Visita à Arábia Saudita marca estreia de Trump no exterior
19 de maio de 2017
Em primeira viagem como presidente para fora dos EUA, bilionário quer unir muçulmanos contra o radicalismo islâmico e reatar laços com sauditas, abalados durante governo Obama. Venda de armamentos também está nos planos.
Anúncio
Seus conselheiros já estão falando de uma "viagem histórica". Donald Trump é o primeiro presidente dos Estados Unidos desde Jimmy Carter que não visita Canadá ou México em sua primeira viagem ao exterior. Em vez disso, escolheu a Arábia Saudita – longe dos problemas domésticos, que se agravam cada vez mais.
"Isso é curioso", avalia Elliott Abrams, do influente think thank americano Council on Foreign Relations. "Durante a campanha, Trump disse que os EUA deveriam se retirar de todos os conflitos no Oriente Médio. E agora, sua primeira viagem ao exterior o leva exatamente ao Oriente Médio."
Discurso contra islã radical
O presidente viaja à região nesta sexta-feira (19/05) para "unir o mundo muçulmano contra os inimigos comuns", diz a Casa Branca. A partir de sábado, ele se reunirá com o rei Salman bin Abdulaziz, da Arábia Saudita, e outros membros da família real e participará de uma reunião dos Estados do Golfo.
Também está planejado um discurso contrário ao islã radical diante de chefes de Estado de cerca de 50 países árabes e muçulmanos. Eles foram especialmente convidados a Riad para se reunir com o presidente americano.
O próprio Trump se mostra, como sempre, bastante confiante. "Na Arábia Saudita, vou falar com os líderes muçulmanos e exortá-los a lutar contra o ódio e o extremismo e a pavimentar o caminho para um futuro de paz de sua religião", anunciou, acrescentando que em Riad as pessoas certamente já esperam ansiosas para ouvir sua mensagem.
Entusiasmo no Golfo
Na verdade, os governantes do Golfo Pérsico se mostraram entusiasmados com a gestão Trump – apesar de suas declarações antimuçulmanas durante a campanha eleitoral e de suas tentativas de proibir a entrada de cidadãos de sete países predominantemente muçulmanos.
"Com Trump, vamos ver um retorno a uma política externa mais tradicional dos Estados Unidos no Oriente Médio, em contraste com a política de Barack Obama", opina Nile Gardiner, do think tank conservador americano Heritage Foundation, instituição que assessora o governo dos Estados Unidos em questões de política externa e doméstica.
"Obama negligenciou importantes aliados dos EUA na região", critica Gardiner. "Com sua política para o Irã, ele causou danos permanentes, especialmente nas relações com os sauditas", acrescenta. O antecessor de Trump criticou repetidamente o governo saudita por sua promoção do islã fundamentalista e por causa de numerosas violações dos direitos humanos.
"O objetivo da viagem é renovar a parceria entre os EUA e a Arábia Saudita e assegurar aos sauditas que os EUA estão determinados a combater de forma agressiva a influência desestabilizadora do Irã na região", afirma Gardiner.
Ele ressalta que os sauditas estão ansiosos para cooperar com os americanos e que precisam agora mais fortemente dos EUA como garantia da segurança na região do que os EUA precisam da Arábia Saudita.
Direitos humanos em segundo plano
"As relações de Trump com a Arábia Saudita vão ser mais descontraídas do que sob Obama. Mas isso não é necessariamente bom para a política externa dos EUA", critica Emma Ashford do think tank Cato Institute.
"A administração Obama achou importante se empenhar pela defesa dos direitos humanos e das mulheres e da sociedade civil. Já Trump deixa claro que esta não é uma prioridade para ele", acrescenta.
Em seu discurso em Riad, o presidente dos EUA não vai se dirigir ao povo do mundo árabe, mas exclusivamente a seus líderes – ao contrário de seu antecessor em 2009, no Cairo. Ashford ressalta que questões controversas, como violações dos direitos humanos deverão ser tratadas, quando muito, só atrás de portas fechadas. "Essa parece ser a base da política externa de Trump", ressalta.
O presidente dos EUA também leva na bagagem uma mensagem para seus simpatizantes – ele, que gosta de se apresentar como o fazedor de negócios. Espera-se que, durante sua visita a Riad, ele feche contratos de venda de armamentos no valor de 100 bilhões de dólares com a Arábia Saudita. Um dos conselheiros do presidente afirma que a viagem mostra que a política "America First" de Trump é compatível com a liderança americana no mundo.
Depois de Riad, Trump segue para Jerusalém, Belém, Roma, Bruxelas e Sicília, na Itália, encerrando a viagem de oito dias em 27 de maio.
Os decretos de Donald Trump
Donald Trump estremeceu o cenário político em seus primeiros dias como presidente dos EUA com uma série de decretos e memorandos impactantes. Entenda a diferença e o significado de cada um deles.
Foto: picture-alliance/dpa/Sachs
Forma rápida de cumprir promessas eleitorais
Com menos de duas semanas na presidência, Donald Trump emitiu 17 medidas executivas. Embora este número em si não seja significativo – no mesmo período Barack Obama assinou praticamente o mesmo número de ordens – o conteúdo dos decretos de Trump é. Parece que o novo presidente dos EUA quer implementar muitas de suas promessas de campanha – incluindo as controversas - o mais rápido possível.
Foto: Reuters/K. Lamarque
O que são ordens executivas e memorandos?
As ações executivas (EA) permitem que o presidente dos EUA dê ordens que não precisam de aprovação do Congresso a agências governamentais, contornando o processo legislativo e acelerando sua implementação. Ordens executivas são uma forma mais abrangente de EA que muitas vezes lidam com diretrizes organizacionais maiores, enquanto memorandos presidenciais ordenam agências específicas a fazer algo.
Foto: picture-alliance/CNP/A. Harrer
Enfraquecer Obamacare (ordem executiva)
A primeira ordem executiva assinada por Trump foi uma para retardar partes do Affordable Care Act (Obamacare) para "minimizar encargos regulatórios". Enquanto Trump sozinho não pode revogar a legislação instituída por Obama, ele pode minar a implementação do programa de saúde enquanto a maioria republicana no Congresso se prepara para revogá-lo.
Foto: Reuters/J. Rinaldi
Retirar subsídio para aborto (memorando)
Trump reinstituiu uma política que impede o financiamento federal para ONGs que fornecem aconselhamento sobre aborto e defendem o direito ao aborto. Essa diretriz tem uma longa história: foi inicialmente instaurada pelo republicano Ronald Reagan, rescindida pelo democrata Bill Clinton, reinstituída pelo republicano George W. Bush, antes de ser reativada pelo democrata Barack Obama.
Foto: REUTERS/A. P. Bernstein
Deportação de imigrantes (ordem executiva)
Trump ordenou que os agentes de imigração expandissem o escopo das deportações. Ele visa retirar concessões federais das chamadas cidades-santuário (onde imigrantes sem documentos não são processados) e que imigrantes suspeitos de um crime sejam detidos, mesmo sem acusação. Trump pretende contratar 10 mil novos agentes e publicar um relatório sobre crimes cometidos por imigrantes sem documentação.
Foto: picture alliance/AP Images/G. Bull
Construir o muro (ordem executiva)
Numa ordem executiva assinada em 25 de janeiro, Trump solicitou "a construção imediata de um muro físico", a fim de proteger a fronteira entre México e EUA. Ele também se referiu aos imigrantes sem documentos como "deportáveis", dizendo que o Poder Executivo deve "acabar com o abuso das disposições de liberdade condicional e refúgio usadas para impedir a remoção legal de estrangeiros deportáveis."
Foto: Getty Images/AFP/S. Huffaker
Veto a muçulmanos (ordem executiva)
Trump assinou este controverso decreto em 27 de janeiro. Ele proibiu pessoas de sete países de maioria muçulmana de entrar nos EUA por três meses, suspendeu indefinidamente o programa de refugiados sírios e suspendeu a admissão de refugiados por 120 dias. Protestos contra a ordem estouraram em todo o país e até mesmo os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham criticaram a medida.
Foto: DW/M. Shwayder
EUA deixam TPP (memorando)
Não foi nenhuma surpresa Donald Trump ter abandonado a Parceria Transpacífico (TPP). Durante a campanha, ele criticou frequentemente o TPP e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), afirmando que outros países se beneficiaram desses acordos comerciais, em detrimento dos EUA. O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, disse que Trump prefere lidar individualmente com os países.
Foto: Getty Images/AFP/
Sinal verde para oleodutos (memorando)
Três memorandos diferentes – um sobre a construção do oleoduto Dakota Access, outro sobre a continuação da construção do oleoduto Keystone e uma terceira ordem sobre o uso de materiais americanos nas obras – foram emitidos no quarto dia de Trump no governo. Obama tinha negado licenças para ambos os oleodutos após protestos em massa de ambientalistas, que temem o impacto de eventuais vazamentos.
Foto: REUTERS/S. Keith
Expandir as Forças Armadas (memorando)
Trump cumpriu sua promessa eleitoral de investir num Exército maior ao assinar na sua primeira semana no cargo um memorando que pede mais tropas, navios de guerra e um arsenal nuclear modernizado. Quatro dias antes ele ordenou congelar a contratação de civis em agências federais por até 90 dias, para que seu governo possa desenvolver um plano de longo prazo para encolher a força de trabalho.
Foto: Reuters/K. Pempel
Steve Bannon no NSC (memorando)
Trump ordenou uma revisão do Conselho de Segurança Nacional (NSC) para elevar o papel de Stephen Bannon. Trump retirou vários membros do painel responsável por tomar decisões de política externa, enquanto seu estrategista-chefe – conhecido por opiniões de extrema direita – servirá no comitê geralmente preenchido por generais. Isso rompe com a norma de longa data de não nomear políticos para o NSC.
Foto: pciture-alliance/AP Photo/E. Vucci
Desregulamentações (executiva e memorando)
Trump quer que agências federais eliminem ao menos duas normas para cada nova regulamentação e ordenou o congelamento de regulamentações federais, até que um chefe de departamento designado por ele possa revisá-las. Ele também pediu pela rápida aprovação de "projetos de infraestrutura de alta prioridade". Na campanha, Trump disse que o "excesso de regulamentações" feriu o comércio americano.
Foto: Getty Images/AFP/M. Ralston
Precedente presidencial
Obama emitiu um total de 277 ordens executivas – uma média de quase três por mês e um pouco menos do que seu antecessor, George W. Bush (291). Obama assinou 644 memorando presidenciais para contornar imposições no Congresso – um precedente do qual Trump aparenta estar tirando proveito, embora a maioria em ambas as Casas do Congresso seja republicana.