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Consumo

Jennifer Abramsohn (sv)29 de agosto de 2007

Cadeia popular de supermercados Aldi fecha um acordo com dois dos mais respeitáveis produtores de vinho da Alemanha. Mas há quem tenha dores de cabeça com a idéia de comprar vinhos sofisticados a preço de banana.

Vinho alemão: boa reputação nos últimos anosFoto: BilderBox

A reputação dos vinhos alemães melhorou nos últimos anos. O país não é mais visto somente como um produtor dos terríveis "brancos doces", mas começa a tirar proveito da fama internacional de produzir saborosos e sutis vinhos Riesling e Müller-Thurgau, entre outros.

Ou seja, à primeira vista, não parece ser a hora certa para dois dos mais respeitáveis produtores de vinho do país se juntarem à principal cadeia nacional de supermercados de baixo preço. Mesmo porque a rede Aldi, responsável por uma baixa de preços no varejo alemão, já reduziu os vinhos de suas prateleiras de 2,70 euros por uma garrafa de 750 ml, safra 2001, para apenas 1,73 euro, contabiliza Ernst Büscher, porta-voz do Instituto Alemão do Vinho, uma associação de produtores do ramo.

Mil produtores

Vinhos nobres em sacolinhas plebéias?Foto: AP

No entanto, se aliar ao Aldi é exatamente o que os produtores de vinho Raimund Prüm, da região do Mosela, e Fritz Keller, da de Kaiserstuhl, em Baden, acreditam ter sido um tiro certeiro.

Em junho último, Keller assumiu o compromisso de fornecer à cadeia de supermercados vinhos alemães Weissburgunder e Spätburgunder. Para dar conta do recado, Keller vai cooperar com aproximadamente mil produtores, que estarão sujeitos a um rígido controle de qualidade. Os vinhos poderão ser comprados nos supermercados a preços em torno dos sete a oito euros.

Vendas imediatas

Raimund Prüm, cujos melhores Riesling podem ser vendidos por centenas de euros a garrafa, também teve que fechar um acordo especial para dar conta da produção destinada aos supermercados Aldi.

Para o total de 300 mil a meio milhão de garrafas, Prüm vai usar tanto uvas próprias, quanto de outros vinhedos. As "uvas estranhas", contudo, deverão ter sido cultivadas de acordo com rígidos critérios de produção e localização.

Diante do volume relativamente pequeno da produção e dos preços oscilando entre seis e oito euros por garrafa, Prüm previu em entrevista ao jornal Die Welt que "os vinhos vão sumir das prateleiras do Aldi em poucas horas".

Vencedores dos dois lados?

Para o produtor, trata-se de uma partida entre vencedores. De um lado, graças ao sistema de distribuição em massa do Aldi, seus vinhos poderão ser apreciados por um vastíssimo público. "O vinho será oferecido especialmente pela cadeia de supermercados e irá mostrar como a região do Mosela pode produzir vinhos de altíssima qualidade", diz Prüm.

Foto: M.Nelioubin



O Instituto Alemão do Vinho estima que as vendas no varejo sejam responsáveis por 70% do consumo de vinho na Alemanha, sendo que 30% deste montante podem ser creditados ao Aldi. Lojas especializadas respondem por apenas 3 a 5% das vendas do produto.

Ironicamente, receber um convite para vender um vinho de qualidade numa cadeia gigantesca de supermercados de baixo preço pode ser considerado uma honra para o produtor, diz o especialista Büscher.

A rede Aldi já promoveu vinhos sofisticados e de qualidade da Itália e da França. Agora é a vez da Alemanha. "Estão agora abrindo esta categoria de preços para os vinhos alemães, o que mostra que a imagem destes está melhorando, tanto dentro quanto fora do país", analisa Büscher.

Ceticismo

Em meio a tanto otimismo, há também os céticos. Nils Vahrenwald, proprietário da Weinhaus Süd, uma distribuidora de porte médio de vinhos internacionais em Colônia, não vê com bons olhos os produtores que se aliam ao varejo popular.

"Não entendo por que estão fazendo isso. Esses produtores não precisam estar nas prateleiras ao lado dos mais baratos produtos para consumo de massa. Honestamente, não sei como estão produzindo esse vinho, mas devem estar comprando uvas baratas, trabalhando um pouco em cima delas na produção e vendendo a troco de altos lucros. No fim, não estarão prestando favor algum ao vinho alemão", diz Vahrenwald, ao lembrar que gastou anos tentando polir a imagem do vinho alemão entre seus clientes, mesmo quando este andava fora de moda.

Preocupação com o futuro

Já Ulrich Sauter, editor da revista alemã Wein Gourmet, acredita que as duas partes vão sair ganhando no negócio. "Os supermercados querem ganhar prestígio e os produtores querem vender mais. E se o Aldi estiver disposto a ter vinhos mais caros em suas prateleiras, isso vai trazer ganhos para os produtores. Concordo que seja um paradoxo, mas não acredito que pessoas como Fritz Keller estejam fazendo isso só para lucrar mais. Acredito que ele esteja realmente preocupado com a situação de pequenas cidades vinícolas em sua região. Se os produtores desaparecessem de Kaiserstuhl, Baden, Mosela, essas regiões iriam se transformar por completo", profetiza Sauter.

No entanto, só o tempo dirá se este foi realmente um passo certeiro para a indústria do vinho. "Só poderemos saber depois que experimentarmos os vinhos que eles estão produzindo", completa Sauter.

Pequenos produtores: importância para regiõesFoto: dw-tv
Vinhedos na região do MoselaFoto: DWI / Büscher
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