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Violinista protesta contra política russa com concerto em Berlim

Anastassia Boutsko (av)6 de outubro de 2013

Para instrumentista nascido na ex-União Soviética, a música "deve ter um sentido". Nesse espírito, Gidon Kremer promove concerto de câmara pelos direitos humanos na Rússia. Ele expõe suas convicções em entrevista à DW.

Foto: picture-alliance/dpa

To Russia with love (Para a Rússia, com amor) é o slogan do Concerto pelos direitos humanos na Rússia, realizado nesta segunda-feira (07/10) na Sala de Música de Câmara da Filarmônica de Berlim. Entre os participantes do evento, estão os pianistas Daniel Barenboim e Marta Argerich, o flautista Emmanuel Pahud, além do mentor do evento, o violinista letão Gidon Kremer.

Por um "acaso simbólico", nesse dia, sete anos atrás, a ativista dos direitos humanos e jornalista Anna Politkovskaya foi morta a tiros, no prédio em que morava, em Moscou. E, num cúmulo da coincidência, o atual presidente russo, Vladimir Putin, notório por sua política intransigente, faz aniversário nesta mesma data.

Gidon Kremer é um dos instrumentistas mais renomados da atualidade. Ele nasceu em 1947 em Riga, capital da Letônia, e seu pai era um judeu sobrevivente do Holocausto. Em 1978, já tendo alcançado grande êxito no Ocidente, Kremer decidiu não retornar à então União Soviética.

Para o violinista, música é mais do que belos sons. Este já é o terceiro concerto de temática política que promove na Alemanha, com o intuito de chamar a atenção para a insustentável situação dos direitos humanos na Rússia – os anteriores foram em 2009, em Leipzig, e em 2011, em Estrasburgo. A Deutsche Welle conversou com o engajado músico.

DW: Senhor Kremer, o que quis expressar com o slogan "Para a Rússia, com amor"?

Gidon Kremer: Que não estamos indiferentes e que somos solidários com aqueles que estão numa situação difícil. Nós amamos a Rússia, independente de onde vivemos.

O concerto é realizado em 7 de outubro, dia da morte de Anna Politkovskaya...

Trata-se, antes, de um acaso simbólico. A morte dessa mulher extraordinária é uma coisa, a outra é todo o grupo de vítimas da injustiça e perseguições na Rússia. Isso se aplica, da mesma forma, a Mikhail Khodorkovsky ou às meninas do Pussy Riot. Não quero listar nomes concretos, pois há logo o perigo de esquecer alguém.

O senhor acha que é possível alcançar algo de concreto, mudar algo, com ações como esse concerto?

Não acredito que o concerto possa ter uma influência direta sobre a situação na Rússia. Não sou político e não pretendo nunca me tornar um. Minha causa é a música. Só que, desde jovem, cresci com a convicção de que minha atividade como músico também deve ter um sentido. Num concerto como esse, eu vejo totalmente um sentido – em outros, não. Muitas vezes, tudo só gira em torno de vaidades, dinheiro e diversão.

Do programa do concerto constam clássicos russos como Serguei Rachmaninov e Piotr Tchaikovsky. Além disso, obras de compositores vivos, como Leonid Desyatnikov, Arvo Pärt, Sofia Gubaidulina ou Gia Kancheli. Esses compositores pediram para ser incluídos no programa?

Arvo Pärt já havia expressado solidariedade com Mikhail Khodorkovsky com a sua Quarta sinfonia. Da mesma forma, Gia Kancheli: a obra dele The Angel of Sorrow, cuja estreia é o foco do concerto em Berlim, é dedicada ao aniversário de 50 anos de Khodorkovsky.

Compositor estônio Arvo Pärt no programa de "To Russia with love"Foto: picture-alliance / akg

O concerto se realiza em Berlim. Mas o senhor deseja alcançar um público ainda bem maior, também na Rússia?

Claro. Ainda faz três décadas, escutei o comentário: "Se o senhor vive no estrangeiro, então não é mais um músico soviético!". Não procede. Muitos que não vivem na Rússia amam esse país e se inquietam com certos processos que lá se observam, e que nos recordam demais a velha União Soviética.

Que processos são esses?

Quando se lê a carta de Nadejda Tolokonikova, da banda Pussy Riot, sobre as condições de prisão na colônia penal, tem-se, realmente, que pensar na Inquisição. Não dá para simplesmente ficar indiferente. Também acho que hoje, na Rússia, as pessoas tendem a ver o inimigo no outro, em vez de começarem por si mesmas.

Tenho sempre que pensar na frase de uma amiga russa: "Você não entende, Gidon, aqui reina um caos horrível, mas é justamente isso que eu amo". Só que esse amor pelo caos, aliado à má vontade de assumir as próprias responsabilidades, faz par perfeito com a adoração da "mão forte" que, então, impõe uma certa ordem. E é precisamente essa mistura de passividade com a sensação de estar submisso a um poder maior, que eu rejeito.

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