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Visita aos porões do comunismo

(sv)19 de dezembro de 2002

Exposição relembra em Berlim o passado do serviço secreto da ex-Alemanha Oriental, reconstruindo colagens feitas pelos chefes da antiga polícia política Stasi.

Arsenal de aparelhos de escuta e culto a LeninFoto: Presse

Expostos estão objetos confiscados pelos agentes secretos de então: um rádio de comunicação apreendido em poder de um espião norte-americano, ou uma simples chave de fenda – supostamente destinada a servir de arma – encontrada dentro do sapato de um "suspeito".

Prova de poder – Mostrados pela primeira vez em meados dos anos 80, os objetos, ao lado de chavões e palavras de ordem em prol do comunismo, foram meticulosamente preparados, no decorrer de dois anos, por funcionários da Stasi, a polícia política da ex-Alemanha Oriental. O objetivo: mostrar ao povo a eficácia da espionagem empreendida pelo aparelho estatal.

Hoje, 13 anos após a queda do Muro de Berlim, num tempo em que a guerra fria já se tornou mero verbete enciclopédico, os fantasmas da Alemanha de regime comunista vêm mais uma vez à tona. No Museu da Stasi (abreviatura para o Ministério da Segurança Estatal), em Berlim, a mesma exposição, detalhadamente reconstruída, permite ao visitante testemunhar o universo bizarro do serviço secreto de então.

Amizade a Lenin –

"É impressionante o que eles fizeram", afirma Jörg Drieselmann ao diário Der Tagesspiegel, ao comentar os trabalhos de colagem feitos pelos poderosos chefões da polícia política. A mostra é uma réplica do que um dia, no mesmo lugar, foi mostrado como prova do "sucesso no combate aos inimigos do Estado". Fotos e artigos recortados de jornais anunciam a "amizade inquebrável com a terra de Lenin" e a importância do trabalho da Stasi na patrulha da fronteira entre as duas Alemanhas.

O próprio Museu da Stasi nasceu a partir da iniciativa de ex-combatentes da ditadura do regime comunista, que ocuparam a sede do órgão pouco depois da queda do Muro. Dali, da "casa número um" na Normannenstrasse, no bairro Lichtenberg, eram distribuídas as tarefas a cerca de 15 mil funcionários do aparelho de espionagem. Hoje, são exatamente os perseguidos de então que organizam seminários e exposições informativas sobre a atuação da Stasi.

Poder e kitsch –

O museu expõe desde o kitsch dos móveis da "suíte de Mielke" (Erich Mielke, o poderoso chefão do organismo), num espelho do mais primitivo esforço em demonstrar poder sobre "seus súditos", até máscaras de adoração a Lenin.

Documentos sobre a resistência popular ao comunismo na Europa (incluindo aí a rebelião alemã de 1953 e a Primavera de Praga em 1968) estão presentes, ao lado de imagens da queda do Muro de Berlim e da invasão por ativistas políticos da sede da Stasi, ocorrida em janeiro de 1990.

Resquícios do passado – Hoje, no antigo Comitê Central do SED (o partido único da antiga Alemanha Oriental), reside o atual Ministro das Relações Exteriores. O prédio que servia de sede para o Conselho de Estado da RDA (a comunista República Democrática Alemã) deve tornar-se em breve uma escola superior de elite, que oferece cursos em Administração de Empresas e Finanças.

Dos espaços históricos da Berlim Oriental, o Museu da Stasi, ao expor a anatomia da ditadura comunista, talvez seja o último testemunho autêntico que possibilite hoje uma visita aos porões do regime de então.

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