Verões mais longos podem provocar extinção dos ursos polares
19 de fevereiro de 2024
Aumento das temperaturas na região do Ártico acelera derretimento das calotas de gelo que permitem a ursos polares caçarem animais marinhos. Em terra, eles correm risco de inanição.
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A equação é relativamente simples. Se não há calota de gelo marinho, não há chance de se caçar focas em alto mar. E então a busca por alimentos se torna tortuosa, perigosa e mortal em terra. Esse é o cenário enfrentado pelos ursos polares na região oeste da Baía de Hudson, no Canadá, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications. Especialistas rastrearam 20 ursos polares com colares de câmera e GPS, chegando a descobertas surpreendentes e perturbadoras.
A pesquisa constatou que os verões cada vez mais longos no Ártico estão forçando os ursos a passar mais tempo em terra, onde é improvável que consigam se adaptar a viver por longos períodos e correm o risco de passar fome a médio prazo. Isso se deve ao fato de que não é fácil encontrar alimentos nesses locais.
"Os ursos não têm estratégias comportamentais e energéticas que possam usar para evitar a perda de peso no verão em terra, e esta será maior quando eles passarem períodos mais longos em terra", disse à agência de notícias EFE o autor principal do estudo, Anthony Pagano, do Centro de Ciências do Alasca do Serviço Geológico dos EUA.
Pesquisas anteriores mostraram que o período sem gelo no oeste da Baía de Hudson aumentou em três semanas entre 1979 e 2015. Antes, os ursos passavam de 100 a 110 dias em terra, enquanto hoje eles passam 130 dias em terra. Dependendo dos diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa, é "provável" que o tempo fora do mar aumente de cinco a dez dias por década. Os especialistas estimam que, se os ursos passassem 180 dias por ano em terra firme, morreriam de fome.
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Comem, mas não o suficiente
Dos 20 animais estudados, 19 perderam uma média de um quilo por dia. Para evitar o dispêndio de energia a que não podiam permitir-se, muitos machos adultos ficavam deitados para evitar a queima de calorias, mas 70% dos animais se mantiveram ativos na busca de alimentos terrestres, como bagas, gramíneas e carcaças de aves ou renas. Algumas fêmeas adultas passavam até 40% do tempo procurando alimentos e, embora o alimento lhes proporcionasse algum benefício energético, elas precisavam gastar mais energia para acessá-lo.
Três indivíduos nadaram longas distâncias, até 175 quilômetros em águas abertas, onde dois deles encontraram carcaças de mamíferos marinhos das quais não puderam se alimentar enquanto nadavam ou trazer para terra. O único indivíduo que ganhou peso, entretanto, foi porque achou um mamífero marinho morto em terra.
Embora esses animais "mostrem uma plasticidade notável em seu comportamento, eles ainda correm o risco de morrer de fome" devido ao declínio previsto do gelo marinho do Ártico, pois a pesquisa sugere que o alimento que eles obtêm em terra não lhes dá energia suficiente para resistirem mais tempo antes de chegarem a um estado de inanição, afirma Pagano.
md/cn (EFE, AFP)
As piores catástrofes climáticas de 2023
Recordes de calor em várias partes do mundo, seca histórica na Amazônia, enchentes na Europa. O ano de 2023 registrou eventos climáticos de proporções inéditas.
Foto: Bruno Zanardo/Getty Images
Seca histórica na Amazônia
Nos últimos meses do ano, a maior floresta tropical do mundo enfrentou sua pior seca já registrada. Alguns cientistas temem que o bioma possa estar se aproximando do chamado ponto de não retorno, quando a Amazônia não será mais capaz de gerar chuvas, o que daria início a um processo de savanização. A floresta também foi atingida por uma série de incêndios florestais.
Foto: Gustavo Basso/DW
Enchentes no sul do Brasil
Em setembro, fortes enchentes atingiram a região sul do Brasil. A passagem de um ciclone extratropical causou a pior tragédia natural do estado do Rio Grande do Sul, onde quase 90 municípios registraram danos. As fortes chuvas deixaram dezenas de mortos e milhares de desabrigados, além de estradas bloqueadas, isolando comunidades inteiras durante dias.
Foto: DIEGO VARA/REUTERS
Verão mais quente já registrado no Hemisfério Norte
O verão de 2023 no Hemisfério Norte foi de longe o mais quente já registrado, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o programa Copernicus. As altas temperaturas causaram secas, inundações e incêndios florestais. O período entre janeiro a agosto deste ano foi o segundo mais quente da história na região, atrás apenas de 2016.
Foto: Francesco Fotia/Avalon/Photoshot/picture alliance
Grécia: maior incêndio florestal da União Europeia
A Grécia sentiu os efeitos da forte onda de calor no verão europeu, na metade do ano, e enfrentou os maiores incêndios florestais já registrados no continente. Milhares de pessoas tiveram de ser retiradas de ilhas turísticas como Rodes, Corfu e Evia. O país chegou a registrar mais de 600 focos de incêndio simultâneos, com temperaturas que se aproximavam dos 50º C.
Foto: Julian I. Borissoff
Incêndios de costa a costa no Canadá
Na metade do ano, incêndios florestais no Canadá se espalharam da costa leste para a oeste, queimando quase o dobro da área do recorde anterior. Segundo a World Weather Attribution (WWA), as mudanças climáticas ajudaram a criar um clima seco e entre 20% a 50% mais "propenso a incêndios", mais do que dobrando a probabilidade de incêndios extremos no leste do Canadá.
Foto: Bonita Kay Summers/REUTERS
"Enchente do século" no norte da Itália
Em maio, na região de Emília-Romagna, no norte de Itália, três tempestades provocaram deslizamentos de terra e inundações consideradas as piores em um século. Segundo pesquisadores, um período específico de chuva de 21 dias – único em 200 anos e com apenas 0,5% de probabilidade de acontecer anualmente – poderia ter ocorrido com ou sem mudanças climáticas.
Foto: Andreas Solaro/AFP
Secas na França
No primeiro semestre de 2023, a França atravessou uma das piores secas dos últimos anos. As autoridades adotaram medidas de emergência para economizar água. A região mais afetada foi o sul do país, onde em algumas cidades chegou a ser proibido lavar carros ou encher piscinas durante semanas. O tempo seco contribuiu para a propagação de incêndios florestais.
A tempestade Daniel gerou inundações que causaram o rompimento de duas barragens e mataram milhares de pessoas na Líbia no início de setembro. A cidade de Derna foi quase totalmente destruída. Os esforços humanitários internacionais foram prejudicados pela divisão política da Líbia, em meio à guerra civil que assola o país.
Foto: Hamza Turkia/Xinhua/IMAGO
Recordes de calor no sul da Ásia
Países do sul asiático como Índia, Vietnã, Laos, Bangladesh e Mianmar superaram recordes de calor em 2023. A Tailândia registrou temperaturas de 45º C pela primeira vez na história. Cientistas atribuem o calor extremo na região às mudanças climáticas.