A tentativa de Maduro de eleger um governador em Essequibo
23 de maio de 2025
Regime chavista fará pleito para escolher chefe de governo e deputados para o território guianense rico em petróleo. Líder venezuelano ordenou "controle rigoroso" das fronteiras.
Após referendo de 2023 na Venezuela, território de Essequibo foi incorporado ao novo mapa oficial do paísFoto: Ariana Cubillo/AP Photo/picture alliance
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No próximo domingo (25/05), a Venezuela vai eleger um governador e oito deputados para o território de Essequibo, a gigante região guianense que há mais de um século é disputada pelos dois países. Sete membros do conselho legislativo regional também serão escolhidos.
É a primeira vez que a Venezuela pretende apontar autoridades para a área de 160 mil quilômetros quadrados tomada por floresta, sobre a qual não tem qualquer poder efetivo, já que Essequibo é internacionalmente reconhecido como um território da Guiana.
Ninguém no próprio Essequibo poderá participar. Os centros de votação ficarão no estado fronteiriço de Bolívar, na Venezuela, onde vivem os pouco mais de 21,4 mil eleitores venezuelanos que compõem o distrito eleitoral recém-criado.
A eleição anunciada pelo líder chavista Nicolás Maduro desafia pedidos da Comunidade do Caribe (Caricom) e da Corte Internacional de Justiça (CIJ), declarada competente para decidir sobre a disputa, que instaram Caracas a desistir de realizar eleições para uma área que não controla.
"Nossa vontade de recuperar os direitos históricos, territoriais e demais da Guiana Essequiba é inabalável", disse Maduro na quarta-feira. Ele ordenou o estabelecimento de um "controle rigoroso" na fronteira com a Guiana sobre o movimento de pessoas e veículos "por terra, ar e mar" antes das eleições regionais.
Já seu homólogo guianense, Irfaan Ali, reafirmou sua posição de que seu país não entregará, "nem agora nem nunca", qualquer parte do Essequibo à Venezuela.
Seu governo também advertiu que qualquer guianense ou residente do país que apoiar as eleições planejadas pela Venezuela será acusado de traição.
"A questão do Essequibo foi resolvida há muito tempo e eles (os venezuelanos) não estavam interessados até que surgiram problemas políticos locais e quando descobrimos o petróleo", acrescentou Ali.
Não há mais detalhes sobre as eleições. O site do Conselho Eleitoral Nacional (CNE) venezuelano, que organiza este e o pleito dos demais estados do país no próximo domingo, não funciona desde julho de 2024, quando Maduro foi proclamado vencedor da eleição presidencial.
O número de eleitores que participarão da eleição foi obtido por agências de notícias. O candidato do chavismo é o ex-comandante da Marinha venezuelana, Neil Villamizar. A oposição é representada por Alexis Duarte. Ele rejeitou o pedido da líder de seu partido, María Corina Machado, para boicotar o pleito.
Em 2023, venezuelanos votaram em referendo por anexação do território Foto: Juan Carlos Hernandez/ZUMA Wire/IMAGO
Impasse histórico
O impasse entre Caracas e Georgetown vem de longa data. As disputas de limites fronteiriços sobre o Essequibo começaram com o Laudo Arbitral de Paris, de 1899, que deu soberania sobre o território à então Guiana Britânica.
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Em 1966, a Venezuela contestou a decisão sob suspeita de conluio entre os árbitros e os britânicos. O país sul-americano assinou, então, o Acordo de Genebra com o Reino Unido, que estabeleceu uma nova comissão para resolver a disputa. Com a subsequente independência da Guiana, a discussão não se concretizou.
A reivindicação foi reativada pelo regime de Maduro em 2023, quatro anos após o país vizinho iniciar a extração de grandes volumes de petróleo que rapidamente transformou sua economia.
O petróleo bruto foi descoberto no local em 2015 pela petrolífera americana ExxonMobil. A perspectiva anunciada pela empresa de produzir mais de 1 milhão de barris por dia até 2027 trouxe imediato interesse do mercado internacional, preocupado em encontrar fontes estáveis e alternativas à agora sancionada Venezuela.
Mesmo com um acordo de distribuição de royalties do petróleo considerado enxuto pelos guianenses, a reserva provada de 11 bilhões de barris de petróleo encontrada na costa de Essequibo fez a economia disparar. Em 2022, a Guiana foi o país cujo PIB mais cresceu no mundo, 62% maior em comparação ao ano anterior, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Essequibo é rico em minerais, em sua área de floresta, e petróleo, na região costeiraFoto: Reybert Carrillo
Eleição sem jurisdição
A Venezuela alega ter herdado o Essequibo da era colonial espanhola e, em 3 de dezembro de 2023, realizou um referendo sobre sua soberania em relação ao território sem a participação de guianenses.
O mesmo acontece agora com a eleição do primeiro governador, que não terá autoridade sobre os habitantes dessa região.
"Não há jurisdição e eles não exercerão a soberania", explicou Ricardo de Toma, pesquisador venezuelano sobre a questão de Essequibo no Instituto Meira Mattos, no Rio de Janeiro. "A eleição é simbólica, o mandato será simbólico."
O cientista político Gabriel Flores, entretanto, vê as eleições como "um ato estratégico da Venezuela para reafirmar seu domínio sobre o território disputado".
A Guiana também reforçou sua presença militar na fronteira no período que antecede as eleições. E, na semana passada, denunciou um suposto ataque contra suas tropas.
Disputa reativada por Maduro ampliou receios de conflito armadoFoto: Federico Parra/AFP/Getty Images
"Não vamos cair em provocações", disse o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino, que incluiu na saudação militar a frase "O sol da Venezuela nasce no Essequibo". A presença de um navio de guerra britânico na Guiana em 2023 também levou a Venezuela a mobilizar mais de 5,6 mil soldados em exercícios militares perto da fronteira com a área disputada.
O candidato independente venezuelano ao parlamento de Essequibo, Julio César Pineda, do Movimento Ecológico, argumentou que a ação é "metafórica" e que não haverá ocupação real do território guianense. "Não vamos ter um escritório físico do governador lá, não vamos ter um palácio do governo, é uma manifestação de nacionalidade", disse.
gq/bl (afp, efe, ots)
O mês de maio em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Francesco Sforza/REUTERS
Ucrânia e Rússia trocam centenas de prisioneiros
A Rússia e a Ucrânia informaram terem trocado 307 prisioneiros de guerra de cada lado neste sábado, no segundo dia da maior troca de prisioneiros desde o início da guerra, que almeja trocar no total mil prisioneiros de cada país. Na foto, soldados ucranianos beneficiados pelo acordo retornam para o seu país (24/05).
Morre Sebastião Salgado, gênio brasileiro da fotografia documental
Fotógrafo entrou em 1979 para a lendária agência Magnum Photos e ganhou fama internacional com suas imagens icônicas em preto e branco. Se no princípio a pobreza, a guerra e as migrações foram os principais motivos de seus trabalhos, mais tarde ele transformou sua obra numa homenagem colossal ao planeta. Reconhecido internacionalmente, Salgado morreu aos 81 anos. (23/05)
Foto: imago images / photothek
Israel reforça segurança de embaixadas após atirador matar dois de seus funcionários nos EUA
O casal Sarah Milgrim e Yaron Lischinsky foi morto a tiros ao deixar um evento no Museu Judaico da Capital, em Washington. O suspeito foi detido aos gritos de "Palestina livre". O ataque ocorreu num momento em que o governo israelense é alvo crescente de críticas internacionais pela forma como conduz a ofensiva contra o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza. (22/05)
Salão Oval vira, mais uma vez, palco de "emboscada"
O presidente dos EUA, Donald Trump, aproveitou a visita do presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, para apresentar supostas provas de um "genocídio" contra fazendeiros brancos sul-africanos, teoria propagada por Elon Musk. O mal-estar diplomático foi transmitido ao vivo. Jovens negros são as maiores vítimas da violência na África do Sul, que ainda enfrenta marcas do apartheid. (21/05)
Foto: Jim Watson/AFP/Getty Images
Reino Unido sanciona Israel por ofensiva militar em Gaza
Após avisar que tomaria "ações concretas" contra a escalada das operações israelenses em Gaza, o Reino Unido interrompeu as negociações sobre um acordo de livre comércio com Israel, convocou a embaixadora do país para prestar esclarecimentos e impôs novas sanções contra colonos da Cisjordânia. Já a UE disse estar aberta a revisar um acordo de associação com Israel. (20/05)
Foto: REUTERS
União Europeia e Reino Unido firmam maior acordo pós-Brexit
Quase nove anos depois de votar pelo Brexit, o Reino Unido chegou a um amplo acordo com a União Europeia que vai redefinir seus laços comerciais e de defesa. O pacto viabiliza investimentos militares, reduz controles de fronteira e compartilha controle comercial marítimo. (19/05)
Foto: Carl Court/AP/picture alliance
Leão 14 celebra missa inaugural de seu pontificado
O papa Leão 14 celebrou sua missa de entronização, que inaugura seu pontificado e marca oficialmente o início de seu período à frente do Vaticano e da Igreja Católica. Na homilia, o papa pediu união e amor à humanidade, e condenou o sistema econômico que explora os recursos da Terra e marginaliza os pobres (18/05)
Foto: Yara Nardi/REUTERS
Áustria vence Eurovision 2025
O festival Eurovision 2025 chegou ao fim com a vitória de Johannes Pietsch, conhecido como JJ, da Áustria, que apresentou a canção "Wasted Love". O cantor de ópera foi o vencedor com um total de 436 pontos, 154 dos quais obtidos através do voto popular. (17/05)
Foto: Denis Balibouse/REUTERS
Surto de gripe aviária no Brasil
A confirmação do primeiro surto de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil levou alguns países como China e Argentina a interromperem a compra de carne de frango brasileira, pressionando o mercado bilionário de exportação do produto. Governo afirma que as medidas de contenção e erradicação para debelar a doença e manter a capacidade produtiva do setor já foram tomadas. (16/05)
Foto: JUSTIN SULLIVAN/Getty Images/AFP
Israel intensifica ataques enquanto mantem bloqueio a Gaza
Defesa Civil palestina relatou mais de 100 mortes em apenas um dia em ataques israelenses à Faixa de Gaza, onde a crise humanitária e a escassez de recursos atingem níveis cada vez mais alarmantes. ONU alerta que estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos atingiram níveis extremamente baixos. (15/05)
Foto: Hatem Khaled/REUTERS
Alemanha prende três por planejarem atos de sabotagem
O Ministério Público da Alemanha anunciou a prisão de três cidadãos ucranianos, dois deles na Alemanha e um na Suíça, por suspeita de atuarem como agentes da Rússia para realizar atos de sabotagem com explosivos no transporte de cargas alemão. (14/05)
Foto: Uli Deck/dpa/picture alliance
Morre "Pepe" Mujica, o presidente mais humilde do mundo
O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos. Ele estava em estágio terminal de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos. Sua morte foi informada pelo atual líder do país sul-americano, Yamandu Orsi. Líderes do mundo inteiro se despediram do ex-guerrilheiro uruguaio. (13/05)
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/IMAGO
Hamas anuncia libertação de refém israelense-americano
O braço armado do Hamas informou que libertou o soldado israelense-americano Edan Alexander, de 21 anos, que havia sido mantido como refém em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A libertação ocorreu "após contatos com a administração dos EUA, no âmbito dos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo", disse a organização terrorista palestina em comunicado (12/05).
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/dpa/picture alliance
Primeira bênção dominical do papa Leão 14
Em sua primeira bênção dominical na Praça de São Pedro, o papa Leão 14 pediu uma paz genuína e justa na Ucrânia e um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "Depois desse cenário dramático de uma terceira guerra mundial em pedaços, como tantas vezes afirmou o papa Francisco, eu me dirijo também aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra", afirmou o pontífice. (11/05)
Foto: Vatican Media/ZUMA Press/IMAGO
Macron, Merz, Starmer e Tusk visitam Kiev
Os líderes do Reino Unido, Keir Starmer, da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Friedrich Merz, e da Polônia, Donald Tusk, se encontraram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev, uma demonstração conjunta de apoio à Ucrânia. A visita ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, receber aliados no evento que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra em Moscou. (10/05)
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP/Getty Images
Leão 14 celebra sua 1ª missa como novo papa
O papa Leão 14 celebrou sua primeira missa após ter sido escolhido como o novo líder da Igreja Católica. O missionário agostiniano retornou à Capela Sistina, onde ocorreu o conclave, para celebrar a missa na presença dos cardeais. Na homilia, disse que foi eleito para que a Igreja possa ser um "farol" para iluminar as regiões do mundo onde haja falta de fé. (09/05)
Foto: VATICAN MEDIA/Handout/AFP
Cardeal americano Robert Prevost é eleito novo papa
O conclave elegeu o cardeal americano Robert Prevost, de 69 anos, como o 267º papa da Igreja Católica. Missionário agostiniano, ele é o primeiro pontífice nascido nos EUA da história. Em seu primeiro discurso aos fiéis, homenageou o papa Francisco, pediu construção de pontos e paz a todos os povos. (08/05)
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Começa o conclave que irá eleger o novo papa
Cardeais de todo o mundo estão reunidos no Vaticano para eleger o próximo líder da Igreja Católica.133 cardeais de 71 países estão aptos a votar no maior e mais geograficamente diverso conclave em 2 mil anos de história. Ao fim do primeiro dia, fumaça preta na chaminé da Capela Sistina indicou que não houve consenso em torno de um novo nome. (07/05)
Foto: Gregorio Borgia/AP/picture alliance
Merz toma posse após tropeço histórico no Bundestag
O Bundestag (Parlamento) elegeu oficialmente, em segunda votação, o conservador Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como o novo chanceler federal do país Ele é o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990. O conservador conseguiu o feito inédito de não conseguir se eleger na primeira rodada de votação (06/05).
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Israel se prepara para ampliar ofensiva militar em Gaza
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a "conquista" do território palestino e a pressão para que residentes se desloquem para o sul. No domingo, militares israelenses já haviam iniciado uma convocação em massa de reservistas para ampliar a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza. (05/05)
Foto: Omar Ashtawy/ZUMAPRESS.com/picture alliance
Míssil disparado do Iêmen cai perto do aeroporto de Tel Aviv
O Aeroporto Internacional de Ben Gurion, na região de Tel Aviv, foi alvo de um ataque de míssil. Os rebeldes Houthis, do Iêmen, grupo aliado do Hamas, reivindicaram a autoria do ataque, que causou interrupção no tráfego aéreo. O exército israelense reconheceu que não conseguiu interceptar o míssil. (04/05)
Foto: Ohad Zwingenberg/AP/dpa/picture alliance
Austrália: esquerda reelege premiê em meio a onda anti-Trump
O primeiro-ministro da Austrália, o trabalhista Anthony Albanese, proclamou a vitória de seu partido nas eleições gerais. Ele se tornou, assim, o primeiro chefe de governo a conquistar um segundo mandato consecutivo de três anos em 21 anos. "Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros e construindo o futuro", disse Albanese. (03/05)
Foto: Rick Rycroft/AP Photo/picture alliance
Inteligência alemã classifica AfD como extremista de direita
A inteligência interna da Alemanha classificou sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia e viola a dignidade humana ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes. A medida permite às agências de segurança monitorarem de forma mais incisiva o partido. (02/05)
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Trabalhadores ao redor do mundo protestam no 1º de Maio
Redução de jornada, garantia de direitos e melhoria do ambiente de trabalho foram algumas das reivindicações de manifestações em todo o mundo no Dia do Trabalhador, como nesta em Daca, capital de Bangladesh. A data remonta ao início de uma greve em Detroit ocorrida em 1886, que resultou na prisão e morte de trabalhadores. (01/05)