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Verdes alemães perdem terreno após ataques a candidata

Rina Goldenberg
9 de julho de 2021

Partido Verde da Alemanha caiu na preferência entre eleitores, após Annalena Baerbock precisar corrigir seu currículo, enfrentar acusações de plágio e sofrer ataques sexistas na internet.

Política verde alemã Annalena Baerbock
Baerbock tem reagido às críticas colocando-se na defensiva Foto: Kay Nietfeld/dpa/picture alliance

Em abril, após a indicação de Annalena Baerbock como candidata verde à sucessão de Angela Merkel nas próximas eleições parlamentares, as pesquisas de opinião deram ao Partido Verde 28% de intenção de voto, um aumento espetacular sobre os 8,9% recebidos nas últimas eleições gerais, em 2017. 

A ascensão dos verdes coincidiu com uma queda no apoio ao partido conservador de Merkel, União Democrata Cristã (CDU). O impulso foi creditado à escolha de Baerbock, de 40 anos. Ao mesmo tempo, houve quem se perguntasse se ela realmente era capaz de suceder a Merkel, que não vai concorrer à reeleição na votação prevista para setembro. 

Uma chanceler federal verde? Parecia quase possível. Mas a maré mudou. As pesquisas de opinião dão agora aos verdes apenas 20%, enquanto a CDU gradualmente se aproxima dos 30%. O apoio ao nome Baerbock também diminuiu, colocando-a atrás de seus dois concorrentes masculinos: Armin Laschet, da CDU, e Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD).  

Na defensiva desde abril

A queda esteve relacionada a uma avalanche de ataques pessoais a Baerbock, que optou por entrar na defensiva. Seus concorrentes enfatizam a falta de experiência dela, que nunca ocupou um cargo no governo.  

Mas as críticas rapidamente visaram sua credibilidade pessoal: ela foi acusada de pequenas imprecisões em seu currículo, publicado no site dos verdes, onde afirmava ter sido membro do German Marshall Fund, um renomado think tank, embora nunca tenha sido mais do que uma apoiadora. Baerbock admitiu a inexatidão como um lamentável "desleixo" de sua parte.  

Numa entrevista à emissora pública ARD, Baerbock explicou: "Obviamente cometi um erro, e lamento muito. Deveríamos nos concentrar em outras questões mais importantes neste momento."  

Depois vieram à tona relatos de que ela teria pagado com anos de atraso impostos sobre altos bônus de Natal. Baerbock foi rápida em novamente admitir um descuido, comentando que a situação era "uma droga". 

Acusações atingem livro da candidata verde

Em junho, Stefan Weber, um especialista em mídia e editor austríaco, avaliou detalhadamente o livro de Baerbock Jetzt: Wie wir unser Land erneuern (Agora: Como renovaremos nosso país) e encontrou várias passagens retiradas de outras publicações.

Desde então, pipocam revelações fragmentadas de várias fontes sobre semelhanças de partes do texto com vários artigos de jornais. Parte do livro, um relato pessoal da viagem de Baerbock ao Iraque, foi até enfocado numa matéria da DW descrevendo o destino de crianças da comunidade étnico-religiosa curda yazidi.

Baerbock rechaçou  as acusações de violação de direitos autorais e alegações de plágio, ressaltando estar "muito ciente do uso de fatos de fontes públicas". "Ninguém escreve um livro sozinho", acrescentou.

Rivais defendem

Os verdes têm reagido com suscetibilidade crescente, alegando difamação e calúnia e considerando levar o caso a tribunal. Até mesmo os adversários políticos de Baerbock entraram na briga, denunciando os ataques à rival.

Numa entrevista recente ao jornal Süddeutsche Zeitung, o ministro do Interior da Alemanha, Horst Seehofer, da conservadora União Social Cristã (CSU), disse não ver indícios de transgressão e chamou as alegações de exageradas. "Não é uma tese, não há obrigação de citar todas as fontes. Não é incomum passagens em livros se assemelharem a partes de artigos de jornais."  

É um assunto delicado na política alemã, onde vários ministros se demitiram nos últimos anos após relatos de plágio em suas teses de doutorado. Rolf Pohl, sociólogo e psicólogo especializado em estudos de gênero, vê nos ataques a Baerbock "referências recorrentes à sua aparência, à sua vida familiar". Segundo Pohl, "ela se tornou alvo de uma ampla gama de preconceitos e até de tiradas antissemitas".  

Postagens em redes sociais divulgaram fotos da Baerbock com o investidor americano George Soros, alegando falsamente que ele fizera uma doação para a campanha dela. Havia posts de fotos falsas de Baerbock nua, supostamente colocadas online quando jovem.  

Num evento no início de julho organizado pela revista feminina Brigitte, a política verde disse que já contava ter que enfrentar um exame minucioso na campanha eleitoral, "mas vejo desde o início da minha candidatura falsidades serem espalhadas deliberadamente, por sei lá quem". 

"Assassinato de caráter"

Os verdes classificaram os ataques a sua candidata como "tentativa de assassinato de caráter", o que, segundo Pohl, prova que estavam despreparados para a investida. "Eles parecem surpreendentemente ingênuos nesse aspecto. Sabemos há muito tempo que mulheres em posições de destaque se tornam alvo constante de ataques sexistas."

"Os verdes têm que levar o assunto a tribunal", recomenda Pohl. "Mas eles têm que escolher suas batalhas e garantir que seu foco principal seja a campanha eleitoral, e não os procedimentos legais."

Os ataques pessoais a Baerbock coincidiram com uma reação contra algumas de suas propostas políticas. Em consonância com a plataforma do Partido Verde, ela se pronunciou contra os voos de curta distância e exigiu um aumento dramático de 0,15 euro dos preços do petróleo, como medidas para combater a mudança climática.  

O secretário-geral do Partido Verde, Michael Kellner, reiterou o compromisso da sigla com sua candidata e sua equipe. Isso inclui o copresidente do partido Robert Habeck, que em abril cedera a Baerbock a candidatura à Chancelaria Federal. Agora tem despontado intermitentemente a questão sobre se ele poderia substituí-la.

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