Vigilância com câmeras de vídeo eleva a segurança?
Jefferson Chase fc
29 de dezembro de 2016
Atentado a feira de Natal e ataques a pessoas no metrô de Berlim acirram debate sobre o uso de câmeras contra o crime. Críticos dizem que método é caro e ineficiente e pode até estimular atos terroristas.
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O atentado a um mercado de Natal e recentes ataques a pessoas no metrô de Berlim reacenderam o debate sobre a ampliação do uso de câmeras de vigilância em toda a Alemanha e, em particular, na capital do país.
O Ministério do Interior pediu ao governo da cidade de Berlim que instale mais câmeras de vigilância, mas a administração local – uma coalizão entre o Partido Social-Democrata (SPD), o Partido Verde e A Esquerda – afirmou que ainda está avaliando a questão e vai se pronunciar em janeiro.
Representantes dos policiais alemães consideram essa posição absurda e irresponsável. "É um pouco contraditório quando as autoridades pedem para que as pessoas lhes enviem vídeos feitos por celular e, ao mesmo tempo, se recusam a assegurar a existência de vigilância pública por câmeras de vídeo", afirmou Ernst Walter, vice-chefe de um dos principais sindicatos policiais da Alemanha.
Para ele, o governo da cidade se esconde atrás de considerações sobre proteção de dados, mas sabe que, se não tiver provas em vídeo, não conseguirá pegar criminosos. "Essa resistência tem que acabar, especialmente depois que nós vimos as consequências negativas de não pegarmos o autor de um crime", afirmou Walter.
Os sindicatos policiais acreditam que essa tecnologia poderia ter ajudado a localizar mais rapidamente Anis Amri, o principal suspeito pelo ataque em Berlim. "Você não pode parar um ataque terrorista com vigilância por vídeo", disse Walter. "Mas você pode usá-la para capturar o autor do crime. Nós vimos como isso foi ruim na Alemanha. Amri desapareceu, e não conseguimos prendê-lo."
"Caro e inútil"
Representantes do Partido Verde e de A Esquerda se opõem à ideia de instalar mais câmeras de vigilância na capital alemã. Numa entrevista, o deputado esquerdista Frank Tempel – que foi treinado como policial – classificou a vigilância por vídeo como um método de prevenção ao crime "muito caro e inútil".
Walter discorda, argumentando que as câmeras de vigilância são úteis tanto na resolução quanto na prevenção de crimes. Ele mencionou como exemplo as imagens de vídeo que levaram à captura de um homem que empurrou uma mulher na escadaria de uma estação de metrô na capital alemã. Ele também destacou o papel desempenhado pelas câmeras de vigilância no caso de sete jovens que tentaram incendiar um sem-teto que dormia numa estação de metrô, também em Berlim. "Eu acho que as chances de superar a atual resistência são muito boas, porque tivemos muitos bons exemplos da utilidade das câmeras de vigilância", disse Walter.
Mais prejudicial do que benéfica?
Os críticos contestam a eficácia da vigilância por vídeo tanto para prevenir como para resolver crimes. Numa entrevista a uma emissora de rádio, Peter Schaar, ex-comissário federal para a proteção de dados e liberdade de informação, questionou que câmeras de vigilância poderiam ter ajudado a polícia a localizar Amri.
"As câmaras de vídeo não entregam automaticamente nome, endereço e paradeiro de alguém", criticou Schaar, lembrando que Amri havia sido identificado erroneamente em imagens de vídeo feitas do lado de fora de uma mesquita em Berlim, no dia seguinte ao ataque.
Ele argumentou que as câmeras de vídeo podem até estimular atos de terrorismo, por exemplo em casos de ataques suicidas. "Os autores dos atentados a bomba contra o sistema de transporte público de Londres, em 2005, se exibiram propositalmente às câmeras de vídeo porque esperavam que as imagens fossem exibidas pela mídia, elevando assim o efeito do ato de terrorismo."
A Associação dos Juízes Alemães também se opõe ao uso crescente de câmeras de segurança. "Os ataques terroristas podem ser até encorajados", afirmou o porta-voz Jens Gnisa, à agência de notícias alemã DPA. "Os autores de crimes podem procurar especificamente locais com vigilância de câmeras para tornar seus atos mais visíveis para o público."
Cronologia: terrorismo na Alemanha
Há muito tempo a Alemanha já é alvo de atentados e planos de ataques de grupos extremistas. O mais recente aconteceu num mercado de Natal em Berlim, onde um caminhão avançou contra a multidão.
Foto: Reuters/W. Rattay
Dezembro de 2016: Berlim
Um caminhão invadiu a calçada e avançou contra o mercado natalino na praça Breitscheidplatz, em Berlim. Segundo a polícia, ao menos 12 pessoas morreram e 48 ficaram feridas.
Foto: Reuters/F. Bensch
Outubro de 2016: Leipzig
A polícia prendeu o refugiado sírio de 22 anos Jaber al-Bark após descobrir explosivos e equipamentos para fabricação de bombas caseiras no seu apartamento em Chemnitz, próximo a Leipzig, no leste da Alemanha. Ele foi acusado de planejar um ataque ao aeroporto de Berlim. Depois de dois dias na prisão, al-Bark se enforcou.
Foto: Polizei Sachsen
Julho de 2016: Ansbach
Em julho, o "Estado Islâmico" (EI) reivindicou a autoria do ataque executado pelo refugiado sírio Mohammed D., de 27 anos. D., que já havia jurado lealdade ao grupo extremista, detonou explosivos presos ao próprio corpo na entrada de um festival de música. O homem, que tinha problemas psiquiátricos, obteve instruções pelo celular até instantes antes do ataque.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Karmann
Julho de 2016: Würzburg
Um refugiado afegão de 17 anos atacou, com um machado e uma faca, passageiros de um trem regional em Würzburg, na Baviera. Várias pessoas ficaram feridas gravemente, incluindo quatro membros de uma família de Hong Kong. O jovem foi morto pela polícia. Embora o EI tenha reivindicado a autoria do atentado, para as autoridades não está claro se o rapaz mantinha contato com o grupo extremista.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Hildenbrand
Maio de 2016: Düsseldorf
Três suspeitos de integrar o EI foram presos nos estados de Renânia do Norte-Vestfália, Brandemburgo e Baden-Württemberg. Autoridades afirmam que dois dos homens planejavam detonar bombas presas ao próprio corpo, enquanto o terceiro integrante e um quatro jihadista, preso na França, planejavam matar pedestres com armas e explosivos. Os atentados aconteceriam em Düsseldorf, no oeste da Alemanha.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hitij
Abril de 2016: Essen
A polícia prendeu três pessoas após um ataque a bomba a um templo sikh em Essen, no oeste da Alemanha. O atentado aconteceu durante uma celebração de casamento. Três pessoas ficaram gravemente feridas. As autoridades identificaram os suspeitos a partir de imagens de câmeras de segurança. Entre os detidos está um jovem de 16 anos, que teria contato com o movimento salafista no país.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kusch
Fevereiro de 2016: Hannover
A jovem Safia S., de 16 anos, alemã de ascendência marroquina, esfaqueou um policial na estação central de Hannover, cidade no norte da Alemanha. O agente foi gravemente ferido e precisou ser submetido a uma cirurgia. Segundo as autoridades, S. planejava se juntar ao EI na Síria.
Foto: Polizei
Fevereiro de 2016: Berlim
Numa operação simultânea em três estados, a polícia alemã desmantelou uma célula do grupo extremista EI. Os quatro suspeitos, da Argélia, planejavam um ataque na capital do país. Segundo a polícia, o plano ainda estava no início.
Foto: Reuters/F. Bensch
Abril de 2015: Oberursel
A polícia prendeu em Oberursel, no oeste alemão, um casal acusado de planejar um ataque durante uma corrida de ciclismo. Os dois, que seriam salafistas, mantinham no porão de casa uma bomba caseira. Por falta de provas de vínculo terrorista, o homem foi condenado a dois anos de prisão por falsidade ideológica e posse de arma e explosivos ilegais. As investigações contra a esposa foram arquivadas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Dezembro de 2012: Bonn
Uma mala com explosivos foi encontrada na estação central de Bonn, oeste do país. Para as autoridades, tratava-se de uma tentativa de ataque terrorista com motivações islamistas. Em 2013, quatro suspeitos de planejar um ataque contra o líder do grupo extremista de direita "Pro NRW" foram presos. Um deles teria colocado a bomba em Bonn. O processo contra o suspeito corre desde 2014, em Düsseldorf.
Foto: picture-alliance/dpa/Meike Böschemeyer
Abril de 2011: Düsseldorf
Três supostos membros do grupo terrorista Al Qaeda foram detidos em Düsseldorf, acusados de planejar um ataque a bomba no país. Em dezembro de 2011, um quarto suspeito foi preso. No final de 2014, os quatro homens foram condenados a vários anos de prisão.
Foto: picture-alliance/dpa
Março de 2011: Frankfurt am Main
As autoridades conseguiram impedir um atentado islamista no aeroporto de Frankfurt. Um albanês de Kosovo matou a tiros dois soldados americanos e deixou outros dois feridos. O homem foi condenado à prisão perpétua.
Foto: AP
Setembro de 2007: Oberschledorn
Em setembro de 2007, a organização islamista Grupo Sauerland foi desmantelada no oeste da Alemanha. Em 2010, seus quatro integrantes foram condenados por planejarem ataques em discotecas, aeroportos e instituições no país. As penas chegaram a 12 anos de prisão.
Foto: AP
Julho de 2006: Colônia
Na estação central de Colônia, no oeste do país, dois homens colocaram malas com explosivos em trens regionais que iam para Hamm e Koblenz, mas as bombas não detonaram. Em dezembro de 2008, um deles foi condenado à prisão perpétua.