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Viena comemora 150 anos de Gustav Klimt com "Plataforma"

18 de abril de 2012

No jubileu do pintor, intervenção escultural de Gerwald Rockenschaub na Secessão Vienense oferece close-up inédito do famoso "Friso Beethoven".

Foto: Vienna Secession

"Secessão Vienense" designa tanto o movimento artístico dissidente liderado por Gustav Klimt quanto o prédio onde, desde 1902, se encontra o Friso de Beethoven do artista. Em comemoração aos 150 anos de nascimento do expoente máximo da Art Nouveau, encomendou-se ao austríaco Gerwald Rockenschaub uma "intervenção escultural" para a sala onde o Friso está em exposição permanente.

O resultado, intitulado Plataforma, é uma labiríntica estrutura amarela, que eleva a visão dos visitantes ao nível das impactantes – e geralmente nuas – figuras klimtianas. Sendo mais exato: ao nível de sua genitália.

"Para a associação de artistas da Secessão Vienense era importante abordar o Ano Klimt de uma perspectiva contemporânea", explica Sylvie Liska, presidente da fundação Amigos da Secessão. "Esta caixa amarela primeiro bloqueia a visão sobre a obra de Klimt, e depois só nos permite vê-la em close-up após haver adentrado uma peça de arte contemporânea."

Intervenção permite nova visão do "Friso Beethoven"Foto: W. Thaler/Vienna Secession

Explosão criativa em Viena

Originalmente, o Friso Beethoven integrava uma mostra em homenagem ao grande compositor alemão, que passou uma parte importante de sua vida em Viena. Klimt pintou o afresco em tributo a uma outra obra incluída na exposição: a estátua de Ludwig van Beethoven por Max Klinger. Este trabalhara durante 20 anos na peça, atualmente exibida no Museu de Artes Visuais de Leipzig.

"Portanto, é nesse contexto que o Friso Beethoven deve ser visto: não se trata de uma imagem icônica de Klimt, mas sim de um tributo à escultura central, específico deste local", ressalva Liska.

Viena vivia um momento de explosão artística em 1902, quando o pintor trabalhava em seu friso. O compositor e regente Gustav Mahler era assunto de controvérsias na Ópera Nacional; Alfred Loos despojava a arquitetura de toda decoração; e Gustav Klimt ignorava os críticos, criando quadros de beleza subversiva.

"O mundo judaico nascido em Viena antes da Primeira Guerra Mundial foi algo de espetacular", conta Edward Serotta, da organização Centropa, que documenta a vida judaica na Europa Central durante o Século 20. "Foi este mundo que nos deu nomes como Sigmund Freud e Arthur Schnitzler, nos deu Mahler e muitos outros. Historiadores e outros têm afirmado que o nascimento do Modernismo se deu na Viena da virada do século."

Hipocrisia estatal

Essa época áurea foi efêmera. Klimt faleceria em 1918, duas décadas antes do Holocausto, da destruição de sua sociedade e do saque de sua arte pelos nazistas.

O Friso Beethoven foi confiscado em 1938 da família Lederer, seus proprietários judeus. Após haver escapado para Genebra, na Suíça, no fim da guerra eles receberam de volta da Áustria o afresco, agora seriamente danificado. Porém, como aponta Sylvie Liska, na prática o Friso permaneceria firmemente nas mãos do Estado.

"A restituição foi uma farsa, pois, obviamente, todos os judeus foram forçados a abandonar o país. Eles não foram realmente convidados a retornar e se estabelecer na Áustria, sua cidadania não foi restituída. Mas suas posses viraram patrimônio nacional", acrescenta, referindo-se ao fato de que o Friso ficou proibido de deixar o país. "Isso é irônico."

Prédio da Secessão VienenseFoto: Matthias Herrmann/Vienna Secession

Somente em 1973 o Estado austríaco pagou pela obra de arte, cuja penosa restauração pôde então começar. Em 1986 o Friso retornava a seu local de origem: a Secessão.

Acusado de pornográfico por certos críticos em 1902, ele é agora uma atração cultural de peso, numa cidade em que há obras de arte importantes em abundância. Falando à DW na sala do presidente da Secessão, antes ocupada pelo próprio Klimt, Liska reflete sobre a traumática história do Friso.

"Pode-se vê-lo como uma metáfora da história da Áustria. Além disso: quem eram as pessoas que colecionavam e patrocinavam Klimt? Eram judeus ricos, não eram os Habsburgos e não eram os aristocratas. Os judeus eram os novatos em Viena, e ao colecionar e apoiar a arte, também apoiavam sua própria identidade, uma identidade a que tiveram que renunciar."

Perto do Paraíso

No momento, ocorrem simultaneamente em Viena quatro grandes mostras dedicadas a Gustav Klimt, e outras mais estão programadas para o decorrer do ano. Mas a Plataforma da Secessão coloca os visitantes mais próximos de sua arte do que qualquer outra exposição.

"Somente 40 pessoas podem subir à plataforma ao mesmo tempo", explica Tamara Schwarzmayr, da Secessão Vienense. Segundo ela, os visitantes ficam maravilhados ao emergir no palco criado por Rockenschaub. "Eles podem ver [o Friso] de uma perspectiva diferente e muito de perto."

A Nona sinfonia de Beethoven fica tocando nos alto-falantes, enquanto os visitantes observam as figuras femininas flutuantes, simbolizando a ânsia por felicidade, e as imagens de forças hostis e de salvação, a qual Klimt acreditava só poder ser alcançada através da arte. Schwarzmayr comenta: "O Paraíso é um dos motivos mais importantes que temos no Friso Beethoven. Aqui, se está muito próximo do Céu."

Autoria: Kerry Skyring (av)
Revisão: Alexandre Schossler

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