Violência no Oriente Médio traz medo de nova Intifada
Kersten Knipp (md)6 de outubro de 2015
O aumento de confrontos entre israelenses e palestinos leva analistas a temerem o início de uma terceira revolta palestina. A crescente influência de radicais religiosos de ambos os lados é outro motivo de preocupação.
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Será que o conflito no Oriente Médio corre o risco de se transformar numa terceira Intifada? Essa pergunta é feita com cada vez mais frequência, diante da escalada da violência dos últimos dias. "Vejo alguns paralelos com o início da segunda Intifada, em 2000", disse o ex-negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, em entrevista a uma estação de rádio palestina. O serviço secreto israelense, Shin Bet, também não exclui a possibilidade de uma nova Intifada, segundo reportagem do jornal israelense Jerusalem Post.
Uma coisa é clara: a violência aumentou nos últimos dias. No fim de semana, ocorreram repetidos confrontos na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, entre jovens palestinos e policiais e soldados israelenses. Os palestinos atiraram pedras e coquetéis molotov, as forças de segurança israelenses responderam com munição real e balas de borracha. Também houve confrontos com colonos extremistas na Cisjordânia.
Na segunda-feira, a Força Aérea israelense realizou ataques contra a Faixa de Gaza, de onde havia sido disparado um foguete contra Israel. Antes disso, quatro israelenses haviam morrido e outros ficaram feridos em três ataques de palestinos. Os autores dos atentados foram mortos pelo Exército israelense. Além disso, o Exército atirou e matou no domingo, segundo fontes palestinas, um palestino de 18 anos, durante tumultos em Tulkarem, no noroeste da Cisjordânia. Vários outros palestinos ficaram feridos.
Extremistas tiram vantagem
Particularmente preocupante é o fato de que extremistas religiosos tentam, cada vez mais, tirar proveito dos conflitos para seus próprios propósitos. Um jovem palestino que matou um israelense a facadas no fim de semana, na Cidade Velha de Jerusalém, era membro da organização extremista Jihad Islâmica. "A terceira Intifada começou", teria escrito ele em sua conta no Facebook, segundo o jornal israelense Arutz Sheva.
Embora o grupo Jihad Islâmica ainda não tenha assumido responsabilidade pelo ataque, a revista online especializada em política do Oriente Médio Al-Monitor acredita que o conflito possa vir a ganhar um toque cada vez mais religioso. "Em um momento em que os fanáticos religiosos de todas as tendências ganham apoio de grande parte da população, o conflito no Oriente Médio é dominado cada vez mais por organizações como 'Estado islâmico' (IS), Al Qaeda, Hisbolá, Hamas e outros. Mesmo em Israel, fanáticos religiosos descobriram como é fácil abalar toda a região."
Radicais ganham apoio
Os radicais ganham popularidade dos dois lados. Na Faixa de Gaza, o governo do Hamas vem agindo há meses contra os jihadistas. Em Israel e na Cisjordânia, os militares têm se envolvido cada vez mais em confrontos com colonos extremistas.
Enquanto os radicais em Israel são em número limitado e representam apenas uma pequena parte da população, o conflito pode ser usado no lado árabe como motivo para uma mobilização muito maior. "Embora a liderança do EI, da Al Qaeda, do Hisbolá e de outros grupos similares sejam bastante indiferentes ao destino de seus irmãos palestinos, eles usam o conflito para recrutar jovens árabes e palestinos", afirma o Al-Monitor.
Sem disposição para acordos
O jornal Jerusalem Post critica as ações do governo de Benjamin Netanyahu, acusando-o de não ter outra ideia a não ser construir novos pontos de controle e impedir o tráfego de veículos palestinos em ruas relevantes em termos de segurança. "Estas são soluções táticas de pessoas de intelecto limitado. Não há uma disposição em se adaptar à situação geral e, em outras palavras, à realidade estratégica." A publicação acredita ser compreensível que os palestinos se recusem a reiniciar as negociações a partir do zero. "Eles querem finalmente saber aonde essas negociações vão levar."
Por outro lado, no entanto, os palestinos também perderam oportunidades, segundo análise da publicação, ao não aproveitarem a paralisação da construção de assentamentos, há cinco anos, para acelerar as negociações de paz. "Assim como Israel, eles também não se dispõem a entrar em acordo."
Os 50 dias de guerra em Gaza em 2014
Os momentos-chave do conflito entre Israel e Hamas, que deixou mais de 2 mil mortos.
Foto: Reuters
Governo de unidade palestino
Em 2 de junho, en Ramallah, na Cisjordânia, Hamas e Fatah oficializam um governo de unidade. Europeus e americanos manifestam apoio, porém com cautela. O governo israelense reage e suspende as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos, por considerar o Hamas uma organização terrorista.
Foto: Reuters
Sequestro de três estudantes
Em 12 de junho, três estudantes israelenses são sequestrados. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu culpa o Hamas pelo desaparecimento dos jovens. No final de junho, os corpos são encontrados. Em 23 de agosto, pouco antes do cessar-fogo duradouro, o Hamas assumiria envolvimento no assassinato dos três.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Assassinato de jovem palestino
Em 2 de julho, o corpo de um adolescente palestino, de 16 anos, é encontrado numa floresta perto de Jerusalém. A família acusa colonos israelenses do assassinato. Na parte árabe de Jerusalém, há confrontos com a polícia israelense. Após seguidos lançamentos de foguetes a partir da Faixa de Gaza, o Exército israelense move tropas adicionais à divisa com o território palestino.
Foto: Getty Images
Começa a guerra
Em 8 de julho, o conflito entre israelenses e palestinos torna-se novamente uma guerra. Em poucas horas, dezenas de foguetes são lançados da Faixa de Gaza contra Israel. Não há feridos, já que grande parte dos mísseis são destruídos no ar. Nos ataques aéreos israelenses, mais de 20 pessoas são mortas.
Foto: Reuters
Iniciam-se as negociações
Após uma semana de conflito, em 14 de julho surge a primeira esperança de um cessar-fogo. O Egito intervém como mediador. Israel concorda com uma trégua prevista para o dia seguinte. O Hamas rejeita a proposta egípcia. "Um armistício sem um acordo com Israel está fora de questão", disse o porta-voz do grupo. A guerra, então, já tinha 180 mortos.
Foto: Reuters
A primeira trégua
Em 17 de julho, pela primeira vez desde o início dos combates, Israel e Hamas concordam com um cessar-fogo de cinco horas. Após o período, Israel começa uma ofensiva terrestre. Netanyahu detalha os objetivos da operação: a infraestrutura do Hamas deve ser destruída, especialmente os chamados "túneis do terror".
Foto: DAVID BUIMOVITCH/AFP/Getty Images
Protestos pelo mundo
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, apela por uma suspensão dos ataques. Um dia depois, em 20 de julho, ele viaja com o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ao Cairo para discutir uma trégua. Em Gaza, milhares de pessoas fogem de suas casas e procuram abrigo. Em alguns países, há protestos contra a ofensiva de Israel. Em Paris, há manifestações e ataques contra instituições judaicas.
Foto: Reuters
Ataque a escola da ONU
Em 24 de julho, 15 pessoas morrem e mais de 200 ficam feridas em um ataque israelense a uma escola das Nações Unidas. O Exército de Israel argumenta que havia avisado sobre a investida antes de ela ocorrer. A agência de refugiados da ONU informa que a evacuação da escola não era possível. Mais de 570 palestinos e 25 soldados israelenses são as vítimas da guerra até então.
Foto: Reuters
Novo cessar-fogo
Em 26 de julho, começa um cessar-fogo de 12 horas. Em Paris, ministros do Exterior se encontram para discutir uma trégua permanente. Muitos palestinos usam a suspensão dos ataques para comprar medicamentos e alimentos. Os serviços de emergência retiram mais de 130 corpos dos escombros. Israel anuncia o prolongamento do cessar-fogo por algumas horas, mas o Hamas dispara foguetes novamente.
Foto: imago
Tréguas violadas
Uma nova trégua é violada, em 1º de agosto. Nos dias seguintes, o caso se repete. No início de agosto, Israel dispara novamente contra uma escola da ONU e, em seguida, retira as tropas terrestres da Faixa de Gaza. No Cairo, as partes envolvidas no conflito negociam um cessar-fogo duradouro.
Foto: picture-alliance/dpa
Chance à paz
A mais longa trégua desde o início da guerra possibilita, a partir de 10 de agosto, negociações. O cessar-fogo que era para durar três dias se estende por nove. O mediador, Egito, evita a longa lista de exigências dos dois lados. Um pequeno texto seria promissor para um possível acordo. A abertura das fronteiras de Gaza e a expansão gradual da zona de pesca são discutidas.
Foto: picture-alliance/AP
Mortes passam de 2 mil
Um armistício permanente é quase alcançado em 19 de agosto. Mas foguetes são novamente lançados. Israel responde e mata, entre outros, a mulher e filho de um chefe militar do Hamas nos ataques. Dois mil palestinos foram mortos e mais de 10 mil ficaram feridos na guerra. O lado israelense contabiliza as mortes de 64 soldados e três civis. Uma criança israelense morre por um foguete lançado de Gaza.
Foto: Menahem Kahana/AFP/Getty Images
Cessar-fogo permanente
Depois de 50 dias de guerra, em 26 de agosto o Egito consegue fazer as duas partes chegarem, enfim, a um cessar-fogo permanente. O acordo entre os palestinos e Israel garante que as fronteiras de Gaza serão reabertas. As negociações para tratar de mais detalhes do acordo continuam em quatro semanas.