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Criminalidade

Vereadora é morta a tiros no Rio de Janeiro

15 de março de 2018

Marielle Franco, do PSOL, e motorista são assassinados após saírem de um evento para ativistas negras. Parlamentar era conhecida por lutar contra violência e pelas mulheres. Polícia investiga hipótese de execução.

Marielle, de 38 anos, foi a quinta mais votada nas eleições de 2016, recebendo 46,5 mil votos.em sua primeira disputa eleitoral
Marielle, de 38 anos, foi a quinta mais votada nas eleições de 2016, sua primeira disputa eleitoralFoto: CMRJ/Caio César

A vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco, do PSOL, foi morta a tiros dentro de um carro na noite desta quarta-feira (14/03), no bairro do Estácio, região central da cidade, pouco depois de sair de um evento para mulheres ativistas negras.

O motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também morreu. A assessora de Marielle, que também estava no veículo, foi atingida por estilhaços.

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Segundo relatos, os atiradores emparelharam um carro ao lado do de Marielle e abriram fogo. A vereadora foi atingida por ao menos quatro tiros na cabeça, e o motorista recebeu três disparos na lateral das costas.

Os criminosos fugiram sem cometer nenhum roubo. A principal hipótese analisada pelos investigadores da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro é a de que teria se tratado de uma execução.

Marielle era conhecida por defender os direitos das mulheres e a inclusão social, além de ser uma crítica ferrenha da violência policial na cidade. Na noite desta quarta-feira, antes de ser morta, a vereadora participou do evento "Jovens negras movendo as estruturas", no bairro da Lapa.

Há duas semanas, a vereadora havia assumido relatoria da comissão da Câmara Municipal do Rio criada para acompanhar a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro. Ela vinha se posicionando publicamente contra a medida.

Aos ser baleada, a parlamentar estava sentada no banco traseiro do carro, que tinha filme escuro nos vidros. A polícia acredita que os criminosos seguiram o veículo e sabiam a posição exata dos ocupantes.

A vereadora de 38 anos foi a quinta mais votada nas eleições de 2016. Em sua primeira disputa eleitoral, ela recebeu 46,5 mil votos. Ela era socióloga e mestra em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação de mestrado abordou o tema "UPP: a redução da favela a três letras".

Reações da classe política

A morte de Marielle gerou revolta entre políticos de vertentes diferentes. Em nota, a Executiva Nacional do PSOL manifestou pesar pelo assassinato da vereadora e destacou sua atuação política.

"A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta", diz o texto. O partido também exigiu apuração "imediata e rigorosa" das circunstâncias do crime.

O deputado estadual Marcelo Freixo, colega de partido de Marielle, disse que o crime é "inadmissível" e tem "todas as características de execução". Ele pediu uma apuração rápida do caso e disse que Marielle não havia sido ameaçada.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, conversou com o interventor federal no Rio e colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação.

O prefeito Marcelo Crivella lamentou o "brutal assassinato" da vereadora e homenageou sua "honradez, bravura e espírito público".

"Sua trajetória exemplar de superação continuará a brilhar como uma estrela de esperança para todos que, inconformados, lutam por um Rio culto, poderoso, rico, mas, sobretudo, justo e humano", disse Crivella.

Pessoas lamentam a morte de Marielle Franco nos arredores do local do assassinatoFoto: Reuters/R. Moraes

O governador Luiz Fernando Pezão destacou o trabalho de Marielle contra a desigualdade social e a violência. Ele disse que acompanha as investigações e aguarda a "punição dos autores desse crime hediondo que tanto nos entristece".

Pelas mulheres e contra a violência

Marielle atuou em organizações da sociedade civil, como o Centro de Ações Solidárias da Maré e a Brasil Foundation. Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Freixo.

Na Câmara Municipal, Marielle presidia a Comissão de Defesa da Mulher. Ela apresentou um projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, que tinha o objetivo de fazer com que a prefeitura contabilizasse dados sobre violência de gênero no Rio.

Ela lutou pelo acesso ao aborto na cidade, nos casos previstos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e pela ampliação do número das chamadas Casas de Parto, locais destinados à realização de partos normais.

Na semana passada, Marielle participou ativamente das celebrações do Dia Internacional da Mulher em caminhadas pela Maré, Santa Cruz e no centro do Rio. Ela chegou a questionar no plenário da Câmara a representatividade feminina no legislativo municipal.

"Se este Parlamento é formado apenas por 10%, 13% de mulheres, nós somos a maioria nas ruas. E sendo a maioria nas ruas, somos a força exigindo a dignidade e o respeito das identidades. Infelizmente, o que está colocado aí nos vitima ainda mais", afirmou Marielle no dia 8 de março.

Um dia antes de sua morte, a vereadora divulgou uma mensagem no Twitter condenando a violência policial e a ação da Polícia Militar.

No último sábado, também através da rede social, ela chamou o 41º Batalhão da Polícia Militar de "batalhão da morte", em razão de atos de violência ocorridos na favela de Acari. "CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens", escreveu.

A Polícia Militar confirmou a operação e argumentou que criminosos atiraram contra os policiais e houve confronto. Durante vasculhamento na comunidade, dois homens foram presos e houve apreensão de um fuzil calibre 7,62 mm e oito rádios comunicadores, segundo nota da corporação.

O corpo de Marielle será velado na Câmara Municipal do Rio de Janeiro nesta quinta-feira.

RC/abr/ots

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