Viajando com a torcida brasileira no trem da vitória
19 de junho de 2006O primeiro trem levando torcedores brasileiros a Munique partiu da estação de Deutz, em Colônia, neste domingo (18/06) às 9h da manhã, um tanto cedo para os hábitos sul-americanos. As cores dominantes, as únicas que se veriam nos 25 vagões, eram o verde e amarelo.
A esta hora, a alegria que caracteriza a torcida carioca ainda estava ausente: as emoções, os apitos, as danças, os gritos, ainda estavam empacotados na bagagem, reservados para a festa que iniciaria à tarde.
Nos primeiros minutos, o trem seguiu as margens do Rio Reno, num dia ensolarado, bonito, daqueles que dói ficar trancado sob um teto, dentro de um trem. Quem sabe, esse tenha tinha o sentimento do grupo de torcedores, que trabalhou durante quatro anos para pagar essa viagem ao Mundial.
Turismo futebolístico
Os passageiros deste trem reservaram suas cadeiras no estádio no Brasil e pagaram entre 4 e 10 mil euros por pacote, que inclui hospedagem em hotel (com café da manhã), ingressos para todos os jogos do pentacampeão na primeira fase, transporte aos estádios e uma visita guiada a Colônia, a cidade que os acolheu como hóspedes de honra.
Até Munique, eles seriam levados em dois trens-bala, dois desses modernos meios de transporte que cruzam a Alemanha por terra a velocidades de 300 km/h, mas que neste caso andam um pouco mais lentos, para permitir que os turistas do futebol possam desfrutar a paisagem.
O que estes brasileiros conseguiram ver pelas janelas do trem é uma das poucas lembranças que levarão para casa. Eles vieram exclusivamente para ver futebol, por isso sua agenda é tão apertada: levantar às 7h, pegar o ônibus até a estação ferroviária, seis horas de viagem a Munique, traslado de ônibus até o estádio, assistir ao jogo, retorno à estação da capital bávara e, às 4h da manhã de segunda-feira, após uma jornada de 22 horas, chegar novamente ao hotel em Colônia.
Até Berlim, Munique ou Dortmund, os torcedores brasileiros são transportados em 25 trens, reservados exclusivamente para eles. O roteiro foi escolhido especialmente para permitir-lhes apreciar as mais belas povoações alemãs.
Durante a viagem, estes turistas especiais da Copa são acompanhados por uma tradutora da companhia ferroviária e, para facilitar a compreensão, recebem folhetos com todas as instruções em português.
Os anfitriões se esmeram em dispensar toda a atenção aos brasileiros: sanduíches de ovo ou presunto, Frikadellen (carne em forma de hamburgers) e salsichas com pão por quatro euros. A cerveja, necessária para suportar o calor no interior dos vagões, devido a uma falha no ar-condicionado, também está em oferta: seis por 12 euros.
A festa carioca
A 90 minutos de Munique, reina uma calma no trem que nada tem a ver com a imagem do Brasil: festa, dança, música, belas mulheres. Após quatro horas de viagem, unicamente o colorido das roupas lembra que os passageiros são brasileiros.
Nada se ouve das belas mulheres; os homens, que já estão acordados, discutem em voz baixa sobre futebol para não perturbar os que ainda dormem. Não se ouve samba, nem mesmo dos alto-falantes dos vagões.
Um grupo de jornalistas de uma emissora de televisão começa a filmar, na esperança de que as coisas mudem, para poder gravar algumas imagens da alegria carioca envolvendo o futebol.
O macete funciona: entusiasmados pela possibilidade de aparecer na tv e liderados por Júnior, um músico da Bahia, vários turistas tiram seus instrumentos debaixo dos assentos. Tamborim, pandeiro e trompete animam uma festa que brota do nada e se espalha de vagão em vagão.
O que chega à estação de Munique não é mais um trem, é um carnaval. Um carnaval que, se o Brasil continuar ganhando como o fez contra a Austrália, continuará animando a Alemanha até a final da Copa.