Venezuela em suspense com ajuda humanitária dos EUA
23 de fevereiro de 2019
No pôquer político no país sul-americano, Guaidó exige cooperação de Forças Armadas para garantir entrega, Maduro fala de "cavalo de Troia". Brasil quer participar com 200 toneladas de mantimentos.
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Transcorre neste sábado (23/02) a data limite anunciada pelo autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, para a entrada no país da ajuda humanitária internacional. Os alimentos e medicamentos deverão chegar através de três postos fronteiriços com a cidade colombiana de Cúcuta, segundo anunciou quinta-feira a deputada venezuelana exilada Gaby Arellano.
A capital do departamento Norte de Santander e a cidade de San Cristóbal, no estado de Táchira, partilham a travessia fronteiriça das pontes internacionais de Simón Bolívar, Francisco de Paula Santander e Tienditas. Uma parte da assistência humanitária que os Estados Unidos querem fazer chegar aos venezuelanos encontra-se armazenada em Cúcuta, na fronteira da Colômbia com a Venezuela.
Juan Guaidó, opositor de Maduro e reconhecido por mais de 50 países como presidente interino do país, prometeu introduzir essa ajuda humanitária na Venezuela numa operação para que estão mobilizados milhares de cidadãos. A ajuda humanitária parece garantida, mas a incógnita é como fazê-la entrar na Venezuela, depois de o governo de Nicolás Maduro ter fechado as fronteiras à entrada de medicamentos e alimentos oriundos dos EUA.
O Brasil também aguarda a oportunidade para prestar assistência à população. Segundo o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, há cerca de 200 toneladas de alimentos, como arroz, feijão, açúcar, café, sal e leite em pó, além de kits de primeiros-socorros “à espera do transporte”.
"A operação brasileira tem caráter exclusivamente de ajuda humanitária, não havendo qualquer interesse de nosso país em quaisquer outras frentes neste momento", assegurou Barros na sexta-feira.
Guaidó dera indicações às Forças Armadas para que deixassem entrar as doações internacionais neste sábado, dizendo que tinham três dias para "seguir as ordens do presidente encarregado da República". O político oposicionista afirmou que os alimentos e medicamentos chegarão "por ar, por mar e por terra", sem especificar os pontos da entrada. Temem-se choques militares na fronteira.
Segundo Nicolás Maduro, essa ajuda seria um "cavalo de Troia", visando abrir caminho a uma intervenção militar americana. Essa leitura política conta com a concordância diplomática do governo russo. Na quarta-feira, as autoridades russas confirmaram o envio de um carregamento de medicamentos e de equipamento médico. Deste, 7,5 toneladas de medicamentos e material médico já teriam chegado à nação sul-americana, anunciou o presidente em exercício na noite seguinte.
Em reação aos confrontos desta sexta-feira na fronteira da Venezuela com o Brasil, com dois mortos, o governo de Donald Trump advertiu na sexta-feira que Maduro, "e aqueles que seguem suas ordens" não ficarão "impunes". "Os Estados Unidos condenam veementemente o uso da força pelos militares venezuelanos contra civis desarmados e voluntários inocentes", anunciou a Casa Branca em comunicado.
Concerto na fronteira da Venezuela angaria doações para o país em crise. Mas astros da música se empenharem por causas humanitárias e políticas é uma prática de longa tradição. Alguns casos que fizeram história.
Foto: picture-alliance/MediaPunch/P. Tarnoff
1969: Woodstock, hippies e rebeldia
O Festival Woodstock, nos EUA, definiu o espírito de uma época entre "flower power" e protesto político. O show com que Jimi Hendrix encerrou o evento, com grande atraso, ficou inesquecível para muitos: com selvagens distorções em sua guitarra, microfonia e outros efeitos, o roqueiro acompanhou o hino nacional americano com sons de bombardeios e metralhadoras, numa crítica à guerra do Vietnã.
Foto: picture-alliance/MediaPunch/P. Tarnoff
1985: Ajuda para a África
O maior evento de rock de todos os tempos foi por uma excelente causa: o Live Aid realizou-se em parte no Estádio de Wembley, em Londres, tendo como clímax um show da banda Queen. Ao mesmo tempo transcorria um outro concerto na Filadélfia, nos Estados Unidos. Ao todo, os organizadores Bob Geldof e Midge Ure arrecadaram mais de 100 milhões de euros para as vítimas da fome na África.
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1987: Um concerto para Berlim
No Concert for Berlin, apresentaram-se, diante do prédio do Reichstag, superstars como David Bowie e os grupos Eurythmics e Genesis. A metrópole completava os 750 anos de sua fundação: por relativamente modestos 50 marcos (cerca de 25 euros), os fãs puderam assistir durante três dias alguns dos maiores nomes da música pop. Enquanto isso, um outro espetáculo transcorria do outro lado do Muro.
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1987: Cassetetes contra Bowie
A música da Alemanha Ocidental soava para além do Muro de Berlim, pelo Leste adentro, onde muitos jovens não queriam perder de jeito nenhum a apresentação de David Bowie. A intenção dos promotores do evento fora mesmo unir com o rock as duas metades da cidade. Porém, o governo comunista da Alemanha Oriental não gostou nem um pouco, e a polícia investiu de cassetete em punho contra os jovens.
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1988: Concerto e "anticoncerto"
No ano seguinte, o "rei do pop" Michael Jackson apresentou-se em Berlim Ocidental. Mas desta vez o governo da RDA havia se preparado: para evitar um novo escândalo, realizou-se paralelamente em Berlim-Weissensee um grande concerto com Joe Cocker e Bryan Adams, entre outros. A tática de distração funcionou, e os eventos transcorreram basicamente tranquilos.
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1988: Liberdade para Mandela
Em 11 de junho de 1988, o Estádio de Wembley, em Londres, foi palco de dez horas de músicas de rock em homenagem ao 70º aniversário de Nelson Mandela. A essa altura, o ativista sul-africano já passara 25 anos encarcerado, e só seria libertado em 1990. Os shows de Sting, Phil Collins, Peter Gabriel e Whitney Houston foram transmitidos para 60 países – a África do Sul não estava incluída.
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2003: Música contra o HIV
Para alertar sobre os efeitos do vírus HIV e da aids, a Fundação Nelson Mandela promoveu a campanha "46664" – o número do ativista sul-africano na prisão. O próprio Mandela (esq.) esteve presente no primeiro e maior concerto da campanha em 2003, na Cidade do Cabo. Astros de porte mundial, como Bono, do U2 (no centro), Anastacia e Beyoncé, cantaram para mais de 40 mil espectadores.
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2005: Combatendo a pobreza
Vinte anos após os espetaculares shows beneficentes do Live Aid, em Londres e Filadélfia, Bob Geldof promoveu mais um evento, pouco antes da cúpula do G8, na Escócia, cujo tema era a ajuda humanitária para os países africanos. Nos concertos do Live 8, em 11 locações espalhadas por quatro continentes, ele clamava: "Make Poverty History" (Faça a pobreza virar história).
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2010: Esperança para o Haiti
Após um terremoto que devastou o Haiti, numerosos artistas recolheram doações para os sobreviventes. Entre os que participaram do evento A Song of Hope for Haiti, na República Dominicana, esteve Luis Fonsi (foto). Mas também em Los Angeles e Londres apresentaram-se pop-stars como Coldplay, Rihanna e Justin Timberlake.
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2018: "Nós somos mais"
Poucos dias após os graves choques na cidade alemã de Chemnitz, na Saxônia, em que extremistas de direita atacaram imigrantes, diversos músicos alemães levantaram a bandeira contra a ultradireita num grande concerto. Sob o slogan #wirsindmehr (Nós somos mais), bandas como Feine Sahne Fischfilet (foto), Die Toten Hosen e K.I.Z. levaram mais de 65 mil espectadores até a cidade no leste alemão.