Veto de Trump é como "apagar a história", diz líder uruguaio
8 de fevereiro de 2017
Tabaré Vazquez lamenta decreto do presidente dos EUA contra cidadãos de países de maioria muçulmana e planos de erguer muro na fronteira. Em entrevista à DW, presidente fala em retrocesso.
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Vázquez sobre Trump: "apagar a própria história é triste"
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Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, criticou as políticas migratórias do presidente americano, Donald Trump, qualificando de "triste" e "terrível" o veto imposto a cidadãos de sete países de maioria muçulmana.
O veto de Trump é como "apagar de repente a própria história", disse Vázquez em Berlim nesta terça-feira (07/02). "É um retrocesso para um país de imigrantes como os Estados Unidos", considerou, em alusão ao papel desempenhado pela imigração nos EUA.
O líder uruguaio também criticou o plano do presidente americano de construir um muro na fronteira com o México para conter a imigração ilegal. O Uruguai "nunca vai erguer murros", pois o que convém é "fazer pontes", afirmou.
Vázquez também se manifestou sobre a situação política na Venezuela, afirmando que o país "tem três poderes, e os três poderes estão funcionando". "Talvez não seja a democracia com que estamos acostumados, por exemplo, no meu país", disse à Deutsche Welle.
"Os problemas da Venezuela têm que ser resolvidos pelos venezuelanos. O Uruguai está disposto, se é que pode fazê-lo, a ajudar que se encontre um caminho de diálogo efetivo", afirmou.
Outro tema abordado na entrevista foi a legalização da maconha no Uruguai, impulsionada pelo ex-presidente José Mujica. "Do ponto de vista político, a luta contra o narcotráfico não deu resultado. Pelo contrário. Deu resultados negativos", disse.
"Agora, eu não posso me afastar da minha posição de médico", prosseguiu Vázquez, formado em Medicina. "Não se deve consumir drogas. Nem maconha, nem droga alguma."
Visita à Alemanha
O presidente uruguaio viajou a Berlim acompanhado de uma delegação oficial, integrada por seis ministros, e de cerca de uma centena de representantes de empresas uruguaias de diversos setores. Além de se reunir com a chanceler federal Angela Merkel e o presidente alemão, Joachim Gauck, nesta quarta-feira, Vázquez se encontrará com representantes do mundo empresarial alemão, em Berlim e em Hamburgo, no norte do país.
Merkel destacou, em sua mais recente mensagem em vídeo semanal, uma série de fundamentos compartilhados por Alemanha e Uruguai, incluindo valores democráticos, a luta pela igualdade das mulheres e o respeito ao meio ambiente.
A chanceler federal alemã também destacou uma série de campos em que se poderia aumentar a cooperação entre os dois países, como a economia verde e o comércio. Merkel sinalizou que seria positivo estabelecer contatos com o Mercosul, tendo em vista um possível acordo comercial com a União Europeia (UE).
Após a Alemanha, Vázquez prossegue com sua visita à Europa até o dia 17 de fevereiro. Fazem parte da agenda da viagem um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, e com seu homólogo finlandês, Sauli Niinistö.
LPF/efe/afp/dw
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
Foto: picture-alliance/dpa/Sachs
Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
Foto: Reuters/K. Lamarque
O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
Foto: picture-alliance/CNP/A. Harrer
Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
Foto: Reuters/J. Rinaldi
Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
Foto: REUTERS/A. P. Bernstein
Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
Foto: picture alliance/AP Images/G. Bull
Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
Foto: Getty Images/AFP/S. Huffaker
Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
Foto: DW/M. Shwayder
EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
Foto: Getty Images/AFP/
Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
Foto: REUTERS/S. Keith
Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
Foto: Reuters/K. Pempel
Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
Foto: pciture-alliance/AP Photo/E. Vucci
Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
Foto: Getty Images/AFP/M. Ralston
Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.