente o que produziam artistas como Hans Thoma, Ludwig von Hofmann, Arnold Böcklin, Max Liebermann, Max Oppenheimer, Oskar Kokoschka e Emil Nolde. Este último pintou o quadro "Entrada em Jerusalém" (1915), aqui mostrado.
Foto: Keystone/Thomas-Mann-Archiv/Atelier Kesten
Promotor de artistas
O escritor não só admirava com prazer o trabalho dos pintores, ele também buscou contato com artistas contemporâneos. Ele os promovia, dedicando a eles seus ensaios. Mann escreveu um prefácio para publicações do gravador Frans Masereel, cuja xilogravura "Autorretrato" (1926) pode ser vista aqui. As obras do fotógrafo Albert Renger-Patzsch também eram homenageadas nas críticas do autor.
Foto: Museum Behnhaus Drägerhaus,VG Bild-Kunst,Bonn 2014
Ensaios sobre arte e sociedade
O grande romancista escreveu muitos tratados sobre arte, artistas (como Ernst Barlach, que criou em 1907 a "Mendiga russa I") e o papel da arte na sociedade. Ele também era fascinado pela arte de outras eras. Mann se ocupou, por exemplo, com os artistas do Renascimento Michelangelo e Albrecht Dürer.
Foto: Museum Behnhaus Drägerhaus
Uma aura especial
Obras de arte, especialmente originais, exerciam atração especial sobre o escritor. Isso valia para a pintura a óleo "Die Quelle" (A fonte, de 1913) de Ludwig von Hofmann, que Mann comprou em 1914 e pendurou em seu escritório. Outros trabalhos de Hofmann influenciaram o autor de forma decisiva, sobretudo durante a produção de seu romance "A Montanha Mágica".
A pintura "Kinderkarneval" (Carnaval de crianças, de 1888/89), do pintor Friedrich August Kaulbach, foi muito famosa em sua época. Foi reproduzida em diversas revistas e podia ser encontrada em guardanapos e louças. Thomas Mann também conhecia e amava o quadro. Somente mais tarde, soube que ele retrata sua futura mulher, Katia Pringsheim, e os irmãos dela.
Foto: Privatbesitz
Obras de arte como inspiração
Frequentemente Mann usava a arte para representar literariamente figuras, situações ou ambientes. Em "Buddenbrooks", ele descreve o mirante Brodtener Seetempel, onde Tony Buddenbrooks se encontra com Morten. O lugar realmente existiu, mas foi destruído em 1872 por uma tempestade. Mann se orientou por uma litografia de um artista desconhecido, produzida por volta do ano 1870.
Foto: unbek. Künstler um 1870
"Não pode ser tão ruim assim"
Em 1900, Mann viu durante a exposição da Secessão de Munique a pintura "Das Herz" (o coração), de Martin Brandenburg. Então, escreveu a seu amigo historiador de arte Paul Ehrenberg: "O quadro me impressionou muito, o que significa que ele provavelmente não custa cinco tostões sequer. Mas ele não pode ser tão ruim assim." Hoje, o quadro está desaparecido.
Foto: Abgebildet in:„Die weite Welt“Nr.14/1901
Obra de arte Thomas Mann
Mann se tornou, ele mesmo, um objeto de arte. Inúmeros retratos e caricaturas do escritor provam isso. Além disso, ainda há as ilustrações para seus textos realizadas por artistas gráficos de renome, como Alfred Kubin e Emil Preetorius. O escultor Hans Schwegerle, também nascido em Lübeck, fez em 1919 esta escultura em bronze do escritor.
Foto: Museum Behnhaus Drägerhaus
Pelos olhos do escritor
A dupla exposição "Augen auf! Thomas Mann und die bildende Kunst" (Abra os olhos! Thomas Mann e as artes visuais) pode ser visitada até 6 de janeiro de 2015 no Museu Behnhaus Drägerhaus e na Buddenbrookhaus, em Lübeck. A mostra apresenta obras de arte que Thomas Mann conhecia e apreciava, além de ilustrações feitas para seus textos.