Venezuela anuncia reabertura da fronteira com a Colômbia
5 de outubro de 2021
A Venezuela anunciou a "abertura comercial" de sua fronteira com a Colômbia, dois anos após a crise política e diplomática causada por uma tentativa fracassada da oposição de trazer ajuda humanitária aos venezuelanos.
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A Venezuela vai reabrir sua fronteira com a Colômbia, disse a vice-presidente venezuelana Delcy Rodriguez em um discurso na televisão estatal nesta segunda-feira (4/10). Ao mesmo tempo, o presidente colombiano, Ivan Duque, disse em uma declaração que seu país estava disposto a iniciar "um processo ordeiro" para se abrir.
Em fevereiro de 2019, o regime de Nicolás Maduro ordenou o bloqueio da ponte internacional Simón Bolívar, que liga o país à Colômbia, assim como outras passagens de fronteira com esse país, devido a uma tentativa fracassada da oposição venezuelana de trazer ajuda humanitária, que o presidente Nicolás Maduro viu como uma tentativa de "invasão" estrangeira.
O trânsito regular já havia sido restringido desde 2015 por decisão de Maduro, que denunciou naquela ocasião uma "emboscada" de soldados venezuelanos. A partir de então, somente os pedestres podiam passar, mas em fevereiro de 2019 o bloqueio foi estendido, com a colocação de contêineres nas pontes que ligam os dois países.
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"A partir de amanhã, estaremos abrindo o comércio entre nossos países", disse a vice-presidente Delcy Rodríguez nesta segunda-feira. Antes disso, os contêineres que bloqueavam a ponte Simón Bolívar no estado de Táchira, principal passagem de fronteira entre a Venezuela e a Colômbia, foram removidos e o tráfego de pedestres começou a fluir, disse um repórter da agência de notícias AFP.
"Viemos aqui e ficamos realmente surpresos", disse Alexis Contreras, de 42 anos, que estava caminhando de Cúcuta até a cidade venezuelana de San Antonio del Tachira. "Estávamos pensando em como passar pela trilha", acrescentou ele, referindo-se às passagens irregulares pelas quais a maioria das pessoas estava passando.
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Trânsito de carga só após avaliação técnica
O portal Migración, do ministério colombiano do Exterior, esclareceu em uma declaração que "a passagem de veículos de carga através da ponte internacional ocorrerá após validações técnicas (...) relativas à estabilidade da estrutura da ponte".
Venezuela e Colômbia compartilham uma fronteira de mais de 2 mil quilômetros. Os contêineres, acompanhados por uma forte presença militar, haviam sido colocados em meio a um impasse sobre a entrada de alimentos e suprimentos médicos gerenciados pelo líder da oposição Juan Guaidó, que foi reconhecido como presidente interino da Venezuela por mais de 50 países, incluindo os Estados Unidos e a Colômbia.
Maduro, que rompeu relações diplomáticas com Bogotá por causa do reconhecimento de Guaidó pela Colômbia naquele dia, ordenou o fechamento da fronteira com o argumento de que as doações eram um pretexto para uma "invasão" americana.
O bloqueio impediu a entrada de remessas de Cúcuta em 23 de fevereiro de 2019, levando a violentos tumultos do lado venezuelano. A crise na Venezuela provocou a uma onda de emigração, com pessoas procurando refúgio em países vizinhos.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) mais de 5 milhões de pessoas fugiram do país por causa da insegurança política, violência, falta de alimentos e remédios e serviços básicos.
rw (afp, reuters)
A tensão nas fronteiras da Venezuela
Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.