Ao discursar para funcionários da recém-reaberta embaixada dos Estados Unidos em Havana, presidente americano fala em construir novos laços entre os dois países. Multidão aplaude líder dos EUA durante tour pela cidade.
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Obama é recebido com aplausos em Havana
02:08
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, foi recebido neste domingo (20/03) com aplausos em Havana, onde inicia uma visita de 48 horas a Cuba, após décadas de hostilidades entre os dois países. É a primeira vez que um líder americano visita a ilha caribenha em 88 anos.
Como parte de um tour pela capital cubana, Obama e sua família visitaram a Catedral de Havana. Uma multidão reunida na praça diante da igreja aplaudiu o presidente americano, gritando seu nome. Obama cumprimentou alguns cidadãos cubanos antes de entrar na catedral.
Ao discursar para funcionários da recém-reaberta embaixada dos Estados Unidos em Havana, reunidos num hotel, Obama classificou a visita de histórica. "É uma oportunidade histórica de fazer contato direto com o povo cubano, de estabelecer novos acordos comerciais e de construir novos laços entre nossos povos. E, para mim, é uma oportunidade de apresentar minha visão de futuro, que é mais brilhante que nosso passado."
Após a polêmica envolvendo a ausência do presidente cubano, Raúl Castro, no momento em que Obama aterrissou no Aeroporto Internacional Jose Martí, em Havana, a Casa Branca disse que não há motivo para considerar a ausência uma ofensa.
Ben Rhodes, conselheiro de segurança de Obama, afirmou que a presença de Castro no aeroporto nunca foi considerada ou discutida. Ele afirmou que os cubanos consideram a cerimônia marcada para a manhã desta segunda-feira, com Obama e Castro presentes, o evento oficial de boas-vindas.
A visita teria sido impensável até Obama e Castro concordarem, em dezembro de 2014, em acabar com um distanciamento que começou quando a revolução cubana derrubou um governo pró-Estados Unidos, em 1959. Os dois países reataram as relações diplomáticas em julho passado.
Embargo comercial
Apesar da reaproximação, o embargo comercial imposto pelos EUA durante a Guerra Fria ainda pesa sobre a ilha, com poucas perspectivas de que seja removido pelo Congresso americano, dominado pelo Partido Republicano.
O governo dos EUA, porém, realizou mudanças regulatórias para permitir o comércio e viagens entre os dois países. Depois de Cuba, o presidente americano visitará, nos dias 23 e 24 de março, a Argentina.
Horas antes da chegada de Obama, a polícia cubana deteve dezenas de militantes do movimento dissidente Damas de Branco, criado por mulheres de opositores ao regime comunista, após o desfile que realizam todos os domingos.
Nesta segunda-feira, além da reunião com Raúl Castro, Obama visita o Memorial José Martí. Um encontro com Fidel Castro não está previsto. O momento mais aguardado por muitos em Cuba acontecerá nesta terça-feira, quando o presidente americano fará um discurso, transmitido pela TV, no qual falará diretamente ao povo cubano.
LPF/rtr/ap/efe
EUA e Cuba: crônica da rivalidade
Desde a Revolução Cubana, em 1959, Cuba e os Estados Unidos estão em disputa, que já envolveu mercenários, bloqueios navais, sanções econômicas, criminosos e carros de boi.
Foto: picture-alliance/dpa
Bordel dos EUA
Antes da revolução, Cuba era, para muitos americanos, sinônimo de jogos de azar, casas noturnas e outros tipos de entretenimento – como um jantar no Havana Yacht Club (foto). "Cuba era o bordel dos EUA", definiu mais tarde o cientista político americano Karl E. Meyer. Para a população, a ditadura de Fulgencio Batista, no entanto, significava principalmente estagnação, desemprego e pobreza.
Para derrubar o regime já falido, Fidel Castro precisa de apenas um exército de guerrilha de algumas centenas de homens. Em 1° de janeiro de 1959, Batista foge de Cuba, e os rebeldes tomam Havana. Os EUA impõem sanções imediatamente, que vão sendo intensificadas nos anos seguintes. A liderança cubana, então, recorre à União Soviética.
Foto: picture-alliance/dpa
Fiasco na Baía dos Porcos
Uma tropa mercenária de cubanos exilados tentou derrubar o regime em 1961, com ajuda da CIA. A operação foi um fiasco. O Exército Revolucionário Cubano acaba com a invasão na Baía dos Porcos dentro de três dias, afirmando ter feito mais de mil prisioneiros.
Foto: AFP/Getty Images/M. Vinas
À beira de uma guerra nuclear
Devido ao relacionamento abalado entre EUA e Cuba, a União Soviética, passa, de repente, a dispor de uma base localizada a apenas cerca de 150 quilômetros dos Estados Unidos. O Kremlin quer estacionar mísseis na ilha. E, em 1962, a crise cubana deixa o mundo à beira de uma guerra nuclear. Com um bloqueio naval, os Estados Unidos impedem o transporte dos mísseis.
Foto: picture-alliance/dpa
Saúde e educação exemplares
A União Soviética não poupa esforços. Por décadas, Cuba é fortemente subsidiada, recebendo, entre outras coisas, petróleo bruto, que é reexportado pela ilha para obtenção de divisas. Cuba consegue, assim, construir sistemas de saúde e de educação exemplares.
Foto: picture-alliance/dpa
O êxodo dos marielitos
Em 1980, Fidel Castro permite que emigrantes deixem o país a partir do Porto de Mariel, com destino aos Estados Unidos. Cerca de 125 mil cubanos chegam à Flórida. Entre eles, estão alguns que haviam sido libertados pela administração cubana de prisões e hospitais psiquiátricos. A taxa de criminalidade em Miami aumenta drasticamente.
Foto: picture-alliance/Zuma Press/T. Chapman
Dependência açucarada
Por décadas, o embargo dos EUA limita a economia cubana de forma maciça. Além disso, não ocorre diversificação alguma. A cana-de-açúcar permanece sendo, mesmo após a revolução, o principal produto de exportação da ilha. Cuba continua totalmente dependente da assistência da União Soviética, algo que fica bastante claro a partir de 1990.
Foto: AFP/Getty Images/N. Barroso
"Período especial em tempo de paz"
Com o colapso da União Soviética, vem a quebra da economia cubana. Tudo passa a faltar. Fidel Castro declara a época de choque da economia cubana, a partir de 1990, como o "Período Especial em Tempos de Paz". Na ausência de combustível e peças de reposição, bois passam a ser usados como meio de transporte. Desde o final da década de 1990, a Venezuela fornece petróleo a preço baixo ao país.
Foto: AFP/Getty Images/A. Roque
O vai e vem das sanções
Desde 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas apela todos os anos para que os EUA acabem com sua política de embargo. Os EUA apertam e desapertam os parafusos das retaliações de tempos em tempos. Assim, as regulamentações do bloqueio ficam mais rigorosas em 1996 e mais relaxadas em 1999. Em 2004, o presidente George W. Bush endurece as sanções.
Foto: Getty Images/J. Raedle
Um novo capítulo se inicia
Após a libertação do prisioneiro americano Alan Gross e de três agentes cubanos presos nos EUA desde 1998, Raúl Castro e Barack Obama surpreendem o mundo ao anunciar, no dia 17 de dezembro de 2014, que normalizarão as relações diplomáticas entre os dois países e reabrirão suas embaixadas. Obama amplia as exceções ao embargo econômico e comercial sobre a ilha.
Pouco mais de seis meses após o anúncio da retomada das relações diplomáticas, Obama anuncia em 1º de julho de 2015 a reabertura das embaixadas dos EUA e de Cuba em Havana e Washington dentro de alguns dias. Desde dezembro de 2014, passos tomados para a reaproximação incluem a retirada de Cuba da lista de países que financiam o terrorismo e a libertação de presos políticos pelo governo cubano.