Venezuela reabre parte da fronteira com a Colômbia
8 de junho de 2019
Maduro ordena desbloqueio da passagem entre os dois países no estado venezuelano de Táchira. Fronteira terrestre foi fechada em fevereiro para frustrar operação de envio de ajuda humanitária liderada por Guiadó.
Anúncio
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou a reabertura de parte da fronteira com a Colômbia a partir deste sábado (08/06). A medida envolve a passagem entre os dois países no estado de Táchira, no oeste da Venezuela, que estava fechada há quase quatro meses.
"Em exercício pleno de nossa soberania, ordenei a abertura das passagens fronteiriças do estado de Táchira com a Colômbia a partir deste sábado. Somos um povo de paz que defende firmemente nossa independência e autodeterminação", escreveu Maduro no Twitter.
O líder chavista ordenou o fechamento total das fronteiras terrestres com o Brasil e a Colômbia em 22 de fevereiro. A intenção foi frustrar uma tentativa de envio de ajuda humanitária à Venezuela por terra a partir dos dois países vizinhos, programada para o dia seguinte.
A operação – comandada pelo líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por dezenas de países, inclusive o Brasil – encontrou forte resistência militar e acabou fracassando. Maduro alegou que a entrada de ajuda era apenas uma desculpa da oposição, aliada a potências estrangeiras, para invadir o país militarmente.
Desde então, o governo restringiu o tráfego de pessoas em três das quatro pontes que ligam o país à Colômbia em Táchira – a não ser por razões médicas ou educacionais. A quarta ponte, a de Tienditas, nunca foi inaugurada para pedestres ou veículos.
Ao longo dos últimos anos, o governo de Maduro determinou o fechamento das fronteiras terrestres e marítimas da Venezuela em várias oportunidades, alegando ingerência estrangeira e outros motivos contra a chamada revolução bolivariana.
A Venezuela compartilha fronteira com a Colômbia em outras duas regiões, nas quais as passagens de pedestres estão sendo realizadas com as mesmas restrições aplicadas em Táchira.
O fluxo migratório entre os dois países tem ocorrido por acesso ilegais, alguns deles próximos aos postos controlados pelas forças de segurança. O governo chavista afirma que 5 milhões de colombianos vivem no país.
A fronteira com o Brasil, por sua vez, foi reaberta no mês passado, bem como a rota marítima para a ilha de Aruba, que também havia sido bloqueada – as autoridades do território caribenho, no entanto, afirmaram que a fronteira continuará fechada.
A ONU informou nesta sexta-feira que, desde novembro de 2018, mais de um milhão de venezuelanos deixaram o país para fugir da grave crise econômica e humanitária. A cifra eleva para 4 milhões o número total de migrantes e refugiados da Venezuela desde 2016.
Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.