Violência sexual de babuínos e o comportamento humano
Brigitte Osterath av
9 de julho de 2017
Em certas espécies de macacos, ataques e intimidações constantes e sem motivo por parte dos machos mantêm fêmeas submissas. Cientistas traçam analogias com a violência doméstica humana.
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Nunca se viu um babuíno forçar uma fêmea a ter relações sexuais. Uma equipe anglo-francesa de pesquisadores acredita ter descoberto por quê: violentá-las é simplesmente desnecessário, pois os machos empregam uma estratégia muito mais sutil e de longo prazo.
"Quando eu estava em campo, observando os babuínos, muitas vezes notei os machos dirigindo ataques não provocados ou perseguições às fêmeas [no cio]", relata Alice Baniel, bióloga evolucionista do Instituto de Estudos Avançados em Toulouse, na França, e principal autora da pesquisa.
Tais ofensivas já começam semanas antes de as símias terem começado a ovular e poderem se reproduzir. A agressão repetida e sem motivo parece colocá-las sob pressão constante, tornando-as submissas quando o macho sente que é hora de copular.
As descobertas recentes, publicadas na revista especializada Current Biology, "colocam em questão a extensão de liberdade sexual que cabe às fêmeas em tais sociedades", propõe Baniel. Sua equipe estudou dois grandes grupos de babuínos da espécie Papio ursinus durante quatro anos, no Parque Natural Tsaobis, na Namíbia.
Eles observaram os macacos perseguirem as fêmeas durante meio minuto ou mais, mordendo-as, sacudindo-as ou apertando-as contra o chão. Em outras ocasiões, as forçavam a escalar uma árvore, impelindo-as até os galhos mais finos, conta a pesquisadora Elise Huchard, da Universidade de Montpellier.
Quando as fêmeas estavam assim encurraladas, os machos continuavam a assediá-las por vários minutos, enquanto elas gritavam incessantemente. Por vezes, a fêmea era obrigada a saltar da árvore, podendo se machucar.
Embora o procedimento seja uma fonte de sérios ferimentos para as macacas férteis, as pesquisadoras constataram que os indivíduos que eram mais agressivos contra uma determinada fêmea tinham mais chances de se acasalar com ela mais tarde.
No entanto, as observações científicas descartaram a possibilidade de essas copulações serem motivadas por uma preferência feminina generalizada pelos machos agressivos, como ocorre em outras espécies.
Origens da violência doméstica?
Entre os babuínos, agressão e acasalamento não ocorrem ao mesmo tempo e, por isso, a intimidação sexual ficou até então despercebida por pesquisadores, explica Baniel.
O comportamento também ocorre entre chimpanzés e, agora que foi documentado em babuínos, os cientistas sugerem que talvez seja um traço comum em primatas que vivem em grandes grupos, o que poderia incluir os seres humanos.
Para Huchard, as descobertas recentes "abrem a possibilidade de que a intimidação sexual tenha uma base evolutiva", já que as formas vistas nas sociedades dos Papio ursinus são as mesmas encontradas em sociedades humanas.
"Elas são expressas no contexto de ligações estáveis entre macho e fêmea. Isso lembra um pouco o que acontece na violência doméstica." No entanto, até o momento isso não passa de uma hipóteses, diz a cientista.
Homens e macacos aos olhos da arte
Cientificamente, distância entre seres humanos e macacos é mínima. Seria a cultura a fronteira de ouro? Exposição "Ape Culture" em Berlim apresenta interpretações artísticas e científicas sobre a questão.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
O macaco humano
O mundo da arte adora mostrar macacos filosofando sobre a condição humana. Os primatas se tornaram monumentos literários na obra de escritores como E.T.A Hoffmann, Wilhelm Hauff e Franz Kafka. Na foto, Koko, a gorila falante, se tornou mundialmente famosa nos anos 1970. Um documentário de Barbet Schroeder (1978) mostra o treinamento de Koko, que mais parecia uma lavagem cerebral.
Foto: Les Films du Losange (Detail)
A bela e a fera
A Casa das Culturas do Mundo em Berlim faz um apanhado sobre os primatas na arte. Aqui, o chimpanzé torna-se amante da mulher de um diplomata na comédia "Max, meu amor" (1986). O diretor japonês Nagisa Oshima (1932-2013) ironiza as mudanças na condição social das mulheres. Considerado "o maior romance primata do cinema desde King Kong", Max satiriza a cultura extraconjugal da elite parisiense.
Foto: 2015 STUDIOCANAL GmbH, Berlin
O pensador
As ciências naturais e a cultura popular ilustram como a nossa percepção em relação aos macacos mudou radicalmente com o passar do tempo. O artista Klaus Weber lança um olhar crítico sobre a imagem dos macacos. Em sua colagem fotográfica "Beulen" (2008) cabeças de pessoas ilustres brotam como balões de quadrinhos do corpo de um primata de plástico que posa como pensador.
Foto: Klaus Weber
Realidade reinterpretada
O projeto "Flota Nfumu" (2009), de Filip Van Dingenen, foi inspirado no gorila albino "Floco de neve", o mais famoso residente do zoológico de Barcelona entre 1966 e 2003. Suas expressões faciais incrivelmente humanas o transformaram em um ícone pop. A instalação de Van Dingenen é composta por retratos que crianças fizeram de Nfumu, nome verdadeiro do macaco.
Foto: Filip Van Dingenen (Detail)
Macacos e o poder
O deus macaco Hanuman é uma importante figura na cultura javanesa. No teatro de rua ele se comporta como mestre e senhor que ensina aos espectadores normas sociais. Em seu filme parcialmente surrealista "Macaco mascarado" (2014), os cineastas Anja Dornieden e Juan David González Monroy questionam as condições de trabalho e as relações de poder entre os macacos javaneses e seus donos.
Foto: Anja Dornieden & Juan David González Monroy (Detail)
Máscara humana
O curta-metragem do artista francês Pierre Huyghe foi inspirado em um vídeo do YouTube. O filme intitulado "Macaco Fuku-chan de peruca e máscara trabalha num restaurante" (2014) mostra um macaco em um restaurante de Tóquio com uma fantasia que o faz parecer uma menina. No filme de 19 minutos, o macaco usa uma máscara humana e imita os movimentos do clássico Teatro Nô japonês.
Foto: Marian Goodman Gallery, New York; Hauser & Wirth, London; Esther Schipper, Berlin; Anna Lena Films, Paris (Detail)
Visões de uma primata
A partir de 1968, os filmes da série "Planeta dos macacos" criaram um novo mundo de fantasia, cujas imagens se estabeleceram como parte da cultura pop, especialmente nos Estados Unidos. O vídeo de Coco Fusco "TED Etologia: Visões Primatas da Mente Humana" (2015) mostra uma palestra da pesquisadora Dr. Zira, chimpanzé feminista do filme.
Foto: Coco Fusco, TED Ethnology
O macaco em mim
Em sua obra, Erik Steinbrecher trabalha com imagens de camadas múltiplas e trocadilhos de palavras. A instalação "AFFE" (2015) é constituída de materiais naturais e inorgânicos. A escultura dá espaço para o espectador olhar sua própria imagem com outro significado. </br></br> A exposição "Ape Culture" está em cartaz na Casa das Culturas do Mundo, em Berlim, até 6 julho.