O governo da França caiu e do da Alemanha também ruiu. Enquanto as duas potências europeias enfrentam desordem política e contração econômica, Donald Trump se prepara para assumir o poder.
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A última quarta-feira (04/12) foi um longo dia para o primeiro-ministro francês que menos tempo ocupou o cargo. À noite, o governo minoritário de Michel Barnier, de 73 anos, foi derrubado em um voto de desconfiança na câmara baixa francesa, a Assembleia Nacional, que viu adversários tanto da esquerda como da extrema direita se unirem contra ele.
"Essa moção de desconfiança tornará tudo mais sério e mais difícil. É disso que tenho certeza", sentenciou Barnier antes da votação. Na manhã de quinta-feira, ele apresentou oficialmente sua renúncia – mas continuará como primeiro-ministro interino até que um novo governo seja formado.
O presidente francês, Emmanuel Macron, não perdeu tempo e em poucas horas estava sondando candidatos ao cargo. Macron tem rebatido pedidos para que ele mesmo renuncie, o que não é inédito em sua trajetória, agora no segundo mandato presidencial, que expira em 2027.
O que vem a seguir para a França?
Macron nomeou Barnier em setembro, uma indicação considerada pouco provável pela baixa relevância eleitoral do seu partido, o conservador Republicanos. Assim, o governo esperava pôr fim a meses de incerteza política. O presidente havia convocado eleições legislativas antecipadas que, em julho, deixaram a Assembleia Nacional dividida em três grupos, nenhum deles forte o suficiente para governar sozinho.
Uma ampla coalizão de esquerda, a Nova Frente Popular, venceu as pesquisas, mas o partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, obteve o maior número de votos como partido único.
A aliança centrista e pró-mercado "Ensemble", de Macron, não quis trabalhar com nenhum dos dois. Em vez disso, eles formaram um governo minoritário com o Partido Republicano de direita de Barnier, apesar de seu desempenho historicamente ruim.
No cargo, o conservador Barnier fez das finanças da França uma de suas prioridades. A relação entre a dívida do país e o Produto Interno Bruto (PIB) está o dobro do permitido pelas regras da União Europeia – em 6,1% atualmente. O desequilíbrio fiscal levou a França e integrar o rol de países que foram oficialmente repreendidos pela Comissão Europeia.
Barnier propôs um orçamento para 2025 e uma reforma da previdência social que teria reduzido a dívida pública, mas exigiu aumentos de impostos e cortes de gastos que a esquerda e a extrema direita criticaram como medidas de austeridade que negligenciam as necessidades dos cidadãos. Ele apresentou ao parlamento uma escolha: votar a favor desse orçamento ou o governo cai. Eles escolheram a segunda opção, desencadeando a moção de desconfiança que o derrubou.
Número de deputados permanece inalterado na Assembleia Nacional
Não está claro o que está por vir para a França, que nunca havia experimentado esse nível de volatilidade política desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
O equilíbrio de poder na Assembleia Nacional permanece o mesmo. Ela está dividida em três blocos que relutam em fazer coalizão entre si. A formação do governo parece tão difícil quanto em julho. Macron deixou claro que ficará, e novas pesquisas legislativas não poderão ser convocadas até meados de 2025.
Quem seguir Barnier como primeiro-ministro estará em uma posição igualmente fraca, lutando para que sua visão política seja aprovada pelo parlamento francês. De acordo com o sistema presidencial do país, a maior parte do poder está concentrada nas mãos de Macron, embora ele pareça ter um controle cada vez menor.
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Tempos difíceis pela frente para Paris e Berlim
Para a Europa, tudo isso provavelmente significa uma França mais preocupada e uma possível desaceleração de decisões coletivas importantes.
"Precisamos de um governo francês que trabalhe para que a legislação europeia também seja aprovada, portanto, quanto mais rápido tivermos um governo, melhor", disse à DW Sophie Pornschlegel, do Centro Jacques Delors, um think tank em Berlim.
O período de três meses em que a França ficou sem governo antes da nomeação de Barnier não causou muitos problemas, observou ela, mas esse período foi menos crucial porque a nova Comissão Europeia ainda não havia tomado posse.
No entanto, Pornschlegel também advertiu que não se deve ser muito alarmista: "Há também a possibilidade de que não seja uma crise política tão grande, porque eles formarão um novo governo com relativa rapidez."
Ao mesmo tempo, a Alemanha também está em "modo de espera". O chanceler federal Olaf Scholz deu um tempo em seu incômodo governo de coalizão no mês passado, com eleições marcadas para fevereiro. Um novo governo deve tomar posse em Berlim até junho. Até lá, é provável que o governo se abstenha de tomar decisões políticas ousadas.
"É uma má notícia. O que precisamos em tempos de crise e de turbulência geopolítica é ter uma liderança forte e estável", disse Pornschlegel.
A Alemanha e a França também enfrentam uma perspectiva econômica sombria. Em novembro, o banco de investimentos Goldman Sachs previu que ambos os países – as duas maiores economias da zona do euro – sofreriam uma contração econômica em 2025, embora o mercado único, intimamente interligado, como um todo, evitasse a recessão.
"Apesar desses desafios, os dados de atividade econômica da zona do euro indicam um crescimento modesto, mas positivo", escreveu o economista Sven Jari Stehn.
Trump 2.0 no horizonte
Paris e Berlim são normalmente considerados o principal eixo de poder na União Europeia (UE), conduzindo políticas e definindo os principais contornos da agenda do bloco de 27 membros. Suas preocupações internas emergem em um momento crítico.
Em janeiro, Donald Trump retornará à Casa Branca para um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Para a UE, isso provavelmente significa o retorno da escalada das tarifas, o que significa más notícias para a indústria automobilística alemã em particular.
No âmbito da Otan, os Estados europeus podem esperar críticas regulares de Washington por gastos menores com defesa, o que equivale a uma percepção de parasitismo do poderio militar dos EUA. Trump já havia ameaçado deixar membros da aliança militar sob ataque se defenderem sozinhos caso não gastassem o suficiente em suas Forças Armadas.
O presidente eleito republicano "America First" também disse que encerrará rapidamente a guerra na Ucrânia, pressionando Kiev a negociar com Moscou. Se Trump retirar o apoio militar dos EUA à Ucrânia, a UE será pressionada a se esforçar muito para preencher essa lacuna.
Para Pavel Zerka, do Conselho Europeu de Relações Exteriores, independentemente do que esteja acontecendo em Paris e Berlim, o retorno de Trump significa que os demais devem se mobilizar. "Os europeus simplesmente precisam assumir uma parcela maior do ônus quando se trata de defender a Europa e apoiar a Ucrânia", disse ele à DW.
"Certamente, uma participação francesa enfraquecida nessas discussões será sentida. Mas isso significa simplesmente que outros países precisarão assumir um papel maior, sair da sombra e de suas zonas de conforto."
O mês de dezembro em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Anas Alkharboutli/dpa/picture alliance
"O ódio não pode ter a palavra final", diz presidente alemão em discurso de Natal
Em seu tradicional discurso de Natal à nação, o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, abordou o ataque a um mercado de Natal em Magdeburg na semana passada, que deixou cinco mortos. Pedindo união e coesão ao país, Steinmeier se solidarizou com as famílias das vítimas e os feridos e afirmou que "ódio e a violência não podem ter a palavra final". (24/12)
Equipes buscam desaparecidos após colapso de ponte sobre o Rio Tocantins
Equipes de resgate buscam 14 desaparecidos após a Ponte Juscelino Kubitschek, que liga os estados do Tocantins e do Maranhão, colapsar no último domingo, provocando a queda de 10 veículos. Ao menos três mortes foram confirmadas até o momento. Devido ao derramamento de produtos tóxicos no acidente, autoridades proibiram o uso da água do Rio Tocantins em 19 municípios. (23/12)
Foto: Bombeiro Militar/Governo do Tocantins
Queda de avião em Gramado mata empresário e 9 familiares
Um avião de pequeno porte caiu no município de Gramado, no Rio Grande do Sul. A aeronave atingiu uma loja de móveis, uma pousada e residências perto do centro da cidade. Os dez ocupantes da aeronave morreram. Todos eram da mesma família. Outras 17 pessoas que estavam no solo foram encaminhadas a um hospital, duas delas em estado grave. (22/12)
Foto: Defesa Civil do Rio Grande do Sul/Divulgação
Magdeburg tem dia de homenagens e protestos após ataque
Centenas de pessoas homenagearam as vítimas de um atentado que deixou 5 mortos e 200 feridos em Magdeburg. O suspeito do crime é um médico saudita de 50 anos, que se dizia ex-muçulmano, alegava ser perseguido por radicais religiosos e simpatizava com a ultradireitista AfD. Em resposta, manifestantes ocuparam as ruas da cidade com slogans anti-imigração. (21/12)
Foto: Michael Probst/AP/picture alliance
Motorista invade mercado de Natal na Alemanha e atropela dezenas
Um motorista avançou em alta velocidade contra um mercado de Natal na cidade alemã de Magdeburgo, no estado da Saxônia-Anhalt, leste da Alemanha, atropelando dezenas de pessoas e deixando mortos e feridos. O suspeito, um médico psiquiatra saudita de 50 anos, foi preso. Aparentemente, ele tinha perfil crítico ao islã. (20/12)
Foto: Heiko Rebsch/dpa/picture alliance
Ex-marido de Gisèle Pelicot é condenado a 20 anos de prisão
Dominique Pelicot, que passou uma década dopando sua então esposa, Gisèle, e convidando outros homens a estuprá-la, foi condenado a 20 anos pela Justiça francesa. Ele foi considerado culpado por estupro com agravantes e por gravar e distribuir imagens dos atos. Gisèle tornou-se um ícone feminista global ao decidir tornar público o julgamento e assistir às sessões com o rosto descoberto. (19/12)
Foto: Laurent Coust/ABACA/picture alliance
Macron e Zelenski discutem envio de tropas europeias à Ucrânia
Presidentes da Franca, Emmanuel Macron, e da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltaram a discutir possibilidade de a Europa enviar tropas para a Ucrânia no intuito de ajudar a alcançar uma paz estável. "Garantias confiáveis são essenciais para que a paz possa realmente ser alcançada”, disse Zelenski, que também se reuniu com chefe da Otan, Mark Rutte, em Bruxelas. (18/12)
Foto: Nicolas Tucat, Pool Photo via AP/picture alliance
General russo morre em explosão em Moscou
O general Igor Kirillov, chefe da defesa radiológica, química e biológica da Rússia, foi morto num ataque a bomba em Moscou. A bomba foi acionada quando Kirillov, de 54 anos, estava saindo de uma casa com seu assessor, que também foi morto no atentado. Investigadores citados pelo jornal Kommersant apontaram os serviços secretos ucranianos como os possíveis autores do ataque. (17/12)
Foto: ASSOCIATED PRESS/picture alliance
Olaf Scholz perde moção de confiança
O chanceler alemão Olaf Scholz perde voto de confiança no Bundestag (parlamento alemão) depois de não conseguir obter a maioria no Legislativo após o colapso de seu governo de coalizão. O resultado abre caminho para a dissolução da atual legislatura e a convocação de eleições federais antecipadas, que devem ocorrer em 23 de fevereiro, marcand o fim da era Scholz. (16/12)
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Escolas reabrem na Síria após queda do regime de Assad
Dezenas de crianças e adolescentes voltaram às escolas em Damasco neste domingo, uma semana após a queda do ditador Bashar al-Assad. A rotina também está lentamente voltando ao normal em universidades e nos centros comerciais, depois de um período de comemorações e incertezas sobre o futuro da Síria. (15/12)
Foto: Ammar Awad/REUTERS
PF prende general Braga Netto no inquérito do golpe
Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes mandou prender preventinamente o ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, acusado de tentar obstruir as investigações. Ele é tomado pela Polícia Federal como um dos coordenadores do plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aplicar um golpe de Estado. (14/12)
Foto: SERGIO LIMA/AFP
Multidão toma as ruas de Damasco para celebrar queda de Assad
Milhares de pessoas se reuniram em cidades sírias para celebrar o fim do regime de Bashar al-Assad após as primeiras orações de sexta-feira desde que os rebeldes assumiram o poder. Em Damasco, uma multidão se reuniu na praça Umayyad, no centro da capital. O local é simbólico por ter também recebido os protestos massivos de 2011, que deram início à guerra civil no país. (13/12)
Foto: Ghaith Alsayed/AP/dpa/picture alliance
Trump é a Pessoa do Ano de 2024 da revista "Time"
Publicação cita "volta por cima de proporções históricas" ao justificar escolha e diz que republicano é beneficiário e agente da perda de confiança nos valores liberais. (12/12)
Foto: Heather Khalifa/AP Photo/picture alliance
Assembleia Geral da ONU pede cessar-fogo imediato, incondicional e permanente em Gaza
Por 158 votos favoráveis, órgão que reúne 193 países pediu o fim do conflito entre Israel e o Hamas no território palestino e a libertação imediata de todos os reféns sequestrados por islamistas. Mas diferentemente das votações no Conselho de Segurança, decisão não é juridicamente vinculativa. Conflito em Gaza já dura 14 meses, sem fim à vista. (11/12)
Foto: Mohammed M Skaik/Avalon/picture alliance
Rebeldes sírios anunciam novo governo de transição
Mohammad al-Bashir, que liderava o governo no reduto rebelde de Idlib, vai assumir gestão interina do país até 1º de março, mudando a liderança do país após 24 anos de regime de Bashar al-Assad. Novo primeiro-ministro é ligado ao grupo radical islâmico HTS. (10/12)
Foto: Omar Haj Kadour/AFP/Getty Images
STF obriga PM de São Paulo a manter uso de câmeras corporais
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, determinou a obrigatoriedade do uso de câmeras corporais pelos policiais militares do estado de São Paulo. A determinação é uma derrota para o governador Tarcísio de Freitas, que desde a campanha eleitoral se posicionou contra o uso dos equipamentos e vinha tentando propor modelos alternativos. (09/12)
Foto: FotoRua/NurPhoto/IMAGO
Rebeldes derrubam regime na Síria, e Assad foge para a Rússia
Após uma ofensiva que durou menos de duas semanas, insurgentes sírios liderados pelo grupo islamista Organização para a Libertação do Levante (HTS) chegaram à capital da Síria, Damasco, e a declararam "livre" do regime do presidente Bashar al-Assad. Citando fontes do Kremlin, veículos russos afirmam que o ditador e sua família estão asilados em Moscou. (08/12)
Foto: Louai Beshara/AFP
Restaurada, Catedral de Notre-Dame é reaberta cinco anos após incêndio devastador
Bancada por doações, reconstrução de monumento arquitetônico parisiense custou cerca de 700 milhões de euros e demandou o trabalho de cerca de 2 mil especialistas. Construída entre os séculos 12 e 14, catedral quase foi destruída em incêndio de causas desconhecidas. Solenidade foi prestigiada por chefes de governo e de Estado do mundo inteiro. (07/12)
Foto: Stevens Tomas/ABACA/IMAGO
Mercosul e União Europeia anunciam acordo de livre comércio
Após 25 anos de negociações, blocos concluíram texto final do acordo que prevê a redução ou eliminação de tarifas e barreiras comerciais, facilitando a exportação de produtos de ambos os lados. A líder da UE, Ursula von der Leyen (centro), disse que o pacto é uma "vitória para Europa". Ratificação deve, porém, esbarrar em resistência de países como a França. (06/12)
Foto: EITAN ABRAMOVICH/AFP/Getty Images
Após tomar Aleppo, Rebeldes avançam pela Síria e anunciam conquista de Hama
Islamistas apoiados pela Turquia fizeram seu mais rápido avanço em 13 anos de guerra civil no país. A captura de Hama vem após o enfraquecimento do Hezbollah, tradicional aliado do ditador sírio Bashar al-Assad, ao lado de Rússia e Irã. (05/12)
Governo da França é derrubado após moção de censura
Deputados de esquerda e da ultradireita se uniram para derrubar o governo do premiê francês, Michel Barnier, que assumiu o cargo há menos de 100 dias. Barnier enfrentava duas moções de censura, após usar um controverso mecanismo para forçar a aprovação do Orçamento. A primeira moção acabou sendo aprovada com 331 votos, selando o fim do governo do aliado do presidente Emmanuel Macron. (04/12)
Foto: Sarah Meyssonnier/REUTERS
Presidente sul-coreano impõe e depois desiste de lei marcial
O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, surpreendeu o país e o mundo ao decretar lei marcial em pronunciamento transmitido pela TV. Ele justificou a militarização do país como forma de conter uma "ameaça comunista". Horas depois, após protestos e uma votação unânime do Parlamento para derrubar medida, ele recuou e suspendeu lei. (03/12)
Foto: JUNG YEON-JE/AFP/Getty Images
Trabalhadores da Volkswagen entram em greve em toda a Alemanha
Milhares de trabalhadores da Volkswagen na Alemanha entraram em greve, depois que a empresa anunciou planos de fechar três fábricas e cortar aposentadorias. "Se necessário, esta será a disputa salarial mais dura que a Volkswagen já viu", disse Thorsten Gröger, que está liderando as negociações sindicais com a gigante automobilística alemã. (02/12)
Foto: Jens Schlueter/AFP via Getty Images
Regime sírio perde controle de Aleppo
O regime do ditador sírio Bashar al-Assad perdeu completamente o controle de Aleppo, a segunda cidade do país, informou uma ONG. Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), o grupo Hayat Tahrir al Sham, antigo ramo sírio da rede terrorista Al Qaeda, e outras facções rebeldes aliadas "controlam a cidade de Aleppo, com exceção dos bairros controlados pelas forças curdas". (01/12)