Violência doméstica mata uma mulher a cada três dias
25 de novembro de 2019
Alemanha registra 140 mil casos de agressões e ameaças cometidas por parceiros ou ex-parceiros em 2018: 81% das vítimas eram mulheres. Governo promete mais investimentos em abrigos para vítimas de violência.
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Mais de 114 mil mulheres foram vítimas de violência ou ameaças domésticas cometidas por parceiros no ano passado na Alemanha, segundo dados apresentados pela ministra da Mulher da Alemanha, Franziska Giffey, em entrevista à emissora pública ARD, nesta segunda-feira (25/11) – data que marca também o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres.
Segundo estatísticas criminais, 122 mulheres foram mortas na Alemanha em 2018 por parceiros ou ex-parceiros. "Todo dia há uma tentativa, e a cada terceiro dia uma tentativa resulta em morte", disse Giffey. A ministra social-democrata manifestou profunda preocupação com os números, que ela classificou de "alarmantes". No geral, 140 mil pessoas sofreram agressões de parceiros no país no ano passado – a proporção de mulheres vítimas chega, portanto, a 81%.
Em casos computados de estupro, agressão sexual e coerção sexual dentro de um relacionamento, as vítimas eram 98,4% do sexo feminino. Nas queixas de ameaça, perseguição e coerção numa parceria, 88,5% das vítimas são mulheres – seguido dos percentuais de 79,9% nos casos de lesão corporal simples e intencional, além de 77% das vítimas em casos de assassinatos ou homicídios culposos.
O número de casos de violência por parceiros aumentou um pouco em relação ao ano anterior, embora a quantidade de casos que resultaram em morte caiu. Em 2017, 147 mulheres foram mortas por parceiros ou ex-parceiros. Giffey atribuiu este aumento a uma maior disposição das vítimas de registrar as queixas.
O Brasil, por exemplo, registra um caso de agressão a mulher a cada quatro minutos – neste levantamento estão incluídos casos de violência fora do relacionamento. De quebra, o Brasil registrou no ano passado 180 estupros por dia e 1.173 mulheres foram vítimas de feminicídio no mesmo ano.
A ministra da Mulher aproveitou a data do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres para lançar a iniciativa nacional intitulada "Mais forte que a violência" (Stärker als Gewalt). A iniciativa conta, por enquanto, com o apoio de 13 organizações. Segunda Giffey, nos próximos quatro anos, 120 milhões de euros serão destinados à expansão da capacidade dos abrigos para mulheres. Atualmente, há cerca de 350 abrigos em todo o país.
A ministra da Justiça da Alemanha, Christine Lambrecht, em entrevista ao diário alemão Frankfurter Allgemeine, classificou as tentativas de agressão contra mulheres por meio de insultos sexistas como um "fenômeno repugnante".
"Muitas vezes é dito que elas não devem ser tão sensíveis, que isso faz parte da liberdade de expressão. Se alguém me insulta com qualquer palavra de baixo calão, isso não tem nada a ver com liberdade de expressão. É simplesmente um insulto", disse Lambrecht.
Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.