"Vim resolver problemas, e não criar divisão", diz Biden
25 de março de 2021
Presidente dos EUA dobra meta e promete 200 milhões de doses de vacina contra covid-19 em 100 dias. Ele rejeitou que seu governo atraia migrantes para fronteira e prometeu melhoras na economia americana pós-coronavírus.
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, concedeu nesta quinta-feira (25/03) a primeira entrevista coletiva desde sua posse, no dia 20 de janeiro.
Ele foi o primeiro presidente em quatro décadas a aguardar mais de dois meses para realizar uma coletiva de imprensa junto aos correspondentes da Casa Branca.
A coletiva foi realizada do Salão Leste da Casa Branca ao invés da sala de imprensa, para que fosse possível manter o distanciamento entre os repórteres, entre outras precauções de saúde.
Biden deu início à conferência ressaltando que seu objetivo de disponibilizar 100 milhões de doses de vacina em 100 dias de governo foi cumprido bem antes da data prevista e dobrou a meta para 200 milhões nesse período.
Os Estados Unidos têm aplicado em média em torno de 2,5 milhões de doses por dia na última semana. Se esse ritmo continuar, o país ultrapassaria a meta de 200 milhões de doses antes do 100º dia Biden na presidência, 30 de abril.
O presidente comemorou a aprovação do pacote de estímulo proposto por seu governo mesmo sem o voto de republicanos. "Estamos fazendo a economia crescer", afirmou. "Fui chamado para resolver problemas, e não para criar divisão."
"Desde a aprovação, a maioria dos economistas aumentou significativamente suas projeções sobre o crescimento econômico que deve ocorrer no ano que vem. Agora, projetam um crescimento de 6% no Produto Interno Bruto", comemorou.
Biden disse que tentará mudar as estratégias republicanas para obstruir votações no Congresso de pautas importantes ou torná-las mais difíceis, o chamado "filibuster".
Ao ser questionado sobre seu comprometimento com a retirada das tropas americanas no Afeganistão até o dia 1º de maio, ele disse que vai ser difícil, alegando complicações estratégicas. "Se sairmos, o faremos de maneira segura e organizada", disse, sem poupar críticas ao ex-presidente Donald Trump, cujo governo estabeleceu o prazo.
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Crise na fronteira com o México
Um dos principais pontos da entrevista coletiva foram os questionamentos sobre a questão migratória nos EUA. Centenas de milhares de pessoas se acumulam na fronteira com o México em busca de refúgio em solo americano, em meio a denúncia de maus tratos aos migrantes nos centros de acolhimento no sul do país.
Biden rejeitou o argumento de que os migrantes estivessem se dirigindo em massa para o país por acharem que o novo presidente é um "sujeito simpático", mas sim, pelos problemas graves existentes nos países ao sul da fronteira.
Ele lembrou que Trump suspendeu o financiamento destinado para lidar com as causas que levam as pessoas a deixarem seus países. "A ampla maioria dos que chegam à fronteira estão sendo mandados de volta", disse Biden.
O presidente, porém, disse que o governo de seu antecessor permitia que crianças morressem de fome do outro lado da fronteira. "Eu não vou fazer isso", afirmou, reiterando que não se arrepende de ter cancelado algumas das leis anti-imigração mais duras impostas pelo governo anterior.
rc/lf (AP, DW)
A trajetória política de Joe Biden
Joe Biden foi eleito senador nos Estados Unidos pela primeira vez aos 30 anos. Quase meio século depois, ele assume o cargo mais alto do país. Eis sua trajetória política.
Foto: Howard L. Sachs/Consolidated News Photos/picture alliance
Primeiro juramento no hospital
O advogado Joseph Robinette Biden Jr. foi eleito senador pela primeira vez aos 30 anos. Contudo, esta seria uma das épocas mais difíceis de sua vida: duas semanas antes de ele tomar posse, sua esposa e sua filha de 1 ano morreram num acidente de carro. Os outros dois filhos, Beau e Hunter, ficaram feridos. Biden fez seu primeiro juramento à Constituição no hospital, ao lado do leito de Beau.
Foto: AP Photo/picture alliance
Um homem da política externa
Como senador de Delaware, ele não defendeu apenas os interesses de seu estado. Nas décadas de 1970 e 1980, o democrata se tornou conhecido sobretudo por lidar com assuntos estrangeiros. Nesta foto de 1979, ele conhecia o então presidente do Egito, Anwar as-Sadat, que pouco tempo antes havia assinado o histórico tratado de paz com Israel por meio da mediação do presidente americano Jimmy Carter.
Foto: Public Domain
A primeira candidatura: breve e dolorosa
Nas eleições presidenciais de 1988, Joe Biden fez sua primeira tentativa de ocupar o cargo mais alto do país. Mas logo surgiram acusações de plágio, alegando que ele teria usado trechos inteiros de discursos de outros políticos sem declará-los como tal. Quando surgiram questões sobre trabalhos de seus tempos de faculdade, ele retirou sua candidatura de apenas seis semanas.
Foto: Howard L. Sachs/Consolidated News Photos/picture alliance
A sombra do Comitê Judiciário
Como presidente do Comitê Judiciário do Senado (1987-1995), Joe Biden presidiu as audiências de 1991 para o candidato à Suprema Corte Clarence Thomas. A advogada Anita Hill (de costas) acusou Thomas de assédio sexual perante o comitê, mas Biden não respondeu ao caso. Em 2019, antes de sua candidatura presidencial, ele se desculpou – mas segundo Hill, sem muita convicção.
Foto: Blue Fox Entertainment/Everett Collection/picture alliance
A segunda candidatura: prêmio de consolação
Vinte anos após sua primeira candidatura, Biden (1º à esquerda) se ofereceu novamente aos democratas como candidato presidencial. Na ocasião, ele ostentava a imagem de um forte político de assuntos estrangeiros e se destacava como um homem de centro. No fim, porém, Barack Obama acabou se tornando candidato e presidente – e Biden, seu vice.
Foto: CJ Gunther/dpa/picture-alliance
O homem de Obama para assuntos do exterior
O presidente Barack Obama delegou a seu vice, Joe Biden, a tarefa que ele provavelmente fazia de melhor: conversar com parceiros estrangeiros – independentemente de qual continente. Ao longo de oito anos como vice-presidente, ele se encontrou não apenas com o então presidente do Conselho da UE, Donald Tusk (foto), mas com quase todos os principais políticos da Europa.
Foto: Reuters/F. Lenoir
A terceira candidatura: a jogada certa
Em 2019, Joe Biden tentou mais uma vez – aos 77 anos. Após a campanha das primárias democratas, estava claro que ele, e não o socialista Bernie Sanders, de 78, concorreria contra Donald Trump. O que provavelmente o ajudou foi a esperança de que Biden, tido como um ponto de equilíbrio entre democratas e republicanos, fosse a alternativa certa para o rival, um notório polarizador.
Foto: Morry Gash/Getty Images
Enfim na Casa Branca
Joe Biden deixou sua marca na política dos Estados Unidos por quase meio século. Agora, aos 78 anos, ele coroa sua carreira com o que provavelmente é o ápice na vida de qualquer político. Ao assumir a presidência, ele se torna o mais velho presidente a tomar posse no país. Talvez isso lhe confira a sabedoria necessária para voltar a unir a sociedade americana, hoje profundamente dividida.