Vocação divina em xeque
24 de novembro de 2005A Igreja Católica Apostólica Romana não permitirá a presença de homossexuais em funções religiosas dentro da instituição. Homens com esta "inclinação" podem esquecer o chamado divino: a vocação para ser padre está fora de cogitação. O porquê? Atos de caráter homossexual são um pecado gravíssimo e contra as leis da natureza.
Tais afirmações fazem parte do documento preparado há vários anos pela Congregação para a Educação Católica e que é dirigido a bispos e aos diretores dos seminários. A aprovação pelo papa Bento 16 ocorreu no dia 31 de agosto, embora só tenha sido divulgada nesta semana.
Trata-se da "Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional das pessoas com tendências homossexuais em vista à sua admissão no seminário e nas Ordens Sagradas", assinada pelo prefeito regional da Congregação para a Educação Católica, o cardeal Zenon Grocholewski, em 4 de novembro.
Para os partidos Liberal, Verde e a Associação de Gays e Lésbicas na Alemanha (LSVD), o posicionamento do Vaticano é passível de duras críticas. Ao contrário, a Conferência dos Bispos da Alemanha apóia a medida.
Exceção da regra
Dessa forma, a Igreja poderia barrar a entrada "dos impuros" em seminários, que apresentem tendências homossexuais ou apóiem a cultura gay. Estão fora da lista negra do Vaticano sacerdotes na ativa. Vale apenas para seminaristas e aspirantes à vida religiosa.
Há, ainda, outra brecha na determinação. Apesar de rejeitar homossexuais e simpatizantes, candidatos ao sacerdócio que tenham abandonado as "tendências" por pelo menos três anos têm mais uma chance. Conforme o texto, "se o problema for transitório, deverá ser superado neste espaço de tempo".
O argumento para a restrição é que "tais pessoas se encontram em situação que representa um obstáculo para o relacionamento correto entre homem e mulher", explica o documento. "Essas pessoas devem ser amparadas com respeito e delicadeza, e não ser objeto de injusta discriminação", complementa o texto.
Leia a seguir: críticas à determinação do Vaticano
Em caso de dúvida
O documento destaca que a idoneidade dos futuros sacerdotes é uma competência da Igreja. A valorização deverá ser dada às "faculdades requeridas" para a função. Em caso de "dúvidas sérias", o candidato não pode ser ordenado.
Entre as "faculdades exigidas", é preciso comprovar "a maturidade afetiva", "a prática da castidade" e que o candidato "não sofra de transtornos sexuais incompatíveis com o sacerdócio".
Chuva de críticas
A Conferência dos Bispos da Alemanha é enfática quando comenta o assunto. "Na regra, o procedimento em nossas convicções teológicas e no seminário neste sentido já acontece há muito tempo", comunica a entidade. E aí começam as críticas.
Volker Beck, presidente do Partido Verde, alerta o Vaticano para uma reprovação generalizada dos homossexuais. Para o deputado Hans-Michael Goldmann (Partido Liberal Democrata), "quando o Vaticano exige mais de aspirantes homossexuais do que de heterossexuais, está generalizada a discriminação".
Opinião compartilhada pelo grupo americano Católicos pela Livre Escolha, que vê na determinação, um episódio triste da Igreja. Segundo a entidade, "homens fiéis e bons estão sendo excluídos. A organização Campanha dos Direitos Humanos que luta pelos homossexuais na sociedade, culpa o Vaticano de usar os gays como bodes expiatórios para os escândalos ocorridos nos últimos anos.
Porcentagem alemã
A proibição do Vaticano em relação à ordenação de homossexuais não é nova. Em um documento de 1961, a instituição deixa claro que candidatos gays ao sacerdócio seriam barrados.
Medida que precisou ser repensada (e agora reforçada) devido aos escândalos sexuais envolvendo padres pedófilos e homossexuais em vários países, em particular nos Estados Unidos. Mesmo com o aumento nas barreiras para a entrada de gays na vida religiosa, não foi possível evitar o ingresso dos "não-desejados".
Enquanto nos Estados Unidos cerca de 50% dos candidatos à vida celibatária ou padres já ordenados afirmam sua homossexualidade, os números na Alemanha se apresentam mais tímidos: entre 20 e 30%.