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Referendo venezuelano

Mirra Banchón (ak)4 de dezembro de 2007

No referendo da Venezuela ganhou o 'não'. Sobre o significado desta primeira derrota do presidente Hugo Chávez em consulta popular, a DW-WORLD conversou com Nikolaus Werz, especialista em política iberoamericana.

Estudantes comemoram o resultado do referendoFoto: AP
DW-WORLD: É a primera vez que o presidente Chávez perde em uma consulta popular desde 1998. Como se entende esta derrota? Nikolaus Werz: O presidente Chávez, depois de ter sido reeleito em 2006 por uma maioria esmagadora, tratou de acelerar o que ele chama de "processo rumo ao Socialismo do Século 21". Foi ele mesmo quem definiu as pautas para o referendo realizado no domingo sem pensar que a maioria da população talvez esteja de acordo com sua pessoa, mas não com seu projeto. Isso foi o que materializou o referendo do final de semana. É este o começo do fim do presidente Chávez?

Pode ser, mas primeiro é preciso analisar o aconteceu. É preciso dizer que há três coisas que influem aí. Por um lado, que o ex-general Baruel – que foi um grande apoiador de Chávez sobretudo no golpe de 2002 – tenha se afastado dele e qualifique o referendo de "autêntico golpe de Estado".

Segundo fator: parte da esquerda venezuelana, que até agora o tem seguido criticamente, se afastou de Chávez e de sua idéia de criar um Partido Unido Socialista Venezuelano.

O terceiro fator enraíza-se em sua política exterior bastante acidentada nos últimos tempos. Que ele tenha atacado não só o rei espanhol e a Espanha, mas também a Colômbia, assustou muita gente. É preciso levar em conta que a colônia espanhola na Venezuela é bastante grande: há 700 mil espanhóis no país, muitos deles são votantes e pequenos empresários.

Pode-se ver, então, o resultado do referendo como uma oportunidade para superar a polarização do país?

O 'não' ganhou, mas a proposta do presidente Chávez continua em péFoto: AP

Com certeza. Esta é uma oportunidade para a oposição, que até agora não desempenhou seu papel muito bem. Foram os estudantes que, na primavera, e agora antes do referendo, levantaram sua voz. Eles não têm relação com os antigos partidos e vamos ver se surgem figuras que realmente encontrem um caminho para este país que esteja baseado na democracia e na tolerância que tanto apreciamos na história da Venezuela.

Qual a relevância deste movimento?

Bom, se julgamos historicamente temos visto que os estudantes encabeçaram a revolta contra o caudilho Juan Vicente Gómez, em 1928, e desempenharam um papel importante na queda do ditador Marcos Pérez Jiménez, em 1957. Ou seja, os estudantes na Venezuela tiveram influência na troca de geração. Neste caso, seu discurso não está tão ligado ao de confronto que tem recebido o presidente Hugo Chávez Frías nos últimos anos.

Por outro lado, nove anos de presidente Chávez têm dado poder à classe marginalizada do país e, segundo fontes venezuelanas, conseguiram criar novas estruturas sociais…

Isso é bem possível; pode-se especular que o voto agora foi contrário ao referendo e não necessariamente contra o presidente. Chávez tem por suas missões e por certas dádivas sociais, um apoio da sociedade marginalizada, o qual no entanto, depende dos altos preços do petróleo.

Os "eurochavistas" – apoiadores de Chávez na Europa – às vezes ressaltam o lado democrático do presidente venezuelano. Pode-se dizer que há mais democracia na Venezuela do que na Rússia, por exemplo?

Talvez sim. É muito difícil julgar. No entanto, ao comparar os processos eleitorais na Rússia e na Venezuela, creio que o resultado na Venezuela é chamativo.

"Já daremos um jeito", declarou o presidente Chávez que permanecerá no poder até 2013. Qual será, na sua opinião, esse jeito?

Para conseguir impôr o que não foi aceito agora pelos eleitores? Não se sabe. Sabemos que ele usou o referendo e provavelmente encontrará outro momento para reapresentar sua proposta. Mas isso depende da oposição. Se esta realmente unir suas forças e conseguir um debate mais sereno e específico sobre o futuro da Venezuela… que bom, pois certamente será para o bem do país.

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