Em cartazes de protesto e na internet circulam diversas teorias, absurdas ou plausíveis, que atribuem culpas pela pandemia ou rechaçam medidas de precaução. Especialista alemão em coronavírus responde a algumas delas.
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"O vírus não é, nem de longe, tão perigoso assim! A indústria farmacêutica só quer lucrar com a pandemia! Com os mais jovens não acontece nada, mesmo!" Em manifestações contra as medidas de contenção do coronavírus, rodadas de discussões ou na internet, se esbarra o tempo todo com teses de teóricos da conspiração, "dissidentes" ou adversários da vacinação, algumas absurdas, outras aparentemente plausíveis.
Hendrik Streeck é diretor do Instituto de Virologia da Clínica Universitária de Bonn, e um dos principais especialistas em coronavírus da Alemanha. Ele dirige um estudo de longo prazo sobre o histórico das infecções na cidade de Heinsberg, no oeste alemão, duramente atingida no princípio da pandemia.
Em entrevista à DW, Streeck se posiciona em relação a teorias, afirmações e declarações frequentes sobre o coronavírus Sars-Cov-2: "É um vírus que se deve levar a sério, mas, claro, não dramatizar em excesso."
"O coronavírus não é tão perigoso assim, o perigo é exagerado pela mídia, os políticos e os cientistas."
Hendrik Streeck: De jeito nenhum! Todos os estudos realizados até agora – tanto os dos Estados Unidos, que sugerem uma letalidade relativamente baixa, quando os que indicam o contrário – mostram sem sombra de dúvida que a letalidade é mais elevada do que a da gripe sazonal.
Nosso próprio grupo de pesquisadores em Heinsberg constatou que o vírus é pelo menos quatro vezes mais perigoso do que o da gripe sazonal. É claro que sempre tem algo a ver com a população que é testada. É um vírus que se deve levar a sério, mas obviamente não dramatizar em excesso.
"Na Itália ou nos EUA houve tantos mortos, mas aqui na Alemanha não. Alguma coisa não está certa."
Também na Alemanha temos mortos por covid-19. Na Itália e nos EUA acrescentou-se o fato de que os contágios ocorreram muito rapidamente, ou seja, grande parte da população se infectou ao mesmo tempo, e os hospitais ficaram sobrecarregados. Lá o vírus chegou a locais onde o risco de morte é grande. Na Alemanha, conseguimos manter livres esses locais.
"Houve vários protestos de massa contra as medidas antipandemia. Houve algum surto depois? Não!"
Por um lado, essas manifestações transcorreram ao ar livre, onde a probabilidade de contágio é menor do que em locais fechados. Por outro, é muito difícil verificar depois de um protesto em Berlim, por exemplo, cujos participantes partiram para cidades diferentes, se nelas ocorreu um surto. É mais fácil determinar tais coisas quando só há participantes de um local.
"Essas vacinas são altamente perigosas e atacam o nosso DNA. Além do mais, a indústria farmacêutica só quer lucrar com isso."
Ambas as teses são claramente erradas. Uma vacinação não ataca o genoma humano, ou seja o DNA. Também os imunizantes à base de RNA funcionam de modo que são geradas proteínas. Nós mesmos não temos no corpo as enzimas que voltam a transformar o RNA em DNA, só certos retrovírus são capazes disso. Portanto não há como uma vacina atacar o DNA.
Naturalmente a indústria farmacêutica também lucra com as vacinas, mas o que os seguros de saúde gastam por ano com elas equivale a 0,3% do orçamento para medicamentos. Então, o orçamento para um imunizante é realmente muito baixo. Além disso, o setor precisa faturar, porque sem dinheiro não pode desenvolver essas substâncias.
"O vírus já passou por tantas mutações, uma vacinação não adianta nada. Ou é preciso se vacinar todo ano, como contra a gripe."
Não se pode afirmar isso. O vírus sofre mutações, é verdade, mas não com uma rapidez tão grande quanto o da gripe. Mas não há como dizer, no fim das contas, se uma vacina é eficaz, e quantas vezes vai ser preciso se vacinar, porque esse imunizante ainda não existe.
"As medidas do 'regime do coronavírus' são totalmente exageradas. Quero minha liberdade de volta."
Sabemos que as medidas aconselhadas – manter o distanciamento, usar máscara protetora e atentar para as regras gerais de higiene – têm efeito, e que possibilitam evitar infecções.
Além disso, essas medidas provavelmente resultam em que, se alguém se contagia, é com uma quantidade menor de vírus. Então, talvez fique infectado, mas com muito menos sintomas. Conhecemos isso de outros vírus, quem absorve muitos deles desenvolve um quadro mais grave, e vice-versa: a dose é que faz o veneno.
Mantendo a distância e seguindo as demais regras, conseguimos justamente isso, diminuir a carga viral, e todos contribuímos para doenças com sintomas provavelmente bem mais brandos.
"O coronavírus foi criado num laboratório da China ou foi liberado por descuido."
É muito improvável que esse vírus tenha sido gerado em laboratório. Por um lado, até onde eu sei, não se perseguem tais linhas de pesquisa, de criar determinados vírus, porque é perigoso demais. Por outro lado, não é possível dizer de onde um vírus vem: eles não podem ter sequências genéticas que não ocorram na natureza, por exemplo.
É preciso também lembrar que laboratórios como esse na China são realmente fortalezas de alta segurança, de onde não é possível os vírus e bactérias saírem, através das diversas salas, nem ser liberados por acaso. Por isso considero altamente improvável que algo assim tenha acontecido, mas claro que não há como provar isso – e nem o contrário.
"Mesmo que me contamine: eu sou jovem e saudável. Se tiver algum sintoma, vai ser leve."
De acordo com as estatísticas, de fato indivíduos jovens e saudáveis ou não apresentam sintomas, ou só brandos. No entanto pode sempre acontecer que um deles tenha sintomas muito graves ou até morra, como já mostraram diversos casos.
Celebridades e políticos que testaram positivo para covid-19
Várias estrelas de cinema contraíram o coronavírus. A doença varreu a elite política global e afetou também os melhores atletas.
Foto: Joshua Roberts/Reuters
Emmanuel Macron
O presidente da França foi diagnosticado com o coronavírus dias depois de uma cúpula dos líderes da União Europeia, o que levou várias autoridades do bloco a adotarem o isolamento. Nos dias que antecederam o resultado, ele se reuniu também com lideranças políticas da França e membros de seu gabinete. Seus assessores disseram que ele mantém estilo de vida saudável e se exercita regularmente.
Foto: Lewis Joly/AP Photo/picture alliance
Donald Trump
Após menosprezar a doença durante meses, o presidente dos Estados Unidos confirmou que ele e a primeira-dama, Melania Trump, estavam infectados com o coronavírus em plena reta final de sua campanha à reeleição. Trump raramente aparecia em público usando máscaras de proteção e ignorou em diversas ocasiões os alertas das autoridades de saúde.
Foto: picture-alliance/CNP/A. Drago
Andrzej Duda
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, testou positivo para o coronavírus, anunciou um porta-voz no dia 24 de outubro. Dias antes, ele esteve em um fórum de investimento na Estônia, onde se encontrou com o presidente búlgaro, Rumen Radev, que entrou em isolamento profilático depois de ter contato com alguém infectado em seu país de origem. No entanto, não foi confirmado como Duda se contaminou.
Foto: Photoshot/picture-alliance
Andrea Bocelli
O tenor italiano Andrea Bocelli testou positivo para o novo coronavírus em março. Ele relatou que teve apenas febre leve, e no mês seguinte, já fez uma apresentação na Catedral de Milão, vazia devido às regras de restrição.
Foto: Getty Images/S.Legato
Robert Pattinson
O ator, de 34 anos, mais conhecido por estrelar como o vampiro Edward Cullen na saga cinematográfica "Twilight", testou positivo para covid-19, obrigando a produção de "The Batman" a uma pausa apenas três dias depois de ter retomado trabalhos. Pattinson, que também foi Cedric Diggory na adaptação cinematográfica de "Harry Potter e o cálice de fogo", sucede Ben Affleck como o Homem Morcego.
Foto: picture-alliance/dpa/Sputnik/E. Chesnokova
Dwayne 'The Rock' Johnson
O lutador que virou estrela de cinema se tornou uma das mais recentes celebridades a contraírem covid-19. Em um vídeo no Instagram, Johnson revelou que ele, sua esposa e duas filhas testaram positivo — acrescentando que ele teve "uma experiência difícil" com os sintomas. Ele também pediu às pessoas que parem de "politizar" a pandemia e "usem máscara".
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Shotwell
Neymar
O craque brasileiro é um dos três jogadores do PSG a contraírem o vírus, informou a agência de notícias AFP em 2 de setembro. Acredita-se que o surto no clube esteja relacionado a uma viagem de férias que o time fez à ilha espanhola de Ibiza. Posteriormente, Neymar postou uma foto no Instagram com seu filho, que também supostamente testou positivo: "Obrigado pelas mensagens. Estamos todos bem".
Foto: Getty Images/AFP/D. Ramos
Silvio Berlusconi
O ex-premiê italiano de 83 anos testou positivo para o vírus e estaria assintomático, segundo anúncio de seu médico em 2 de setembro. Dois dos filhos de Berlusconi e sua namorada de 30 anos também testaram positivo. O ex-premiê testou positivo depois de passar férias na costa da Sardenha, onde os ricos e famosos da Itália costumam desdenhar das políticas de restrição.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Vojinovic
Usain Bolt
A lenda do atletismo Usain Bolt testou positivo poucos dias depois de realizar uma festa para comemorar seu 34º aniversário no final de agosto. O detentor do recorde para os 100 e 200 metros rasos disse que entrou em quarentena, mas que não estava exibindo sintomas. Vídeos da festa de aniversário ao ar livre de Bolt mostraram convidados sem máscaras durante a celebração.
Foto: Reuters/M. Childs
Antonio Banderas
O ator espanhol teve uma surpresa indesejável em seu 60º aniversário em meados de agosto, depois de um teste positivo para o coronavírus. Banderas disse que passou seu aniversário isolado e que estava "mais cansado do que de costume", mas "esperando se recuperar o mais rápido possível".
Foto: picture-alliance/Captital Pictures
Jair Bolsonaro
O presidente brasileiro, que repetidamente minimizou a gravidade da pandemia, contraiu o vírus em julho. Ele foi criticado por ignorar as medidas de segurança recomendadas por especialistas em saúde antes e depois de seu diagnóstico, incluindo apertar as mãos e abraçar apoiadores na multidão. Sua mulher, Michelle, e os filhos Jair Renan e Flávio também testaram positivo.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Peres
Tom Hanks
O ator Tom Hanks e sua mulher, a atriz e cantora Rita Wilson, foram algumas das primeiras celebridades a anunciar que contraíram o vírus. O casal testou positivo para a covid-19 em meados de março, quando estava na Austrália. Depois de se recuperar e retornar aos Estados Unidos, Hanks defendeu que as pessoas façam sua parte para retardar a propagação da doença.
Foto: picture-alliance/AP/Invision/J. Strauss
Sophie Gregoire Trudeau
Sophie Gregoire Trudeau, mulher do primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, testou positivo para coronavírus depois de retornar do Reino Unido em meados de março. O marido dela anunciou ter se isolado na residência oficial, mesmo sem apresentar sintomas da enfermidade.
Foto: Reuters/P. Doyle
Boris Johnson
No final de março, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, contraiu o coronavírus que o levou ao hospital por vários dias. Johnson passou uma semana em um hospital em Londres e três noites na UTI, onde recebeu oxigênio e foi observado 24 horas por dia. Ele teve alta em meados de abril, e os funcionários do hospital receberam o crédito de ter salvado sua vida.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Dawson
Ambrose Dlamini
O primeiro-ministro de Essuatíni (antiga Suazilândia), Ambrose Dlamini, contraiu o coronavírus e morreu em decorrência da covid-19, em dezembro de 2020. Ele tinha 52 anos e chegou a ser internado em um hospital da África do Sul, mas não resistiu.
Foto: RODGER BOSCH/AFP
Hamilton Mourão
O vice-presidente, Hamilton Mourão, anunciou no final de dezembro de 2020 que havia testado positivo para a covid-19. Ele ficou 12 dias em isolamento no Palácio do Jaburu, em Brasília. Antes de receber o diagnóstico, o vice-presidente teve dor no corpo, dor de cabeça e febre que não passou de 38 graus. Em março de 2021, ele recebeu a primeira dose da Coronavac.
Foto: Sergio Lima/AFP
Larry King
O lendário apresentador de TV americano Larry King morreu em janeiro de 2021, em decorrência da covid-19. Ele tinha 87 anos e comandava um tradicional programa de entrevistas na CNN há mais de duas décadas.
Foto: Radovan Stoklasa/REUTERS
Alberto Fernández
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, de 62 anos, anunciou no começo de abril de 2021 que contraiu o coronavírus. Segundo a Unidade Médica Presidencial, ele não teve sintomas, graças à imunização pela vacina russa Sputnik V, recebida dois meses antes.