Viúva diz que testes indicam que Navalny foi envenenado
17 de setembro de 2025
Inimigo de Putin morreu em circunstâncias misteriosas numa prisão no Círculo Polar Ártico. Kremlin nega acusações de envolvimento na morte do ativista.
Navalny morreu em uma prisão russa em fevereiro de 2024Foto: OLGA MALTSEVA/AFP/Getty Images
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A viúva do opositor russo Alexei Navalny, que morreu em uma colônia penal no Círculo Polar Ártico, afirmou nesta quarta-feira (17/09) que testes realizados em laboratórios estrangeiros indicam que a causa da morte de seu marido foi envenenamento.
Principal opositor do presidente russo, Vladimir Putin, Navalny morreu aos 47 anos em circunstâncias misteriosas em fevereiro de 2024, enquanto cumpria uma sentença de 19 anos de prisão. De acordo com as autoridades penitenciárias, Navalny morreu repentinamente depois de fazer uma caminhada na penitenciária IK-3 na cidade de Kharp.
Desde então, a viúva do líder opositor, Yulia Navalnaya, acusa a Rússia de ter assassinado seu marido, uma acusação que o Kremlin rejeita como absurda. Nesta quarta, Navalnaya contou que conseguiu contrabandear para o exterior amostras biológicas do corpo de Navalny para uma análise que pudesse apontar as causas do óbito.
Segundo ela, laboratórios de dois países concluíram que Navalny foi assassinado. "Mais especificamente: envenenado", ressalta em um vídeo publicado em redes sociais. Ela pediu ainda que os laboratórios publiquem suas descobertas, porém, não disse qual o veneno que teria sido encontrado nas amostras.
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Quem foi Navalny
Navalny ganhou destaque há mais de uma década ao ridicularizar a elite em torno de Putin e denunciar a corrupção em grande escala. Em agosto de 2020, na Sibéria, Navalny quase morreu envenenado por Novichok, uma substância neurotóxica desenvolvida pela antiga União Soviética, num atentado que o Ocidente atribuiu ao FSB, o serviço secreto russo.
Levado à Alemanha para o tratamento, Navalny optou por voltar à Rússia em meados de 2021, apenas para ser imediatamente preso ao pôr os pés em Moscou, desencadeando alguns dos maiores protestos que a Rússia já testemunhou em décadas.
Em agosto de 2023, ele foi sentenciado, em julgamento a portas fechadas, a 19 anos adicionais de prisão – além dos 12 anos que já cumpria, por várias acusações –, desta vez por supostamente fundar e financiar uma organização terrorista e banalizar o nazismo.
Mesmo atrás das grades, continuou a fazer campanha contra Putin e a se manifestar contra a invasão da Ucrânia. Após anunciar uma campanha contra a reeleição de Putin no final de 2023, o inimigo número um do Kremlin foi transferido para o presídio no Círculo Polar Ártico, onde morreu meses depois.
Após sua morte, autoridades se recusaram por dias a entregar o corpo aos familiares, o que levantou suspeitas entre seus seguidores.
cn (Reuters/AFP)
Uma história de envenenamentos políticos
Há mais de um século, agências de inteligência usam o envenenamento para silenciar opositores. Vítima mais recente deste método teria sido Alexei Navalny. Substâncias utilizadas vão desde toxinas a agentes nervosos.
Foto: Imago Images/Itar-Tass/S. Fadeichev
Alexei Navalny
Em agosto de 2020, o líder da oposição russa Alexei Navalny foi levado às pressas para um hospital na Sibéria após passar mal num voo para Moscou. Seus assessores dizem que ele foi envenenado como vingança por suas campanhas anticorrupção. O ativista foi transferido em coma para a Alemanha dias depois, onde exames confirmaram o envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novichok.
Foto: Getty Images/AFP/K. Kudrayavtsev
Pyotr Verzilov
Em 2018, o ativista russo-canadense Pyotr Verzilov ficou em estado grave após ter sido supostamente envenenado em Moscou. Tudo aconteceu logo após ele ter dado uma entrevista na TV criticando o sistema jurídico russo. Verzilov, porta-voz não oficial da banda Pussy Riot, foi transferido para um hospital em Berlim, onde os médicos disseram ser "muito provável" que ele tenha sido envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass/A. Novoderezhkin
Sergei Skripal
Também em 2018, Sergei Skripal, um ex-espião russo de 66 anos, foi encontrado inconsciente num banco do lado de fora de um shopping na cidade britânica de Salisbury após ser exposto ao agente nervoso Novichok. Na época, o porta-voz de Moscou, Dmitry Peskov, chamou a situação de "trágica" e disse que não tinha "informações sobre qual poderia ser a causa" do incidente. Skripal sobreviveu ao ataque.
Foto: picture-alliance/dpa/Tass
Kim Jong Nam
O meio-irmão do ditador norte-coreano, Kim Jong Un, foi morto em 13 de fevereiro de 2018 no aeroporto de Kuala Lumpur, depois que duas mulheres supostamente espalharam o agente químico nervoso VX em seu rosto. Num tribunal da Malásia, foi revelado que Kim Jong Nam carregava uma dúzia de frascos de antídoto para o agente nervoso mortal VX em sua mochila no momento do ataque.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Kambayashi
Alexander Litvinenko
O ex-espião russo Litvinenko trabalhou no Serviço de Segurança Federal (FSB), em Moscou, antes de desertar para o Reino Unido, onde escreveu dois livros cheios de acusações contra o FSB e Vladimir Putin. Ele adoeceu após se encontrar com dois ex-oficiais da KGB e morreu em novembro de 2006. Um inquérito descobriu que ele foi envenenado com polônio-210, que teriam colocaram em seu chá.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Kaptilkin
Viktor Kalashnikov
Em novembro de 2010, médicos do hospital Charité detectaram altos níveis de mercúrio num casal de dissidentes russos que trabalhava na capital alemã. Kalashnikov, um jornalista freelancer e ex-coronel da KGB, tinha 3,7 microgramas de mercúrio por litro de sangue, enquanto sua esposa tinha 56 microgramas. Um nível seguro é de 1-3 microgramas. Kalashnikov acusou Moscou de tê-los envenenado.
Foto: picture-alliance/dpa/RIA Novosti
Viktor Yushchenko
O líder da oposição ucraniana Yushchenko adoeceu em setembro de 2004 e foi diagnosticado com pancreatite aguda causada por uma infecção viral e substâncias químicas. A doença resultou em desfiguração facial, com marcas parecidas com a de varíola, inchaço e icterícia. Os médicos disseram que as mudanças em seu rosto foram causadas pela cloracne, que é resultado do envenenamento por dioxina.
Foto: Getty Images/AFP/M. Leodolter
Khaled Meshaal
Em 25 de setembro de 1997, a agência de inteligência de Israel tentou assassinar Khaled Meshaal, líder do Hamas, sob ordens do premiê Benjamin Netanyahu. Dois agentes espalharam uma substância venenosa no ouvido de Meshaal quando ele entrou nos escritórios do Hamas em Amã, na Jordânia. A tentativa de assassinato fracassou e, não muito depois, os dois agentes israelenses foram capturados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Sazonov
Georgi Markov
Em 1978, o dissidente búlgaro Markov aguardava num ponto de ônibus após um turno na BBC quando sentiu uma pontada forte na coxa. Ele se virou e viu um homem segurando um guarda-chuva. Uma pequena saliência apareceu onde ele sentiu a pontada e quatro dias depois ele morreu. Uma autópsia descobriu que ele havia sido morto por um pequeno projétil contendo uma dose de 0,2 miligrama de ricina.
Foto: picture-alliance/dpa/epa/Stringer
Grigori Rasputin
Em dezembro de 1916, o curandeiro místico e espiritual Rasputin chegou ao Palácio Moika, em São Petersburgo, a convite do Príncipe Félix Yussupov. Lá, o princípe ofereceu a Rasputin bolos contaminados com cianeto de potássio, mas nada aconteceu. Yussupov então deu a ele vinho em taças com cianeto, mas Rasputin seguiu bebendo. Diante da ineficácia do veneno, Rasputin foi morto a balas.