Violência de insurgentes ameaça eleição no Afeganistão
Masood Saifullah md
19 de outubro de 2018
Votação ocorre em meio a série de ataques do Talibã e outros grupos extremistas. Pleito deveria ter ocorrido há dois anos, mas foi adiado devido à falta de segurança. Irregularidades também podem ofuscar escrutínio.
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Neste sábado (20/10), os afegãos vão às urnas para eleger representantes para os 250 assentos da câmara baixa do Parlamento, disputados por cerca de 2.500 candidatos.
Pelo menos 68 dos lugares são reservados para mulheres, 10 para os nômades kuchi, um para minorias sikhs e outro para hindus, conforme determina a Constituição.
A votação era originalmente prevista para 2016, mas a falta de segurança e conflitos políticos levaram ao adiamento, e é considerada crucial para determinar se Cabul tem condições de realizar eleições presidenciais em 2019.
A segurança continua sendo o maior desafio. Cerca de 54 mil funcionários de segurança serão enviados para cerca de 5 mil centros de votação em todo o país para garantir a segurança dos eleitores.
De acordo com autoridades afegãs, a votação não será realizada em mais de 2 mil locais de votação devido ao alto risco de ataques dos talibãs e de militantes do "Estado Islâmico" (EI).
Nesta sexta-feira, as autoridades afegãs decidiram adiar por uma semana as votações na província de Kandahar depois de um ataque terrorista ter matado ao menos quatro pessoas, incluindo o general Abdul Raziq, um importante aliado dos Estados Unidos na luta contra o Talibã e chefe da polícia local.
De acordo com a Comissão Eleitoral Independente, o adiamento visa permitir a realização dos rituais fúnebres das vítimas. Além do chefe da polícia, foram mortos outros dois polícias e o responsável pelos serviços de informação da província. O atentado ainda feriu o governador de Kandahar, Zalmay Wesa.
A votação foi cancelada na província de Ghazni, cuja capital foi recentemente invadida pelos talibãs.
A campanha para as eleições parlamentares ficou marcada por dezenas de ataques a candidatos. Pelo menos cinco concorrentes a deputado foram mortos, dois outros, sequestrados e mais três, feridos em atentados em vários pontos do país.
Ao longo da campanha, poucos foram os dias em que não houve incidentes graves provocados por grupos talibãs. Os insurgentes islâmicos controlam pelo menos 14% dos distritos afegãos e estão lutando com as forças de segurança para obter o controle de mais territórios.
Os talibãs ameaçaram boicotar, através do bloqueio de várias estradas, as eleições parlamentares, que consideram ter como objetivo legitimar a presença de tropas internacionais no país. Eles convocaram a população a se abster.
Além da crescente ameaça dos talibãs, grupo que governou o país de 1996 a 2001, o crescimento repentino do EI em partes do Afeganistão representa outro grande desafio para as autoridades afegãs na realização de eleições em muitas áreas.
"Atualmente, o maior desafio para o governo é melhorar a situação de segurança e impedir os ataques dos talibãs", disse à DW Attiqullah Amarkhail, especialista em segurança de Cabul.
Os radicais islâmicos não são a única ameaça à segurança no Afeganistão. Os antigos líderes tribais continuam influentes no país. Eles forçaram a comissão eleitoral a fechar seus escritórios em certas áreas até que suas exigências sejam atendidas pelos funcionários eleitorais.
Esses líderes locais, alertam especialistas, poderiam usar suas milícias locais para impedir que as pessoas votem.
Os escritórios da comissão eleitoral no sul de Kandahar, no norte de Balkh e nas províncias de Herat, no oeste do país, permaneceram fechados por vários dias devido a protestos de líderes locais.
As eleições anteriores no Afeganistão foram muito criticadas por manipulações, irregularidades e alegações de fraude. Uma coalizão de partidos políticos acusou o presidente Ashraf Ghani e a Comissão Eleitoral Independente de manipularem o processo para garantir o sucesso dos candidatos do governo. Tanto Ghani quanto a comissão negaram as acusações.
Grupos de defesa de direitos humanos também reclamaram que o governo não garantiu uma supervisão independente das eleições deste sábado.
Yusuf Rashid, membro da ONG afegã Fórum Eleitoral Livre e Justo, diz que grupos da sociedade civil ainda não receberam o apoio do governo para mobilizar milhares de observadores eleitorais em todo o país. "Vamos tentar mobilizar voluntários para os locais de votação, mas não será um sistema de monitoramento adequado", disse Rashid.
Ele teme que a eleição possa ser adiada se o governo não tomar as medidas necessárias para garantir eleições livres e justas.
Há 20 anos, após o 11 de Setembro, os EUA enviavam seus primeiros soldados ao país. Reveja os principais acontecimentos desde então: da operação Liberdade Duradoura à retomada do país pelos fundamentalistas do Talibã.
Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Operação Liberdade Duradoura
Em outubro de 2001, menos de um mês após aos ataques de 11 de Setembro, o presidente George W. Bush lança no Afeganistão a operação Liberdade Duradoura, depois que o regime Talibã se recusa a entregar Osama bin Laden. Em semanas, os americanos derrubam o Talibã, que ocupava o poder desde 1996. Cerca de mil soldados são enviados ao país em novembro, aumentando para 10 mil um ano depois.
Foto: picture-alliance/DoD/Newscom/US Army Photo
Talibã se reagrupa
A invasão do Iraque em 2003 se torna a maior preocupação dos EUA e desvia a atenção do Afeganistão. O Talibã e outros grupos islamistas se reagrupam em seus redutos no sul e leste do Afeganistão. Em 2008, Bush concorda em enviar soldados adicionais ao país em meio a pedidos por uma estratégia efetiva contra o Talibã. Em meados de 2008, há 48.500 soldados americanos no país.
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Obama é eleito
Em sua campanha, Barack Obama promete encerrar as guerras no Iraque e no Afeganistão. Mas nos primeiros meses de sua presidência, em 2009, há um aumento no número de soldados no Afeganistão para cerca de 68 mil. Em dezembro, o número cresce ainda mais, para 100 mil, com o objetivo de conter o Talibã e fortalecer instituições afegãs.
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Morte de Bin Laden
Osama bin Laden, líder da Al Qaeda que esteve por trás dos ataques de 11 de Setembro, é morto em maio de 2011 em seu esconderijo, durante uma operação de forças especiais americanas no Paquistão.
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Acordo com Afeganistão
O Afeganistão assina em setembro de 2014 um acordo bilateral de segurança com os EUA e texto similar com a Otan: 12.500 soldados estrangeiros, dos quais 9.800 norte-americanos, permaneceriam no país em 2015. Mas a situação de segurança piora. Em meio à ressurgência do Talibã, Obama diminui a velocidade de retirada em 2016, afirmando que 8.400 soldados permaneceriam no Afeganistão.
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Bombardeio de hospital em Kunduz
Em outubro de 2015, no auge do combate entre insurgentes islâmicos e o Exército afegão, apoiado por forças da Otan, um ataque aéreo dos EUA atinge um hospital dirigido pela organização Médicos Sem Fronteiras na província de Kunduz. O ataque deixa 42 mortos, inclusive 24 pacientes e 14 membros da ONG.
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"Mãe de todas as bombas"
Em abril de 2017, forças americanas atingem posições do "Estado Islâmico" (EI) no Afeganistão com a maior bomba não nuclear já usada pelo país em combate, matando 96 jihadistas. Em julho, é morto o novo líder do EI no país.
Foto: Reuters/U.S. Department of Defense
"Estamos diante de um impasse"
Em fevereiro de 2017, um relatório do governo dos EUA mostra que as perdas entre as forças de segurança afegãs subiram 35% em 2016 em relação ao ano anterior. Pouco depois, o general americano à frente das forças da Otan, John Nicholson (esq., ao lado do secretário da Defesa John Mattis), alerta que precisa de mais milhares de soldados: “Acredito que estamos diante de um impasse."
Foto: Reuters/J. Ernst
Trump anuncia nova estratégia
Em 21 de agosto de 2017, o presidente Donald Trump anuncia nova estratégia para o Afeganistão, fazendo da caça a terroristas a principal prioridade. Trump não especifica um aumento do número de soldados como esperado, mas diz que os objetivos incluem "obliterar" o Estado Islâmico, "esmagar" a Al Qaeda e impedir o Talibã de dominar o Afeganistão.
Foto: picture-alliance/Pool via CNP/MediaPunch/M. Wilson
EUA negociam com rebeldes
Em julho de 2018, sob o governo do presidente Donald Trump, os EUA entram em negociação com o Talibã, sem envolver o governo afegão eleito ou os parceiros da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/AP Photo/Qatar Ministry of Foreign Affairs
Trump cancela encontro com Talibã
Em setembro de 2019, o presidente Trump cancela na última hora uma reunião marcada em sigilo com líderes do Talibã e do Afeganistão, após o grupo islamista assumir a autoria de um ataque em Cabul que matou um soldado americano e outras 11 pessoas.
Foto: Getty Images/M. Wilson
EUA e Talibã assinam acordo de paz
Em fevereiro de 2020, sob o regime Trump, os governos dos EUA e do Afeganistão anunciam a retirada completa das tropas americanas e de outros países da Otan. O pacto assinado pelo negociador especial dos EUA para a paz, Zalmay Khalilzad, e pelo líder político talibã mulá Abdul Ghani Baradar, prevê que o número de militares estrangeiros seria reduzido gradualmente, ao longo de 14 meses.
Foto: AFP/G. Cacace
Biden anuncia retirada total das tropas
Em 14 de abril de 2021, o presidente Joe Biden comunica à população americana que a guerra mais longa do país terá fim, com as tropas dos EUA e da Otan se retirando inteiramente do Afeganistão até 11 de setembro, 20º aniversário dos ataques terroristas em Nova York.
Foto: Andrew Harnik/AFP/Getty Images
EUA e Otan iniciam retirada
EUA e Otan iniciam formalmente, em 1º de maio de 2021, a retirada de todas as suas tropas do Afeganistão. A previsão era retirar até 11 de setembro entre 2.500 e 3.500 soldados americanos e cerca de outros 7 mil soldados da Otan. Estima-se que os EUA tenham gasto mais de 2 trilhões de dólares no país, em 20 anos, de acordo com o projeto Costs of War da Universidade Brown.
Foto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Americanos entregam base ao governo afegão
Em 2 de julho de 2021, tropas dos EUA partem da base aérea de Bagram, ponto focal da guerra, e entregam o local ao governo afegão. Permanecem no país asiático alguns poucos soldados, numa pequena base na capital Cabul.
Foto: Rahmat Gul/AP/picture alliance
Talibã toma capitais regionais
Aproveitando o vácuo deixado pela retirada das tropas de paz internacionais do Afeganistão, guerrilheiros do Talibã tomam, no inicio de agosto de 2021, capitais regionais como Sheberghan, Kunduz e Zaranj, num duro golpe para o governo afegão, que lutava para defender as cidades mais importantes da ofensiva do grupo extremista.
Foto: Abdullah Sahil/AP Photo/picture alliance
EUA retiram seus cidadãos do Afeganistão
Em meados de agosto, Estados Unidos e outros países começam a retirar seus cidadãos do Afeganistão, enquanto forças militares americanas se esforçam para proteger e manter funcionando o aeroporto de Cabul. Com todos os voos comerciais cancelados, milhares de afegãos invadem a pista do aeroporto desesperados, tentando embarcar em qualquer aeronave que fosse decolar.
Foto: Wakil Kohsar/AFP
Talibã ocupa palácio presidencial
O Talibã toma a capital Cabul, em 15 de agosto de 2021, dissolvendo o governo e estendendo seu controle sobre todo o Afeganistão. A capital era um dos últimos redutos ainda sob a autoridade do presidente Ashraf Ghani. Assim como ocorreu com dezenas de outras cidades, ele é tomada sem resistência efetiva das tropas governamentais. Ghani foge do país.
Foto: Zabi Karim/AP/picture alliance
Biden defende retirada das tropas
Um dia depois da tomada de Cabul, o presidente dos EUA, Joe Biden, defende a decisão de pôr fim à presença americana no Afeganistão e condena líderes e políticos afegãos que abandonaram o país, abrindo caminho para a tomada de poder pelo Talibã. Biden culpa ainda o ex-presidente Donald Trump, por ter fortalecido o grupo rebeldes e deixado os talibãs em sua melhor situação militar desde 2001.