Violência marca abertura de embaixada dos EUA em Jerusalém
14 de maio de 2018
Solenidade de inauguração é ofuscada por violenta repressão a protestos de palestinos em Gaza e outros territórios, com mais de 50 mortos. Trump diz que EUA estão comprometidos com paz na região.
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Os Estados Unidos inauguraram nesta segunda-feira (14/05) sua embaixada em Jerusalém, desencadeando protestos violentos em Gaza e dezenas de mortes entre milhares de manifestantes palestinos.
O Ministério da Saúde de Gaza afirmou que o número de mortos pelo Exército israelense perto da fronteira chegou a 58, fazendo com que este seja o dia mais mortal na região desde a guerra de 2014 com Israel. Entre os mortos há ao menos oito crianças. Segundo o ministério, centenas de pessoas sofreram ferimentos a bala ou apresentaram danos causados por bombas de gás.
As mortes desta segunda-feira aumentaram para quase cem o número de vítimas de soldados israelenses na fronteira de Gaza desde o início de protestos semanais no fim de março. Mais de 2 mil pessoas foram feridas por disparos de militares israelenses desde então.
Paralelamente às festividades da abertura da embaixada americana, localizada inicialmente na sede do consulado americano em Jerusalém, ativistas palestinos também entraram em confronto com tropas israelenses nos arredores da cidade. Testemunhas afirmam que soldados abriram fogo e utilizaram bombas de gás lacrimogêneo.
Em Ramallah, na Cisjordânia, milhares de pessoas se concentraram em manifestações contra a transferência da embaixada.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, defendeu a ação israelense, que classificou como ato de defesa. "Todo país tem a obrigação de defender suas fronteiras. A organização terrorista Hamas declara que pretende destruir Israel e envia milhares para romper a cerca na fronteira para alcançar esse objetivo. Vamos continuar agindo com determinação para proteger nossa soberania e cidadãos", afirmou em mensagem publicada no Twitter.
A Casa Branca afirmou que o Hamas é o único responsável pelas mortes. "O Hamas provocou essa resposta [israelense], de forma intencional e cínica. Israel tem o direito de se defender", declarou um porta-voz.
A cerimônia de abertura
O presidente americano, Donald Trump, anunciou a transferência da embaixada para a Cidade Santa em dezembro de 2017, cumprindo uma promessa eleitoral. A decisão rompeu com a política externa americana tradicional e foi amplamente criticada. O consenso internacional continua sendo que o status de Jerusalém deveria ser parte das negociações entre as lideranças israelenses e palestinas.
Em mensagem gravada exibida durante a abertura da embaixada, Trump disse que os Estados Unidos permanecem totalmente comprometidos com uma paz duradoura no Oriente Médio.
A filha de Trump, Ivanka, e seu marido, Jared Kuschner, lideram a delegação do governo americano presente na solenidade de abertura, que contou com a presença de Netanyahu e cerca de 800 convidados.
O embaixador americano em Israel, David Friedman, também falou na cerimônia, descrevendo a localização da embaixada como "Jerusalém, Israel" e sendo aplaudido em seguida.
Jerusalém dividida
"Paradoxalmente, a mudança da embaixada não tem impacto direto sobre a cidade. Mas, por outro lado, tem enormes consequências", comenta o advogado israelo-americano Daniel Seidemann, fundador da ONG Terrestrial Jerusalem.
Em meio a protestos, EUA abrem embaixada em Jerusalém
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"Hoje, Jerusalém é mais dividida, menos sustentável, mais contestada do que em qualquer outra época. Transferir a embaixada para cá não vai mudar esse fato. Dito isso, há ramificações gigantescas, pois passa um atestado de óbito para a capacidade americana de mediar nos processos políticos das relações israelo-palestinas."
Embora conste que a administração Trump está trabalhando num novo plano de paz, ela tem dado sinais ambivalentes sobre suas intenções com Jerusalém, que continua disputada por israelenses e palestinos.
Em sua primeira viagem a Israel, em abril, o recém-nomeado secretário de Estado, Michael Pompeo, reiterou que "as fronteiras da soberania israelense em Jerusalém permanecem sujeitas a negociações entre as duas partes". Em janeiro, contudo, Trump declarara: "Nós tiramos Jerusalém da mesa de discussões. Não conversamos mais a respeito."
A Autoridade Palestina criticou severamente a decisão do governo Trump sobre Jerusalém, recusando-se a dialogar com altos funcionários de Washington, desde então. Os palestinos apelaram a outras missões diplomáticas para que boicotassem o evento desta segunda-feira.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou a ação israelense ao longo da fronteira de Gaza e declarou três dias de luto. "Os Estados Unidos não são mais mediadores no Oriente Médio", acrescentou.
O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, também criticou a violência contra os palestinos durante os protestos e pediu a responsabilização daqueles que cometem violações de direitos humanos.
RC/CN/rtr/ap/afp
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Os 70 anos de Israel
Triunfo ou catástrofe? Para os judeus, o dia 14 de maio de 1948 marca o nascimento de um Estado próprio. Fundação do país também é origem de conflitos com populações vizinhas, que se estendem por décadas.
Foto: Imago/W. Rothermel
Triunfo da esperança
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion lê a Declaração de Independência de Israel perante o Moetzet HaAm (conselho do povo), em cerimônia tida como o ato de fundação do país. "Nunca perdeu a esperança", disse Ben-Gurion sobre o povo judeu. "Jamais cessou sua oração pelo regresso à casa e pela liberdade". Agora, os judeus estavam de volta à sua terra de origem - dispondo de seu próprio Estado.
Foto: picture-alliance/dpa
Novo tempo
A bandeira do novo Estado é logo içada em frente ao prédio das Nações Unidas, em Nova York. Para os israelenses, esse foi mais um passo em direção à segurança e à liberdade: eles finalmente conseguiam um Estado internacionalmente reconhecido.
Foto: Getty Images/AFP
Momento sombrio
O significado da fundação do Estado de Israel torna-se claro no contexto do Holocausto. Os nazistas assassinaram seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra. Nos campos de concentração, especialmente na Europa Central, eles mantiveram os judeus como trabalhadores forçados e os mataram em escala industrial. A imagem mostra os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz após a libertação.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
"Nakba" – a catástrofe
Os palestinos chamam a fundação de Israel como "nakba", a catástrofe. Cerca de 700 mil pessoas tiveram que deixar suas regiões para dar espaço aos cidadãos do novo Estado. Assim, a fundação de Israel é também o começo do chamado "conflito do Oriente Médio", que não foi resolvido nem mesmo após 70 anos, apesar de inúmeras iniciativas e tentativas de mediação.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Trabalhando pelo futuro
A Autoestrada 2 não apenas liga as cidades de Tel Aviv e Netanya, mas também documenta as aspirações do jovem Estado. A estrada foi aberta em 1950 pela então primeira-ministra israelense, Golda Meir, que colocou o país num rigoroso curso de modernização econômica e social.
Foto: Photo House Pri-Or, Tel Aviv
Infância no Kibutz
Os Kibutzim – plural de "kibutz" – eram assentamentos coletivos rurais espalhados por Israel, construídos principalmente nos primeiros anos após a fundação do Estado. Aqui, em sua maioria judeus seculares e socialistas realizam na prática suas ideias de comunidade.
Foto: G. Pickow/Three Lions/Hulton Archive/Getty Images
Estado defensivo
As tensões com os vizinhos árabes continuam. Em 1967, culminam na Guerra dos Seis Dias, durante a qual Israel derrotou os invasores de Egito, Jordânia e Síria. Ao mesmo tempo, Israel assume o controle, entre outras regiões, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia – motivos de novas tensões e guerras na região.
Foto: Keystone/ZUMA/IMAGO
Assentamentos na terra inimiga
A política israelense de assentamentos alimenta frequentemente o conflito com os palestinos. A Autoridade Palestina acusa Israel de impossibilitar um futuro Estado palestino com a construção contínua de assentamentos. As Nações Unidas também condenam a medida.
Foto: picture-alliance/newscom/D. Hill
Ódio e pedras
Em dezembro de 1987, os palestinos protestam contra a dominação israelense nos territórios ocupados. O protesto começa na cidade de Gaza e se espalha rapidamente para Jerusalém Oriental e Cisjordânia. A revolta dura anos e termina com a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993.
Foto: picture-alliance/AFP/E. Baitel
Enfim, a paz?
O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin (esq.), e o chefe da OLP, Yasser Arafat (dir.), realizam negociações de paz em 1993, mediadas pelo então presidente dos EUA Bill Clinton. Elas culminam no Acordo de Oslo I, em que ambos os lados se reconhecem oficialmente. O assassinato de Yitzhak Rabin, dois anos depois, praticamente enterra o tratado.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Cadeira vazia
O assassinato de Yitzhak Rabin provoca turbulência política na sociedade israelense. Moderados e radicais, judeus seculares e ultraortodoxos se afastam cada vez mais. Em uma manifestação em 4 de novembro de 1995, Rabin é morto a tiros por um estudante de direita radical. A imagem mostra o então primeiro-ministro Shimon Peres ao lado da cadeira vazia de seu antecessor.
Foto: Getty Images/AFP/J. Delay
Superando o passado
O genocídio dos judeus se reflete até hoje nas relações entre Alemanha e Israel. Em fevereiro de 2000, o então presidente alemão Johannes Rau faz um discurso no Parlamento israelense. Era mais um passo para superar o passado e reforçar a amizade entre os dois países.
Foto: picture-alliance/dpa
O muro israelense
A política israelense de assentamentos endurece as frentes do conflito com os palestinos. Em 2002, é construído um muro de 107 quilômetros na Cisjordânia. Embora tenha contribuído para suprimir a violência, a medida não resolve os problemas políticos do conflito entre os dois povos.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/S. Nackstrand
Reverência aos mortos
O novo ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, abraça resolutamente a tradição da reaproximação entre Alemanha e Israel. Sua primeira viagem ao exterior é ao Estado judaico. Em março de 2018, ele deposita uma coroa de flores em homenagem às vítimas do Shoa no Memorial Yad Vashem.