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EsporteAlemanha

Violência doméstica: o escabroso caso de Jerôme Boateng

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
14 de setembro de 2021

Após condenação em primeira instância por agressão a ex-companheira e mãe de suas filhas, futuro do ex-jogador do Bayern e atualmente no Olympique Lyon é incerto, tanto em sua vida pessoal como profissional.

Boateng com advogado em julgamento em MuniqueFoto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance

Um tribunal de Munique condenou o ex-jogador do Bayern e atualmente no Olympique Lyon, Jerôme Boateng, ao pagamento de 1,8 milhão de euros por agressão à sua ex-companheira e mãe de suas filhas gêmeas. A sentença ainda não transitou em julgado e cabe recurso.

A promotoria pública acusou Boateng de ter agredido sua ex-companheira com uma forte pancada no rosto, além de morder seu couro cabeludo e atirá-la ao chão com violência após uma discussão num hotel de luxo no Caribe em 2018, causando-lhe graves danos corporais. A promotora pública Stefanie Eckert afirmou em sua peça acusatória que a mulher foi "vítima de violência doméstica".  

Boateng negou as acusações e afirmou que jamais bateu em sua ex-companheira. Disse que apenas a empurrou. Os ferimentos na cabeça e no rosto teriam sido causados por estilhaços de uma lanterna de vidro, enquanto ela estava estatelada no chão. De acordo com o jogador, foi sua "ex" que reagiu agressivamente. Ou seja: falou o que homens costumam falar nessas circunstâncias. A defesa tinha pleiteado sua absolvição e pretende entrar com recurso.

"Representante de uma Alemanha colorida e diversa"

Jerôme Boateng é conhecido não apenas como jogador de futebol. Ele é também um "Patron of Hope", iniciativa da Unesco por meio da qual ele apoia um projeto para crianças carentes no Rio de Janeiro. Na Alemanha, habitualmente se engaja em ações contra xenofobia e racismo. Não faz muito tempo, ao ser questionado sobre sua atuação nesses projetos, declarou: "Tenho consciência de que passei a ser um tipo de embaixador para muitas pessoas, um representante de uma Alemanha colorida e diversa, com seu olhar otimista lançado para um futuro promissor".

Resta saber que futuro Jerôme Boateng pode esperar, tanto em sua vida pessoal como profissional, depois de sua condenação em primeira instância por violência doméstica.

Boateng na seleção alemã disputa a bola com Messi na Copa no Brasil Foto: Reuters

Em breve, Boateng e sua ex-companheira vão se encontrar mais uma vez num tribunal de Justiça em Munique. Dessa vez, será sobre a guarda das filhas gêmeas do casal. A expectativa é de que novamente muita roupa suja poderá ser lavada diante dos olhos estupefatos das pessoas presentes na sala de audiências.

E os problemas pessoais de Boateng não param por aí. De acordo com o jornal Sueddeutsche Zeitung, a promotoria pública de Munique está prestes a reabrir o caso de Kasia Lenhardt (ex-namorada de Boateng). Em janeiro deste ano, numa entrevista ao jornal Bild, o jogador acusou Kasia: "Minha ex me chantageou, queria me destruir. Por isso terminei o relacionamento." Alguns dias depois dessa entrevista, ela se suicidou. Suspeita-se que Kasia Lenhardt também tenha sido alvo de violência física por parte de Boateng.

Populista de direita nega ter se referido a Boateng

01:37

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Recém chegado a Lyon, Jerôme Boateng rapidamente se tornou o centro das atenções dos torcedores do Olympique local. No centro da cidade, fica o Fanshop do clube e esperava-se uma presença maciça da torcida para adquirir a nova camisa do clube, que seria promovida no local pelo próprio jogador. Só que, desde quinta-feira passada (9 de setembro), quando a sentença do tribunal de Munique se tornou pública, a loja está às moscas.

Sujeito a rescisão do contrato no Olympique

De acordo com a mídia francesa, o clube não sabia do processo movido por violência doméstica contra o seu jogador. A contratação foi às pressas, e os assessores de Boateng o aconselharam a aceitar a proposta do Lyon imediatamente. Foi o que ele fez e nada falou sobre o processo em questão, mesmo porque nada lhe foi perguntado.

Apresentação oficial de Boateng no Olympique LyonFoto: Jeff Pachoud/AFP/dpa/picture alliance

Christoph Schickard, advogado da Bundesliga, esclarece: "Silenciar sobre o processo não é motivo para rescisão do contrato. O jogador não é obrigado a informar nada sobre sua vida privada. Prevalece o princípio da privacidade. Entretanto, depois da sentença ter transitado em julgado, o delito cometido pode levar à rescisão contratual. Há muitas mulheres que trabalham no clube como funcionárias ou como jogadoras. Como elas ficarão tendo que trabalhar ao lado de alguém condenado por violência doméstica contra sua ex-companheira e mãe de suas filhas gêmeas?"

Até o momento, o Olympique Lyon não se pronunciou oficialmente a respeito. Pelo jeito, está num mato sem cachorro, sem saber exatamente como tratar o assunto.

Enquanto isso, Jerôme Boateng, ainda considerado um dos melhores zagueiros do mundo, já fez sua estreia oficial com seu novo clube no último fim de semana e foi recebido com standing ovations por 33 mil torcedores ao entrar em campo aos 15 minutos do  segundo tempo.

Oxalá que nessa hora ele tenha se lembrado das palavras que, de acordo com a lenda, um escravo sussurrava nos ouvidos do general romano vitorioso enquanto desfilava sob os aplausos das multidões pelas ruas de Roma: "Lembre-se de que toda glória é efêmera". 

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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Atuou nos canais ESPN como especialista em futebol alemão de 2002 a 2020, quando passou a comentar os jogos da Bundesliga para a OneFootball de Berlim. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit é publicada às terças-feiras. 

O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.

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Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.