1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Vinícolas brasileiras exploram nicho de mercado

Geraldo Hoffmann25 de novembro de 2004

Disputa será com os chamados vinhos do Novo Mundo, oriundos da Austrália, Estados Unidos, África do Sul e Chile.

Barricas de carvalho usadas no envelhecimento do vinhoFoto: Acervo Miolo

O diretor do Setor de Promoção Comercial da Embaixada do Brasil em Berlim, Rodrigo Carvalho, falou em entrevista à DW-WORLD sobre a melhoria técnica do vinho brasileiro e de suas perspectivas de conquistar um nicho de mercado na Alemanha e União Européia.

DW-WORLD

: Qual é o volume de vinho produzido e exportado pelo Brasil?

Rodrigo Carvalho

- A produção anual brasileira oscila em torno de 360 milhões de litros. Em 2003, as exportações de vinho somaram 220 mil dólares e, de janeiro a dezembro de 2004, 312 mil dólares. Comparando com os dados de 2002, quando foram de 193 mil dólares, é evidente o avanço das exportações brasileiras, ainda que o volume não seja muito grande. A previsão é de um crescimento de 60% até 2006, chegando a um total de 400 mil dólares.

Quanto desse total é exportado para a Alemanha e União Européia?

No mercado alemão, a participação brasileira ainda é pequena, com a venda de aproximadamente 20 mil garrafas nos primeiros dez meses de 2004. Isso evidencia que existe um grande potencial para as exportações brasileiras, que precisa ser explorado. No que se refere aos países industrializados, os principais mercados para o vinho brasileiro são o Japão, seguido dos Estados Unidos. Para a União Européia, nós temos exportado aproximadamente 10% do total. Então, verifica-se que, não só no caso da Alemanha, como principal economia da União Européia, mas na UE como um todo existe muito espaço a ser conquistado.

Como surgiu a idéia de lançar uma ofensiva do vinho na Alemanha?

Ocorreu ao longo das duas últimas décadas uma melhora técnica muito expressiva do vinho brasileiro e, portanto, o governo percebeu que existia um potencial para apoiar a consolidação da imagem do Brasil como um produtor confiável de vinhos finos. Para isso, foi criado um projeto setorial integrado, administrado pelo Ministério da Indústria e do Comércio, pela Agência Brasileira de Exportações (Apex) e pelo Instituto Brasileiro do Vinho, apoiados pelos setores de promoção comercial das embaixadas do Brasil no exterior.

Ainda existem restrições ao vinho brasileiro na Europa e que tipo de classificação será usado?

De maneira geral, não existem mais restrições aos modos de produção brasileiros nem barreiras alfandegárias ou de caráter fitossanitário. Mas como a denominação de origem controlada brasileira ainda não é reconhecida em termos amplos pela União Européia, é preciso que o país caminhe nessa direção, a fim de prover a documentação necessária para comprovar que é um produtor confiável e eficiente de vinhos finos. Isso ainda limita o acesso a determinadas parcelas do mercado que poderiam ser interessantes. Mas esse problema deverá ser resolvido em breve.

O Brasil adotará o sistema de classificação por origem controlada para os vinhos de exportação. Haverá algumas denominações de origem controlada reconhecidas internacionalmente.

Com que estratégia os vinicultores brasileiros pretendem conquistar o mercado alemão, que já dispõe de uma enorme diversidade de vinhos nacionais e importados?

Nós sabemos que a competição no milionário mercado alemão, o quarto maior do mundo, é acirrada e, além de uma produção nacional bastante diversificada, o país já conta com a presença dos melhores vinhos do mundo. Mas o Estado brasileiro e os empresários do setor percebem que é possível caracterizar o vinho brasileiro como um produto de alta qualidade. Com a perspectiva de que haja denominações de origem controlada, cinco regiões do Brasil poderão ser destacadas no cenário internacional como produtoras de vinhos com características muito peculiares: Vale dos Vinhedos (RS), Vale do Rio São Francisco – que chega a ter duas safras de uva ao ano –, Campos de Cima da Serra (RS), Campanha (na divisa com o Uruguai) e Serra Gaúcha. E, portanto, essas características podem ser ressaltadas naquilo que é conhecido pelo termo de "terrois", ou seja, a junção de três fatores: o solo, o clima e a intervenção do homem sobre o produto.

Quais são as características do vinho brasileiro que podem convencer os alemães?

Cada vinho tem uma característica. O vinho não se repete em nenhuma parte do mundo. Os vinhos sul-africanos, californianos etc, embora sejam produzidos com variedades de uvas européias, têm suas peculiaridades de solo e clima. E determinadas safras brasileiras têm acompanhado o padrão internacional com as suas características específicas de sabor. Um exemplo foi a safra de 1991, considerada notável internacionalmente, o que deve se repetir em 2004, porque não só o nível técnico aumentou muito, como os vinhos produzidos na Serra Gaúcha nesse período tiveram um índice pluviométrico muito baixo. Como o Vale dos Vinhedos fica próximo ao paralelo 30, reconhecidamente uma das regiões melhores do mundo para produção de vinhos, essas características que refletem no sabor do vinho merecem ser destacadas numa estratégia de promoção comercial.

A idéia, portanto, é ressaltar o fato de que o vinho tem peculiaridades e qualidade para disputar, em caráter inicial, um nicho de mercado: vinho dos chamado Novo Mundo (da Austrália, EUA, África do Sul, Chile etc).

Quais as vinícolas que participam dessa ofensiva?

Participam do projeto setorial integrado as vinícolas Aurora, Casa Valduga, De Lantier, Lovara, Miolo e Salton. No evento desta quinta-feira, na Embaixada do Brasil em Berlim, está representada apenas a Miolo, que já exporta vinhos para a Alemanha e já obeteve 90 premiações na Europa. No último concurso Mundus Vini, promovido este ano na Alemanha, vinícolas brasileiras receberam seis medalhas de prata, o que é uma premiação bem considerável, tendo em vista que os vinhos não são identificados durante o concurso.

Onde o vinho brasileiro será oferecido ao consumidor na Alemanha?

A estratégia é definir nichos de mercado. A idéia é distribuir em toda a rede atacadista e varejista. Numa primeira ofensiva, estamos pensando em estabelecimentos menores de um nível mais sofisticados. É bastante provável que venhamos a realizar outros eventos dessa natureza, por exemplo, reunindo todas as vinícolas que participam do projeto setorial integrado.

Não seria melhor fazer logo uma campanha em nível europeu, em vez se concentrar a atenção no mercado alemão?

É óbvio que as normativas da União Européia emanam de Bruxelas e valem para todos os países. Mas essas normativas são mais de caráter técnico. No que se refere à conquista de parcelas de mercado, é preciso trabalhar de maneira atomizada. As características do mercado alemão não são as mesmas do mercado francês ou espanhol. Os hábitos de consumo são outros. Então, apesar de termos uma normativa comum, é preciso levar em consideração as peculiaridades de cada mercado na hora de implementar uma estratégia de promoção comercial.

A quem se dirige o evento em Berlim?

A idéia da realização do evento é trazer uma parcela de formadores de opinião que podem disseminar informações sobre a qualidade do vinho e difundir a boa imagem do vinho brasileiro, que nós queremos consolidar. Temos aqui representantes da imprensa especializada e de grandes cadeias varejistas e atacadistas, bem como de lojas especializadas na comercialização de vinhos finos.

Pular a seção Mais sobre este assunto