Vilarejo natal ajuda a entender legado de Georg Büchner
1 de agosto de 2013"O que faz alguém se tornar universalmente reconhecido?" Essa é uma das duas perguntas recorrentes, diz Rotraud Pöllmann, guia há vários anos da casa onde nasceu Georg Büchner. A segunda é: "O que teria sido do autor, caso ele tivesse envelhecido?". Georg Büchner morreu em 1837 com apenas 23 anos de idade.
Pöllmann não é especialista em literatura. Ela trabalha há anos na administração da Casa Büchner e se tornou profunda conhecedora do escritor somente depois de se aposentar. Quando ela se mudou com a família para a pequena localidade de Goddelau, nas proximidades de Darmstadt, no estado de Hessen, a casa onde Büchner nasceu ainda estava vazia. A prefeitura comprou o imóvel em 1988, reformou-o cuidadosamente e procurou alguém que desse vida ao lugar.
Pöllmann admira-se de ter sido a escolhida – ela não vem da região e não é especialista em literatura alemã. Pensou, porém, que o imóvel histórico não poderia continuar abandonado até ser demolido. E resolveu "pôr a mão na massa".
Sem ser remunerada para isso, começou a estudar o assunto e se transformou numa especialista em Büchner, tendo frequentado, por exemplo, congressos da Sociedade Büchner, em Marburg. Na casa onde o escritor nasceu, Pöllmann guarda peças ligadas a ele e guia a visita de estudantes e turistas.
Único lugar autêntico
Georg Büchner nasceu em 17 de outubro de 1813, como primeiro filho de Ernst e Caroline Büchner, em Goddelau. Dois de seus oito irmãos morreram prematuramente. O pai trabalhava como cirurgião num hospital próximo, e a família viveu apenas poucos anos nesta casa, que ficou rapidamente pequena para tanta gente.
Hoje, a casa foi reconstruída em sua forma praticamente original, ao contrário do que aconteceu com os outros domicílios nos quais Büchner viria a viver posteriormente. Por isso, Goddelau recebe a cada ano em torno de duas mil pessoas, conta Pöllmann.
Mas em 2013, comemorado como o Ano Büchner, a soma de visitantes já chegou à marca de mil nos primeiros cinco meses do ano. A casa é procurada por especialistas em literatura alemã da América do Norte e do Japão, mas também de outros países europeus. O lugar é procurado também por turistas de todo o mundo – alguns já chegam com dúvidas a respeito do renomado escritor, outros apenas ouvem as informações durante as visitas guiadas.
Pöllmann especializou-se em assuntos ligados à família de Büchner. Ela sabe tudo sobre os avós, as irmãs e o irmão do escritor. "As pessoas gostam quando conto algo sobre a família dele. Família é algo que todo mundo tem", diz.
E Pöllmann acredita que a chave para a compreensão da obra de Büchner esteja exatamente na família. O pequeno Georg recebeu um incentivo incomum para a época. "Na casa dos Büchner explicava-se tudo às crianças, falava-se sobre os acontecimentos do dia a dia, de forma que as crianças aprendiam tudo: a formular e a debater em discussões a dois", completa a especialista. O ideal de crianças silenciosas, sentadas incólumes à mesa, nunca vigorou na casa dos Büchner.
Poucas peças originais
Hoje já não há mais tantas peças originais na casa, mas mesmo assim tenta-se reconstruir minuciosamente os detalhes da vida do escritor ali dentro. Há manuscritos e livros de Büchner em exposição. Uma das salas é inteiramente dedicada ao panfleto O Mensageiro de Hessen, no qual o autor conclama à queda das autoridades, o que quase o levou à prisão e o obrigou a fugir para a França. Para lembrar do dramaturgo, autor de três peças de teatro que correram o mundo e que se tornou um dos mais premiados autores alemães de todos os tempos, a casa utiliza alguns adereços específicos das encenações.
Pöllmann diz que o cerne da obra de Büchner remete à sua educação e estrutura familiar. Para especular o que teria acontecido caso ele tivesse vivido mais tempo, ela cita as histórias dos cinco irmãos do escritor, que se tornaram políticos e filósofos conhecidos. Suas irmãs, por sua vez, empenharam-se em questões sociais e em defesa dos direitos das mulheres. E um dos irmãos se tornou um empresário de sucesso.
Büchner morreu jovem, com apenas 23 anos, vítima de tifo, na cidade suíça de Zurique. Seus textos e peças são hoje lidos e encenados em todo o mundo. E não deve haver outro lugar que evoque de maneira tão palpável a obra do escritor que a pequena casa onde ele nasceu, em Goddelau.