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Tchernobil: vermes vivem com a radiação sem problemas

José Urrejola
7 de março de 2024

Vermes microscópicos encontrados na Zona de Exclusão de Tchernobil, não apresentam alterações em seu genoma. Para cientistas, isso indica que eles são resistentes à radiação.

um cientista mostra uma fruta em decomposição
Os pesquisadores coletaram vermes de frutas em decomposição e de outros resíduosFoto: Matthew Rockman

A contaminação ambiental causada por acidentes nucleares apresenta riscos imediatos à saúde, mas ainda se sabe pouco sobre quais são os efeitos hereditários sobre as espécies nos locais contaminados. 

Agora, pesquisadores encontraram vermes microscópicos que vivem no ambiente altamente radioativo da Zona de Exclusão de Tchernobil, que parecem estar completamente livres de danos causados pela radiação.  

É o que diz um estudo publicado, terça-feira (03/05), na revista PNAS, os pesquisadores descobriram que a radiação do acidente de Tchernobil não afetou os vermes que habitam a área, uma descoberta que sugere que eles são excepcionalmente resistentes. 

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Em 1985, um grave acidente nuclear num dos reatores diminuiu a potência da usina em 25%. Em 26 abril de 1986, duas fortes explosões destruíram o reator central, criando uma brecha no núcleo de mil toneladas. Seguiram-se outras explosões, provocadas pela liberação de vapor, espalhando uma nuvem gigantesca de radiação, contaminando 75% da Europa, da Irlanda do Norte à Grécia.

Na época, mais de 8 milhões de pessoas foram expostas à radiação e tiveram de deixar a área, mas animais, plantas e outros seres vivos continuaram a viver no local, mesmo com a alta radioatividade. 

Quase 40 anos após após a tragédia, os cientistas observaram que os vermes microscópicos chamados nematoides (Oscheius tipulae) não sofreram nenhum dano em seus genomas.

Amostras de solo e materiais orgânicos são embalados em tecido pelos pesquisadoresFoto: Sophia Tintori

Vida insiste em voltar

Pesquisas anteriores já haviam constatado que os animais que vivem perto de Tchernobil são fisicamente e geneticamente diferentes de seus pares em outros lugares, levantando questões sobre o impacto crônico da radiação no DNA das espécies.

"Tchernobil foi uma tragédia de consequências indeterminadas. Ainda não temos uma visão clara dos efeitos do desastre sobre as populações das espécies locais", disse uma das autoras do estudo, Sophia Tintori em um comunicado da Universidade de Nova York.

"Eu tinha visto fotos da Zona de Exclusão e fiquei surpresa com a aparência exuberante e coberta de vegetação; nunca pensei que ela estivesse repleta de vida", acrescenta.

Vermes em resíduo orgânico

No estudo, os pesquisadores coletaram, cultivaram e criopreservaram 298 vermes nematoides de áreas que variavam em radioatividade dentro da Zona de Exclusão de Tchernobil. Sequenciaram 20 cepas de Oscheius tipulae e analisaram seus genomas em busca de evidências de aquisição recente de mutação. Os pesquisadores também compararam os genomas deles com os de outros vermes da mesma espécie de outras partes do mundo.

Os cientistas descobriram que os vermes de Tchernobil não apresentavam danos em seus genomas e que suas alterações no DNA foram causadas por outros motivos que não a radiação.

Região de Tchernobil ainda não é segura

Os vermes nematoides são ideais para o estudo, pois têm um genoma simples e se reproduzem rapidamente: "Esses vermes vivem em todos os lugares e têm a vida curta, por isso passam por dezenas de gerações de evolução, enquanto um vertebrado típico ainda está calçando os sapatos", explica o coautor Matthew Rockman.

Os cientistas alertam que apesar dos vermes terem a incrível capacidade de resistir à radiação por tantos anos não significa que visitar Tchernobil seja seguro.

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